Notícia

Jornal de Valinhos

Estudo abre frente no combate a doenças da próstata

Publicado em 13 novembro 2009

Uma pesquisa de pós-doutorado desenvolvida no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp está mapeando experimentalmente as células-tronco adultas da próstata de animais. Os resultados preliminares indicaram que cada compartimento da próstata apresentou sua própria população de células-tronco e que o desequilíbrio entre hormônios pode sim alterar a reatividade das células-tronco normais, conhecidas como sadias, e igualmente das cancerosas. E além de verificar a atuação das células nesses compartimentos, os especialistas descobriram que elas podem ser estimuladas, ora promovendo a supressão hormonal ou ora sua reposição. Com esses primeiros achados, será possível compreender melhor a origem das doenças da próstata.

O projeto do pós-doutorando Wagner José Fávaro, orientado pela professora do IB Valéria Helena Alves Cagnon Quítete, integra o grupo de pesquisa em Biologia da Reprodução do Departamento de Anatomia. Biologia Celular, Fisiologia e Biofísica, e tem o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Em sua recente investigação, Wagner, que é graduado em enfermagem pela Unicamp e que já cumpriu mestrado e doutorado no Instituto, também conta com o envolvimento e o trabalho dos alunos de iniciação científica do curso de graduação em Ciências Biológicas.

Ao abordar a importância da próstata, a professora afirma que o órgão tem sido alvo de diferentes pesquisas hoje pelo elevado índice de doenças que o acometem na velhice. Segundo ela, o processo natural de envelhecimento celular é uma das principais causas da diminuição de hormônios naturais em homens e um dos períodos de maior ocorrência de diferentes doenças prostáticas. "Em caso de câncer, quando o diagnóstico é realizado, lamentável e frequentemente pode haver metástase. E nosso foco é contribuir para o tratamento deste órgão, cujo risco fica aumentado acima dos 60 anos."

Diferentes moléculas no microambiente prostático que sinalizam uma célula-tronco normal, sadia, pode levar a um tratamento mais eficaz das doenças. Em contrapartida, comenta Wagner, com a existência das células-tronco cancerosas, malignas, a previsão de tratamento da próstata é flagrantemente mais difícil. A célula-tronco cancerosa, portanto, pode reproduzir um caráter de ma-lignicência e assim por diante. Tendo conhecimento como a célula-tronco cancerosa se comporta, novas possibilidades de terapia podem ser vislumbradas.

Testes

Os testes em animais, que consistiram na manipulação de hormônios e na verificação da sua oscilação, foram iniciados há cerca de três meses com ratos idosos Spra-gue-Dawley, com idade de 10 meses. Em laboratório, esses animais passam tanto por supressão hormonal quanto por reposição.

A partir desses testes, avaliam-se, entre outros parâmetros, receptores hormonais, que são a porta de entrada dos hormônios; moléculas de adesão às células; fatores de crescimento ou mitóticos; e, agora, estão sendo avaliados propriamente diferentes marcadores celulares para prosseguir mapeando as células-tronco adultas na próstata, objeto deste estudo, Vários ensaios já foram leitos com reposição hormonal a fim de avaliar o mi croambienlc da próstata e no sentido dc dimensionar os efeitos moleculares desta reposição. Mas também começaram recentemente os estudos em próstata humana de pacientes pos-mortem com hiperplasia, câncer e neoplasia intraepitelial.

Conceitualmente, as células-tronco - explica Wagner - são células de renovação que ficam latentes no órgão e que se expressam diferentemente de acordo com a resposta aos estímulos. Mas a relação entre as células-tronco e a origem das doenças prostáticas, comenta Valéria, ainda não é muito clara. Por outro lado, sabe-se que o seu isolamento e a sua caracterização certamente permitirão novas estratégias para o controle das doenças, bem como o domínio cada vez mais profundo do funcionamento desse órgão. Só que para entender o seu funcionamento é preciso ter um prévio conhecimento da anatomia da próstata.

Importante

Qualquer mudança hormonal afeta a estrutura do órgão como um todo e o seu funcionamento. E é justamente na idade avançada que os problemas mais se manifestam. Neste particular, Valéria realça que o conhecimento das células-tronco prostáticas indicará novos caminhos e perspectivas para o entendimento do complexo funcionamento da próstata, isso agregado às novas terapias no tratamento das lesões prostáticas.

Embora a próstata seja dependente da testosterona, outros hormônios como os estrógenos também participam da sua manutenção. "O hormônio sozinho por si não gera doenças. As lesões na próstata são multifatorais e envolvem fatores intrínsecos dos elementos moleculares no microambiente do órgão. Somente assim é possível entender a origem de muitas doenças da próstata", diz, Wagner. Os próximos passos envolverão a análise comparativa em amostras humanas e a indicação dos melhores biomarcadores para as células-tronco prostáticas adultas.