Cidade escolhida para vacinação em massa em 2020 teve sequenciamento genético que permitiu identificar mutações do vírus, com prevalência da delta, gama e ômicron.
Um estudo recém-publicado na revista científica internacional "Viruses" aponta a circulação de ao menos 52 subvariantes da Covid (veja números abaixo) em Serrana (SP), município conhecido em todo o país por ter sido o primeiro a realizar uma vacinação em massa contra a Covid-19, no chamado "Projeto S".
Ainda assim, de acordo com os pesquisadores, os índices elevados de imunização completa da população - acima dos 80% com doses da Coronavac - ajudaram a manter, em menor proporção, as mortes e os casos graves do coronavírus.
Por meio de um sequenciamento genético dos moradores, cientistas apontaram a prevalência das linhagens delta, gama e ômicron, além da incidência, em menor número, de algumas raras em território nacional, como a C.37, mais comum em países andinos, no período compreendido entre junho de 2020 e abril de 2022.
Entenda, nos tópicos abaixo, como foi realizada a pesquisa e os resultados mais importantes:
- Como foi feita a pesquisa?
- Quantas variantes da Covid foram encontradas em Serrana?
- Qual foi o impacto da incidência dessas variantes na cidade?
- O que os resultados indicam com relação à vacinação?
Como foi feita a pesquisa?
A pesquisa é parte do Projeto S, um estudo clínico do Instituto Butantan, com apoio de instituições como o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) e Fundação Hemocentro, que realizou uma vacinação em massa em Serrana, município com cerca de 45 mil habitantes na região de Ribeirão Preto (SP).
O objetivo foi monitorar os pacientes imunizados para analisar a eficácia da Coronavac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, com diferentes números e sob aspectos diversos, como faixa etária, tempo e variantes da doença.
Com apoio da Fapesp e revisão de pares, o estudo assinado por 30 autores que acaba de ser publicado na "Viruses" se utilizou do material genético de 4.375 pessoas da cidade, em sua maioria com idades entre 21 e 50 anos.
As amostras foram coletadas entre junho de 2020 e abril de 2022, desde quando se tem conhecimento da circulação do vírus da Covid até a conclusão da campanha de vacinação, com ao menos duas doses do imunizante.
Quantas variantes da Covid foram encontradas em Serrana?
Ao avaliar as amostras, os cientistas identificaram a incidência de pelo menos 52 sublinhagens do vírus da Covid-19.
A variante delta foi a predominante, com 37,8% de incidência entre todos os genomas analisados, em um total de 1.653 casos.
Na sequência, aparecem a ômicron, com 34,6% dos resultados (1.513 ocorrências), e a gama, com 24,1% (1.053 casos).
Qual foi o impacto da incidência das variantes na cidade?
Segundo os pesquisadores, a maioria dos casos diagnosticados de Covid para as três variantes mais comuns foi de sintomas leves, acima dos 88%:
- gama: 88,9%
- delta: 98,1%
- ômicron: 99,1%
O que os resultados indicam com relação à vacinação?
Para os cientistas, os números deixam evidente que o elevado índice de vacinação da cidade, acima dos 80%, contribuiu para a redução das mortes e dos casos graves de Covid, especialmente em meio à circulação das variantes gama e delta. Em março deste ano, o médico Gustavo Volpe, um dos coordenadores do Projeto S, já havia mencionado que o aumento das infecções com as novas cepas não influenciou na curva de óbitos.
Para o grupo, o trabalho pode embasar futuros estudos com monitoramento genético em infecções virais, além de ajudar em medidas de enfrentamento das doenças.
Ao mostrar a importância da vacina diante de diferentes variantes, o resultado vai além das conclusões do Projeto S no final de 2021, que apontou eficácia de 80,5% contra casos de Covid-19 e de 94,9% contra as mortes.
Anteriormente, a sorologia mostrou que, seis meses depois da segunda dose, 99% dos participantes ainda produziam anticorpos.