SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Governo de São Paulo decretou na manhã desta quarta-feira (19) situação de emergência por dengue em todo o território paulista. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) deve assinar o decreto até esta quinta (20).
A medida permite a implementação de ações com maior agilidade, bem como a alocação de recursos adicionais do governo federal. A expectativa da gestão paulista é que a doença atinja o pico em meados de abril no estado.
“Saúde é tripartite. Precisamos dos três entes da federação com o mesmo foco, até porque o combate às arboviroses é um desafio gigante”, disse o secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, 60 municípios paulistas estão com decreto de emergência por dengue ativo. Conforme dados atualizados nesta quarta-feira, o estado registra 124.038 casos confirmados de dengue e 113 mortes —a maioria contraiu o sorotipo 2. Há ainda 82.908 casos e 233 óbitos em investigação.
Na comparação com o mesmo período de 2024, os números são menos expressivos. No ano passado, a esta altura o estado tinha 198.668 casos e 159 mortes.
Durante reunião no COE (Centro de Operações de Emergências), o secretário também anunciou medidas de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.
“A grande arma que temos para diminuir a entrada [da dengue] é eliminar criadouro. É igual guerra, você precisa ter estratégia”, afirmou.
Entre as estratégias está o aumento de recursos para internação de pacientes com dengue em hospitais e unidades de saúde conveniadas ao SUS (Sistema Único de Saúde).
“[Serão] 20% a mais de leitos em todas as unidades hospitalares do estado. Mas ideia é tratar ambulatorialmente essas pessoas, hidratando, para que não tenham sinais de agravo que necessitem de internação”, disse o secretário.
Outra medida é o investimento de R$ 3 milhões para aquisição de 100 equipamentos de nebulização portátil e dez de nebulização ambiental. O Governo de São Paulo tem, ao todo, 730 máquinas portáteis e 55 pesadas para o combate ao mosquito transmissor da dengue.
Segundo Paiva, insumos e medicamentos não estão em falta —foram adquiridos sais de reidratação oral, soro fisiológico e antitérmicos—, mas é preciso investir mais em salas de hidratação a fim de evitar casos graves da doença.
“Em alguns ainda vemos salas de hidratação muito tímidas. A grande arma que nós temos para diminuir os casos graves é a hidratação. Precisamos fazer diagnóstico e tratamento precoces para mudar a curva”, afirmou Eleuses Paiva.
Uma campanha informativa está em curso. Com o mote “São Paulo: somos todos contra o mosquito da dengue”, a campanha reforça a importância de combater os criadouros do Aedes aegypti e está no ar na TV e nas redes sociais. Além disso, o portal Dengue 100 Dúvidas (www.dengue100duvidas.sp.gov.br) traz esclarecimentos sobre as arboviroses urbanas.
Neste ano, a pior situação no estado é a do departamento regional de saúde de São José do Rio Preto, que engloba 102 municípios. A região contabilizava, até esta quarta-feira, 37.580 casos confirmados de dengue e 36 mortes. Conchas é a cidade com maior incidência da doença (9.255,21 casos por 100 mil habitantes).
VACINAÇÃO CONTRA A DENGUE
Podem se vacinar contra a dengue crianças e adolescentes com idade entre 10 e 14 anos.
Na última sexta (14), o Ministério da Saúde autorizou todos os estados e o Distrito Federal a ampliarem a vacinação em casos em que o imunizante está próximo do vencimento.
Doses que estiverem a dois meses do fim do prazo de validade poderão ser aplicadas em pessoas de 6 a 16 anos ou remanejadas para cidades que ainda não fazem a vacinação. Já as doses que estiverem a um mês do vencimento poderão ser aplicadas em pessoas que tenham entre 4 anos e 59 anos, 11 meses e 29 dias —conforme indicação da bula.
Os municípios que quiserem aderir à estratégia deverão comunicar a vigilância epidemiológica do estado.
Na cidade de São Paulo, contudo, não está prevista a “xepa” da vacina contra a dengue pois, de acordo com Luiz Carlos Zamarco, secretário municipal da Saúde, as doses disponíveis começarão a vencer apenas em novembro na capital.
“Recebemos 600 mil doses e já aplicamos 400 mil no público indicado, que é de 10 a 14 anos. Não temos vacina nenhuma para vencer nesse intervalo”, disse Zamarco nesta segunda (17), durante a inauguração do novo pronto-socorro do Hospital São Paulo.
VACINA DO BUTANTAN
A vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan é a esperança de quem não faz parte do atual público-alvo. O imunizante é capaz de induzir a produção de anticorpos contra os quatro tipos de vírus, segundo o o diretor do instituto, Esper Kallás.
“Abre uma perspectiva teórica de implementar uma vacina em grande porcentagem de uma dada população, quebrar cadeia de transmissão e, a médio prazo, eventualmente impedir que ocorram surtos na magnitude que a gente tem visto em 2024 e 2025. É uma teoria, a gente precisa olhar isso na prática, mas abre uma perspectiva muito positiva”, ressalta Kallás.
“Alguns pesquisadores que fazem projeções matemáticas imaginam que, se vacinarmos 60% de uma determinada região, talvez o vírus não tenha força para continuar a transmissão. Trabalhamos com essa teoria. Precisamos produzir um volume suficiente, fazer os testes. Só com testes e pesquisa que a gente consegue afirmar isso categoricamente”, acrescenta.
A vacina da dengue do Butantan está em análise pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que solicitou esclarecimentos e mais dados sobre o imunizante. As informações foram enviadas em dezembro.
“Os questionamentos são vários, são seis páginas com perguntas, desde esclarecimentos de número de tabelas até um questionamento da nossa perspectiva sobre algum ponto específico. Estamos projetando [produzir] 1 milhão de doses para este ano. No ano que vem, vamos escalonando.”, conclui Kallás.