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Estudo aponta que índios xavantes vivem epidemia de diabetes (31 notícias)

Publicado em 18 de outubro de 2020

No Brasil, os Xavantes são uma das populações indígenas mais vulneráveis ao SARS-CoV-2, o novo coronavírus. Infelizmente, eles ainda sofrem com a epidemia de outra doença silenciosa, o diabetes. De acordo com o estudo apoiado pela FAPESP, neste grupo há uma alta prevalência de diabetes tipo 2 e de uma disfunção oftalmológica causada pela doença.

Os resultados foram obtidos a partir de exames da retina de 157 índios da etnia, realizados antes da pandemia do novo coronavírus. A pesquisa foi realizada por pesquisadores da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).

Dos 95 pacientes diagnosticados com diabetes não foi possível avaliar se 23 deles (24,2%) apresentavam retinopatia diabética devido à opacidade de tecidos transparentes dos olhos, como o cristalino, causada por catarata. Além disso, nos 72 índios cujas imagens obtidas da retina permitiram o diagnóstico de retinopatia diabética, os pesquisadores constataram que 16 apresentavam a doença e sete deles tinham risco de cegueira.

Os resultados foram publicados na revista Diabetes Research and Clinical Practice, da International Diabetes Federation. “Dentre os 157 índios xavantes que examinamos, 95 [60,5%] tinham diagnóstico de diabetes”, diz à Agência FAPESP Fernando Korn Malerbi, pós-doutorando no Departamento de Oftalmologia da EPM-Unifesp e primeiro autor do estudo.

O pesquisador informa que o diabetes pode desencadear problemas oftalmológicos como a retinopatia diabética – danos nos vasos sanguíneos na retina causados pelo excesso de glicose no sangue. Além disso, se não for detectada e tratada adequadamente, essa alteração oftalmológica pode levar à cegueira.

A fim de diagnosticar casos de retinopatia diabética e de outras possíveis disfunções oftalmológicas em populações indígenas, os pesquisadores utilizaram um retinógrafo portátil.

Batizado de Eyer, esse retinógrafo é composto por um aparelho que, acoplado a um smartphone, faz imagens precisas da retina, permitindo detectar doenças do fundo do olho a um custo bem mais baixo do que os métodos convencionais.

Estudo anterior também diagnosticou a doença

De acordo com a agência Fapesp, um estudo anterior também apontou uma prevalência de 19,3% de retinopatia diabética em índios xavantes das mesmas reservas visitadas na pesquisa supracitada. Dentre as hipóteses apresentadas pelos autores do estudo, pressupõe-se, ainda que o estado de saúde desse grupo piorou ao longo dos últimos anos.

“Um estudo anterior com 932 índios da etnia indicou que 66,1% apresentavam síndrome metabólica, definida como uma condição na qual os fatores de risco para doenças cardiovasculares e diabetes mellitus ocorrem ao mesmo tempo”, informa a Fapesp.

O estudo apontou que mudanças no perfil de saúde e na dieta deles nas últimas décadas, caracterizadas pelo consumo de alimentos industrializados e o sedentarismo, levaram a esse quadro.

Com informações da Agência Fapesp e do jornalista Elton Alisson