Mulheres, jovens, consumidores de suplementos fitness ou de remédios para emagrecimento são pessoas mais propensas a desenvolver transtornos mentais associados à imagem corporal e à alimentação. É isso o que aponta um estudo feito por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e da Unifal (Universidade Federal de Alfenas) com base em dados de dois questionários respondidos por 1.750 voluntários.
Os resultados, divulgados na revista Environmental Research and Public Health, apontam ainda que também entram na lista os adeptos de dietas restritivas, os sedentários, as pessoas com diagnóstico de obesidade ou sobrepeso e que fazem uma avaliação ruim da própria alimentação.
No trabalho, os pesquisadores aplicaram dois questionários para examinar a relação entre “atenção à forma corporal”, “ansiedade física social” e “características pessoais dos participantes”.
Na primeira etapa do estudo, que envolveu 1.750 adultos, foi identificado que, quanto mais os indivíduos dão atenção à forma corporal, mais propensos são a esperar uma avaliação negativa de sua forma física. Além disso, tendem a estar menos confortáveis com a apresentação física do corpo.
As características mais comuns entre os que apresentaram níveis elevados de atenção à forma corporal foram: sexo feminino, consumo de suplementos fitness ou de substâncias farmacológicas para mudar a forma corporal e realização frequente de dietas restritivas.
Já entre aqueles que apresentaram maior expectativa de avaliação negativa da forma física os traços mais comuns foram: sexo feminino, ser considerado um jovem adulto, consumo de substâncias farmacológicas para mudar a forma corporal, sedentarismo, autoavaliação negativa da qualidade da alimentação e presença de sobrepeso ou obesidade.
Os pesquisadores observaram ainda que entre os indivíduos que estavam mais confortáveis com o próprio corpo, em geral, eram mais velhos, do sexo masculino, sem sobrepeso ou obesidade, não faziam uso de substâncias farmacológicas para modificar a forma corporal, não realizavam dietas restritivas e praticavam atividade física. Além disso, nesse grupo, a autoavaliação da qualidade da alimentação foi mais positiva.
Na segunda etapa do estudo, os pesquisadores avaliaram uma subamostra composta por 286 indivíduos submetidos a teste de bioimpedância, feito em um tipo de balança capaz de medir fatores como o percentual total de gordura, a massa magra e o nível de gordura visceral.
“Com essa análise, observamos que a composição corporal do indivíduo influenciou a percepção em relação à forma física do corpo. As pessoas com maior quantidade de gordura e menor massa muscular foram as mais suscetíveis a problemas”, relata o pesquisador à Agência FAPESP.
De acordo com o estudo, portanto, pessoas que têm uma preocupação excessiva com o corpo, a ponto de isso gerar ansiedade, podem apresentar comportamentos disfuncionais tanto em relação à alimentação quanto ao corpo.
Segundo Wanderson Roberto da Silva, professor da Unifal e coautor do artigo, a ansiedade está relacionada com o comportamento alimentar e com a relação que as pessoas têm com a própria imagem corporal. “Isso influencia as ações. Portanto, uma pessoa com um nível alto de ansiedade pode se tornar mais suscetível a ter algum transtorno alimentar, especialmente se possui problemas com a imagem corporal. Pode usar estratégias inadequadas visando mudar a imagem corporal, sem nenhum tipo de supervisão por profissional capacitado, e isso comprometer sua saúde em vez de melhorá-la”, diz.
Entre os exemplos de comportamentos disfuncionais estão a adoção de dietas restritivas ou da moda sem acompanhamento especializado, a prática de exercício físico excessivo sem supervisão e o consumo de suplementos alimentares ou substâncias potencialmente danosas (anabolizantes, por exemplo) sem a devida prescrição. “Como se vê, são várias estratégias que podem desestruturar a vida de um indivíduo em vários aspectos, afetando tanto sua saúde física quanto mental e social”, destaca.
Segundo os autores, conhecer o perfil dos indivíduos mais vulneráveis a esse tipo de transtorno do corpo pode subsidiar estratégias preventivas e de promoção da saúde.
"Há uma preocupação mundial com doenças como diabetes, hipertensão e obesidade, que afetam a saúde da população em grande proporção. Porém, existem outras condições, como os transtornos alimentares, que são subdiagnosticados e desconsiderados, embora também afetem substancialmente a saúde das pessoas. É preciso levar em conta que uma relação ruim com a comida pode anteceder uma série de problemas físicos e mentais”, alerta Wanderson Roberto da Silva, professor da Unifal e coautor do artigo.
Ainda segundo o pesquisador, é importante considerar que, embora transtornos como compulsão alimentar, anorexia e bulimia nervosa tenham baixa prevalência na população, podem desencadear problemas sérios.
“Eles estão fortemente associados a afetividades negativas, como ansiedade, estresse e depressão, que estão entre os principais desafios em saúde do século 21", afirma.