Caminhadas de intensidade moderada pelo menos cinco vezes por semana ajudam a diminuir as crises da doença, principalmente em pacientes moderados e graves
Agência FAPESP
1; Sedentarismo, obesidade, depressão e ansiedade são fatores que agravam sintomas de asma, tornando difícil controlar. Por outro lado, exercícios aeróbicos frequentes, como caminhadas de intensidade moderada pelo menos cinco vezes por semana, auxiliam na redução das crises da doença, principalmente em pacientes moderados e graves.
Essas são as conclusões de estudos realizados na Universidade de São Paulo (USP) e recentemente publicados em dois artigos – um no European Respiratory Journal e outro no Chest Journal. Ambos tiveram apoio da FAPESP e coordenação do professor e fisioterapeuta Celso Ricardo Fernandes de Carvalho, da Faculdade de Medicina (FM-USP).
No primeiro estudo, com 296 pacientes brasileiros e australianos, foram identificadas quatro características extrapulmonares importantes para serem consideradas no tratamento da asma: atividade física, obesidade, depressão e ansiedade.
O trabalho mostrou que os pacientes formavam grupos com características diferentes: 1) participantes com asma controlada e fisicamente ativos; 2) com asma não controlada, fisicamente inativos e mais sedentários; 3) com asma não controlada, baixa atividade física, obeso e que sentia ansiedade e / ou sintomas de depressão; e 4) com asma muito descontrolada, fisicamente inativos, mais sedentários, obesos e com sintomas de ansiedade e / ou depressão.
A maioria deles (64%) teve alguma complicação nos últimos 12 meses (por exemplo, hospitalização). Nos grupos, foram detectadas 15 comorbidades, entre as mais prevalentes estão refluxo gastroesofágico, obesidade, hipertensão, distúrbio psicológico, sinusite e distúrbios do sono.
Os pesquisadores então realizaram uma análise de cluster hierárquica para identificar fenótipos clínicos de asma
com base em características extrapulmonares e fatores de risco comportamentais, com o objetivo de descrever as características clínicas associadas a esses fenótipos. O estudo também mostrou que o sedentarismo foi o fator com maior associação com hospitalização e crises de asma.
“Identificamos quatro fenótipos de asma com base nas características extrapulmonares: níveis de atividade física, obesidade, depressão e sintomas de ansiedade. Nossos dados reforçam a importância de avaliar essas características na prática clínica para individualizar os tratamentos e, assim, melhorar os resultados em pessoas com asma moderada a grave ”, concluem os pesquisadores do artigo, cuja primeira autora é Patrícia Duarte Freitas.
No outro estudo, que avaliou 51 voluntários com idade entre 18 e 60 anos, atendidos no Ambulatório de Pneumologia do Hospital das Clínicas, concluiu-se que a prática de atividade física frequente melhorou o controle da doença, a qualidade do sono e os sintomas de ansiedade.
Nesse caso, os voluntários foram divididos em um grupo intervenção, submetido a uma mudança de comportamento para aumentar a atividade física por oito semanas, e um grupo controle, apenas com os cuidados habituais.
Foram coletadas informações sobre o controle clínico da asma, atividade física / sedentarismo, comportamento, qualidade de vida, sintomas de ansiedade e depressão, qualidade do sono e dados antropométricos.
O controle clínico da asma foi medido por meio de um instrumento, denominado ACQ, que compreende sete questões relacionadas aos sintomas da doença, medicamentos e função pulmonar. Os participantes mantiveram um diário para relatar as exacerbações da condição durante o período de intervenção. Os níveis de atividade física e sedentarismo também foram medidos por meio de equipamentos.
Os pesquisadores compararam os dados dos grupos, em ensaio randomizado e controlado, analisando as avaliações antes e após o período de intervenção. “Os resultados sugerem que uma abordagem multidisciplinar para a mudança de comportamento pode ser uma estratégia complementar ou alternativa que melhora o controle clínico em adultos com asma”, escrevem os pesquisadores.
