No Brasil, os Xavantes são uma das populações indígenas mais vulneráveis ao SARS-CoV-2, o novo coronavírus. Infelizmente, eles ainda sofrem com a epidemia de outra doença silenciosa, o diabetes. De acordo com o estudo apoiado pela FAPESP, neste grupo há uma alta prevalência de diabetes tipo 2 e de uma disfunção oftalmológica causada pela doença.
Os resultados foram obtidos a partir de exames da retina de 157 índios da etnia, realizados antes da pandemia do novo coronavírus. A pesquisa foi realizada por pesquisadores da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
Dos 95 pacientes diagnosticados com diabetes não foi possível avaliar se 23 deles (24,2%) apresentavam retinopatia diabética devido à opacidade de tecidos transparentes dos olhos, como o cristalino, causada por catarata. Além disso, nos 72 índios cujas imagens obtidas da retina permitiram o diagnóstico de retinopatia diabética, os pesquisadores constataram que 16 apresentavam a doença e sete deles tinham risco de cegueira.
Os resultados foram publicados na revista Diabetes Research and Clinical Practice, da International Diabetes Federation. “Dentre os 157 índios xavantes que examinamos, 95 [60,5%] tinham diagnóstico de diabetes”, diz à Agência FAPESP Fernando Korn Malerbi, pós-doutorando no Departamento de Oftalmologia da EPM-Unifesp e primeiro autor do estudo.
O pesquisador informa que o diabetes pode desencadear problemas oftalmológicos como a retinopatia diabética – danos nos vasos sanguíneos na retina causados pelo excesso de glicose no sangue. Além disso, se não for detectada e tratada adequadamente, essa alteração oftalmológica pode levar à cegueira.
A fim de diagnosticar casos de retinopatia diabética e de outras possíveis disfunções oftalmológicas em populações indígenas, os pesquisadores utilizaram um retinógrafo portátil.
Batizado de Eyer, esse retinógrafo é composto por um aparelho que, acoplado a um smartphone, faz imagens precisas da retina, permitindo detectar doenças do fundo do olho a um custo bem mais baixo do que os métodos convencionais.
Estudo anterior também diagnosticou a doença
De acordo com a agência Fapesp, um estudo anterior também apontou uma prevalência de 19,3% de retinopatia diabética em índios xavantes das mesmas reservas visitadas na pesquisa supracitada. Dentre as hipóteses apresentadas pelos autores do estudo, pressupõe-se, ainda que o estado de saúde desse grupo piorou ao longo dos últimos anos.
“Um estudo anterior com 932 índios da etnia indicou que 66,1% apresentavam síndrome metabólica, definida como uma condição na qual os fatores de risco para doenças cardiovasculares e diabetes mellitus ocorrem ao mesmo tempo”, informa a Fapesp.
O estudo apontou que mudanças no perfil de saúde e na dieta deles nas últimas décadas, caracterizadas pelo consumo de alimentos industrializados e o sedentarismo, levaram a esse quadro.
Com informações da Agência Fapesp e do jornalista Elton Alisson