Um estudo feito na Faculdade de Odontologia de Bauru da USP (Universidade de São Paulo) aponta que grande parte dos pediatras não encaminha a fonoaudiólogos crianças com problemas no desenvolvimento da fala no período adequado.
O trabalho, publicado na "Revista Cefac - Atualização Científica em Fonoaudiologia e Educação", investigou conhecimentos e atitudes práticas de pediatras em relação à comunicação oral de crianças. De acordo com Luciana Paula Maximino, uma das autoras do trabalho, a ideia surgiu a partir da experiência na prática clínica.
"Comecei a deparar com muitos relatos de pais sobre o problema dos filhos em relação ao desenvolvimento da linguagem. A maior preocupação é que isso ocorria tardiamente, depois dos três anos de idade das crianças, o que torna a terapia mais longa e custosa", disse Luciana, professora do Departamento de Fonoaudiologia, à "Agência Fapesp".
"Até os três anos, a criança tende a falar 50% de todos os sons da língua portuguesa. É possível entender metade de tudo do que ela fala. Mas esse diagnóstico deveria ser feito antes. O período de um ano, para a criança, em termos de desenvolvimento da fala, é muito tempo", alertou Luciana.
Segundo a fonoaudióloga, por volta de um ano ou um ano e meio, se a criança não começar a produzir nenhum tipo de palavra ou som, os pais podem começar a suspeitar da existência de problemas.
Foram entrevistados 79 pediatras de São Paulo e Minas Gerais que responderam a um questionário com informações específicas sobre conhecimento das etapas do desenvolvimento da comunicação infantil, conduta diante de queixas de alterações da comunicação, encaminhamentos profissionais e método utilizado como avaliação.
O estudo apontou que 93,67% dos entrevistados mostraram "preocupação" com a idade que a criança deve falar corretamente nas consultas de rotinas, mas relataram que geralmente são os pais que questionam sobre o desenvolvimento da comunicação oral dos filhos.
A procura pelo médico se dá por iniciativa dos próprios pais ou por indicação da escola. "Atraso na aquisição da linguagem e distúrbios fonológicos - como troca de fonemas que impossibilitem a comunicação - são os problemas mais comuns e mais simples", explicou a fonoaudióloga.
Quando a criança apresenta distúrbios mais sérios, os casos são detectados mais rapidamente. Mas, segundo a pesquisadora, os exemplos tidos como simples não podem ser negligenciados.
Os pediatras, segundo o estudo, tendem a encaminhar pacientes para outra avaliação médica especializada, como otorrinolaringologista (45,56%) e neurologista (30,38%), mas apenas 15,19% dos entrevistados relataram encaminhar o paciente diretamente para o fonoaudiólogo.
Quanto aos procedimentos que utilizam durante a consulta de rotina para avaliar o desempenho da comunicação da criança, os pediatras relataram que esses procedimentos dependem da "queixa da família" (37,97%).
O estudo aponta ainda que os pediatras que trabalham ou trabalharam com um fonoaudiólogo, em sua maioria (64%), demonstram maior conhecimento da área.
"O médico pediatra que trabalha com o fonoaudiólogo acaba tendo um desempenho diferente. E nos questionários víamos muito essa diferença em relação àqueles que não tinham esse contato", disse Luciana. / *Com informações da Agência Fapesp
Fonte: Portal UOL