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Esta startup de biotecnologia quer substituir pesticidas por produtos naturais

Publicado em 12 março 2021

Ecossistemas maduros de inovação têm como característica a forte conexão entre a academia e a iniciativa privada. No Brasil, contudo, isso ainda é um desafio. É neste vácuo que a startup de biotecnologia Decoy quer atuar. Fundada por três pesquisadores, dois da biologia e um da economia, a empresa se especializou no desenvolvimento de produtos naturais para o controle de pragas em animais de rebanho. Em 2020, viu a empresa crescer mais de 400% e chegar a um faturamento de R$ 1,6 milhão. Neste ano, o objetivo é ao menos dobrar a receita.

A Decoy nasceu em 2015, quando os amigos Túlio Nunes e Lucas Vonzuben (que aparecem na foto abaixo), então pós-doutorandos em biologia na USP, se juntaram ao economista Felipe Dal'bo, que cursava um mestrado na FGV. Na época, os três ainda tinham a intenção de seguir na carreira acadêmica. Ao chegarem perto da conclusão dos seus cursos, no entanto, decidiram aderir ao empreendedorismo.

A ideia era reunir as expertises técnicas dos três para criar uma solução científica com potencial de comercialização. De início, o projeto consistia na criação de uma “armadilha” para carrapatos, um produto que seria grudado no rabo dos bois e das vacas para matar os pequenos aracnídeos. A solução seria vendida a pecuaristas de todo o país. “Com essa ideia maluca, demos os primeiros passos”, diz Túlio Nunes, COO da Decoy.

Ele usa a palavra “maluca” porque, assim como em muitas startups, a primeira ideia passou por diversas transformações até chegar a algo viável. No caso da Decoy, os sócios perceberam que não fazia sentido criar uma armadilha. Os carrapatos incomodariam os animais de qualquer forma – e o produto, também. “A questão era controlar”, afirma Nunes. Outro ponto de atenção do projeto era a necessidade de usar ativos químicos, similares aos tradicionais e já disponíveis no mercado.

“Queríamos criar uma solução natural. Então, fomos estudar controle biológico”, diz Nunes. Em paralelo, a empresa obteve financiamento do projeto PIPE-FAPESP, que apoia a execução de pesquisa científica e tecnológica em micro e pequenas empresas do estado de São Paulo. O negócio tem sede em Ribeirão Preto, interior do estado.

Os três usaram os recursos para desenvolver a pesquisa e chegar a uma solução. Usando uma combinação de bilhões de esporos de fungos, a startup conseguiu controlar os carrapatos que prejudicavam o gado. “Encontramos uma fórmula que usa interações ecológicas e aproveita o que a natureza já tem. É uma solução completamente segura para quem aplica, para os animais e para o meio ambiente”, pontua Nunes.

Com os resultados prontos, chegou a hora de sair da academia. Os sócios validaram o produto em laboratório e em campo, como normalmente fariam numa pesquisa científica, e avançaram. Levaram a solução aos pecuaristas para investigar se os possíveis clientes estavam dispostos a pagar pelo produto. Durante esse processo, contaram com uma incubação na própria USP e investimentos-anjo para estruturar a startup.

Na hora de dar escala ao negócio, no entanto, foi preciso ir atrás de uma rodada maior. Em 2019, receberam um aporte de R$ 1 milhão. Com o dinheiro, iniciaram o registro do produto no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e construíram a primeira fábrica, também em Ribeirão Preto, com capacidade para produzir 1,7 milhão de doses por mês.

Como a empresa ainda não concluiu o registro para comercialização da solução, a Decoy fatura vendendo serviços de colaboração de testes usando a sua tecnologia como veículo. Ou seja, a empresa fecha projetos com pecuaristas dispostos a testar a solução em seus animais e recebe por isso. Em 2019, ainda no início desse processo, a startup faturou R$ 290 mil. Em 2020, o montante saltou para R$ 1,6 milhão.

Em paralelo, a Decoy investe em soluções para outros problemas de saúde animal. Surgiram daí mais dois produtos, que devem chegar no mercado logo: um é voltado para a avicultura e ataca os besouros que podem causar salmonela em frangos e galinhas; e outro, direcionado à apicultura, mata um ácaro comum em abelhas dos Estados Unidos, Canadá e países da Europa.

A empresa também está finalizando o desenvolvimento de um produto para o mercado pet, oriundo do anticarrapato do gado. O plano é criar um aerossol para tutores de cachorros passarem no ambiente, evitando que os animais sofram com o aracnídeo.

Agora, a startup espera captar logo uma nova rodada de investimento. Com mais capital, poderá impulsionar o desenvolvimento da tecnologia e dos produtos. “Vemos 2021 como um ano de consolidação”, diz Nunes. A internacionalização está no horizonte. A perspectiva é levar a solução anticarrapato para mercados como Argentina e Uruguai, pecuaristas por tradição, e também para a Índia, que tem o maior rebanho do mundo. “Temos grande potencial de crescimento nesse mercado.”