De acordo com Carvalho, o trabalho é feito desde 2007, quando começaram as pesquisas que relacionavam exercícios físicos, asma e obesidade. Em 2018, uma das publicações do grupo, fruto do doutoramento de Freitas, foi premiada pelo European Respiratory Congress, realizado em Paris. O estudo mostrou, na época, que obesos com asma submetidos a uma alimentação balanceada e uma rotina de atividade física tiveram uma melhora significativa na função pulmonar e nos medidores inflamatórios da doença (leia mais aqui agencia.FAPESP.br/28868/ )
Impacto
A asma, caracterizada pela inflamação das vias aéreas, é considerada uma das doenças crônicas mais comuns do mundo, afetando cerca de 339 milhões de pessoas, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para aumentar a conscientização sobre a doença, a primeira terça-feira de maio marca o Dia Mundial da Asma, organizado pela Global Initiative for Asthma (GINA). Neste ano, o tema escolhido foi “Descobrindo Equívocos sobre Asma”, para chamar a atenção para mitos e equívocos, como dizer que a doença só atinge crianças ou é infecciosa.
A causa exata da asma ainda não é conhecida, mas acredita-se que vários fatores genéticos, como histórico familiar de alergias respiratórias e ambientais, sejam influenciados. Alguns gatilhos podem piorar os sintomas brônquicos ou a inflamação. Entre eles estão os alérgicos (poeira doméstica, ácaros, fungos, pólen, pelos de animais), irritantes (fumaça de cigarro, poluição do ar, aerossóis), variações climáticas e até alterações emocionais.
Embora não haja cura, a doença pode ser controlada para reduzir e prevenir as crises, que se caracterizam por falta de ar, tosse e respiração ruidosa, que podem levar à morte. O tratamento geralmente é feito com medicamentos que aliviam ou controlam os sintomas, especialmente corticosteroides inalados isoladamente ou em combinação com um broncodilatador.
Carvalho destaca que o tratamento multidisciplinar vem ganhando cada vez mais importância, levando-se em consideração, principalmente, os fatores extrapulmonares, conhecidos como traços tratáveis.
Esses “traços” são características fenotípicas ou endotípicas que podem incluir comorbidades (como ansiedade, disfunção das cordas vocais e refluxo), fatores de risco (como tabagismo e densidade óssea) e habilidades de autocuidado (como adesão à terapia e técnica de inalação) . São considerados como parte da estratégia de tratamento das doenças crônicas do aparelho respiratório por meio da medicina personalizada.
No dia 29 de abril, um consórcio formado por médicos, pesquisadores e entidades lançou um site que reúne informações e estudos sobre as características tratáveis. Carvalho participa do grupo e é o único pesquisador representativo no continente americano.
“A ideia de tratar apenas com medicamentos é muito menos eficaz. Temos que pensar no tratamento multiprofissional. Além disso, o paciente também deve começar a assumir o compromisso de se exercitar. Não é preciso tentar ser atleta, é só se comprometer a caminhar ”, diz Carvalho.
Com o apoio da FAPESP, por meio de um Projeto Temático, o professor agora desenvolve uma pesquisa com o objetivo de avaliar o efeito de novas abordagens e tecnologias para melhorar o tratamento de pacientes com asma moderada e grave. O papel da mudança comportamental em pacientes com outros tipos de doenças respiratórias crônicas, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), também será analisado.
Os artigos Identificação de fenótipos de asma com base em traços tratáveis ??extrapulmonares e Uma intervenção de mudança de comportamento com o objetivo de aumentar a atividade física melhora o controle clínico em adultos com asma – Um ensaio clínico controlado randomizado podem ser lidos, respectivamente, em https://erj.ersjournals.com/ content / early / 2020/07/09 / 13993003.00240-2020 e https://journal.chestnet.org/article/S0012-3692(20)34492-5/fulltext.