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Folha da Região (Araçatuba, SP) online

Estado ganhou vegetação na última década

Publicado em 28 setembro 2003

Por Eloisa Morales - Da Redação
Depois de 40 anos sofrendo perdas gradativas e consideráveis de florestas e matas nativas, o estado de São Paulo apresentou na última década um ganho de 0,3% em vegetação. Pode não parecer muito, mas a porcentagem corresponde a 150 mil hectares de novas árvores e plantas. Na maior parte dessa área, a própria natureza se encarregou de recompor a vegetação, o que indica que, se não está reflorestando a contento, o homem pelo menos reduziu suas ações de desmatamento e queimadas. Todos esses dados e conclusões fazem parte do Inventário Florestal de São Paulo, estudo realizado pelo Instituto Florestal da capital paulista, órgão ligado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente entre os anos de 1993 e 2002, divulgado este mês pela revista da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo). A boa notícia, no entanto, não se estende às regiões de Araçatuba e São José do Rio Preto. Ao contrário do restante do estado, elas não tiveram ganho natural de vegetação e foram as únicas a registrar perdas de áreas nativas, na ordem de 16% e 13%, respectivamente. Segundo o físico Marco Aurélio Nalon, integrante do grupo multidisciplinar que realizou a pesquisa, a principal causa dessa perda foi o desmatamento que deu lugar a áreas de pastagem (no caso de Araçatuba) e cana-de-açúcar (na região de Rio Preto). Na região de Araçatuba, explicou Nalon, predomina o que a pesquisa chama tecnicamente de savana (conhecida anteriormente como cerrado), com solos mais pobres, vegetação rasteira e seca, árvores baixas e retorcidas e períodos secos prolongados, o que colabora ainda mais para a elevação da temperatura. O levantamento da situação de matas e florestas foi realizado com a ajuda de mais da metade dos 22 comitês de bacias hidrográficas do estado. De acordo com o pesquisador, essas entidades não só colaboraram com recursos financeiros para o levantamento, como também têm contribuído significativamente para que mais áreas sejam recuperadas e preservadas. Os comitês mantêm projetos ambientais e de conscientização de produtores rurais e da comunidade em geral. A presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Baixo Tietê, Maria de Lourdes Marques de Melo, que também é prefeita de Valparaíso, avalia a destruição de áreas nativas como um reflexo da pouca consciência regional sobre a importância de preservar e reflorestar áreas degradadas. "Acho que houve mais preocupação com o lucro do que com o meio ambiente", disse. Segundo ela, é preciso um esforço coletivo dos municípios para recuperar pelo menos as matas ciliares dos rios, o que pode adiar a falta de água na região, prevista para ocorrer dentro de 25 anos. "Todo mundo acha que o Tietê é um recurso inesgotável e não é. Temos de pensar no reflorestamento por causa dele. É um trabalho a ser feito de forma localizada, mas que no futuro trará um fruto regional", afirmou. O comitê foi criado em 1992 e é composto por 43 municípios. Por enquanto, segundo a prefeita, ele tem uma atuação limitada pela falta de recursos. A expectativa para melhorar a situação financeira da instituição, e conseqüentemente ampliar o trabalho de preservação, recai sobre a aprovação, pela Assembléia Legislativa, da lei de cobrança pelo uso da água. A lei prevê a taxação da água utilizada na indústria. Uma vez aprovada, a arrecadação será revertida aos comitês por intermédio do Fehidro (Fundo Estadual dos Recursos Hídricos). PASSADO VERDE - No início do século passado, quando o estado de São Paulo ainda possuía 82% de sua área coberta de matas nativas, Araçatuba era, segundo registros da época, uma espécie de santuário ecológico. Um registro feito pelas expedições da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, que visitou a região em 1905, encontrou uma enorme diversidade de espécies próxima ao rio Tietê, nos arredores de onde hoje é a cidade. Parte de um texto do médico e naturalista Mamede da Rocha, divulgado pela revista da Fapesp, cita que por aqui existiam figueiras, ingazeiros, imbaúbas, jenipapeiros, jequitibás, cabreúvas e aroeiras (as três últimas espécies eram de madeira de lei). Toda a diversidade não resistiu à chegada da agricultura e da ferrovia, que facilitou o comércio, desenvolveu o sistema de transportes e o interior do estado de uma forma geral. A vegetação continuou a sofrer perdas à medida que as cidades foram se formando e crescendo. Desde a época da visita do naturalista, a população do estado passou de 2,2 milhões de pessoas para os atuais 37 milhões. Dos 82% de cobertura vegetal do início do século 20, hoje o estado tem 13,9%, o equivalente a 3,46 milhões de hectares (ou 34,6 quilômetros quadrados). De acordo com Nalon, levantamentos feitos em 1962, 1972 e 1984 apontaram sucessivos decréscimos na vegetação. Essa foi a primeira vez, portanto, que em vez de redução, os pesquisadores identificaram aumento de mata nativa. "Hoje existem muitas ONGs e entidades que realizam trabalho de conscientização ambiental. Em épocas anteriores, a preocupação em preservar não existia", comparou. "Nós consideramos que essa conscientização é a responsável pela inversão de tendência observada no inventário." Na opinião de Maria de Lourdes, é impossível recuperar totalmente o verde perdido ao longo do século 20. Ela acredita, no entanto, que dá para continuar o processo de desenvolvimento sem destruir o que restou. "É uma questão de pensar o desenvolvimento levando em consideração que temos de preservar o meio ambiente." Nos próximos meses, o Instituto Florestal pretende transformar o inventário em publicações municipais, que ficarão à disposição de Prefeituras, estudantes e órgãos de pesquisa que quiserem conhecer a realidade de cada um dos 645 municípios paulistas. A previsão é que o material esteja disponível até o primeiro trimestre de 2004.