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Esponjas marinhas são usadas para enxertos ósseos

Publicado em 10 setembro 2020

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp, extraíram colágeno e biossílica de esponjas marinhas e com eles desenvolveram uma membrana para reparo de queimaduras e úlceras da pele e uma estrutura para enxertos ósseos. O colágeno foi extraído da espécie Aplysina fulva e o bioativo biossílica foi obtido da espécie Tedania ignis.

O projeto, que tem apoio da Fapesp, teve a coordenação de Ana Claudia Renno e Renata Neves Granito, do Laboratório de Biomateriais e Engenharia de Tecidos de Unifesp.

Conforme a repórter Karina Ninni, da Agência Fapesp, que divulgou a informação, o colágeno já é um material bastante utilizado para essas finalidades, mas na maioria dos casos se usa matéria-prima de tecido de boi ou de porco e os produtos originados são muito caros. Não há ainda, no mercado, nenhum produto do gênero à base de colágeno marinho.

“No mercado existe uma série de protocolos ou tratamentos para fraturas e úlceras ou queimaduras, mas geralmente ou são muito caros, ou não têm a capacidade adequada de aceleração dos processos de reparo e regeneração. Começamos a procurar alternativas para extrair bioativos do ambiente marinho, em Santos, e tentar elaborar com eles biomateirais que pudessem suprir essa lacuna”, diz Ana Claudia Renno, fisioterapeuta e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Bioprodutos e Bioprocessos da Unifesp, campus Baixada Santista.

Os cientistas fizeram testes biológicos para comprovar a biocompatibilidade do colágeno marinho e sua capacidade de acelerar o processo de reparo dos tecidos:

“A composição do colágeno da esponja é similar à composição do colágeno dos vertebrados. Por isso e já havendo referências na literatura, conseguimos identificar e processar o material e usá-lo na produção de membranas e estruturas para enxerto ósseo.”

As esponjas foram coletadas por mergulhadores a uma profundidade de cinco metros na Praia Grande de São Sebastião e processadas no laboratório rapidamente, pois elas duram no máximo um dia.

“O ideal seria cultivar essas esponjas, para que não tenhamos de retirá-las da natureza. É possível cultivá-las em aquários ou no mar, mas esses animais são muito sensíveis.

Queimaduras

O projeto da membrana para tratamento de queimaduras e lesões cutâneas começou com o mestrado do aluno Tiago Akira Araújo. “Esse aluno já manufaturou a membrana a partir do colágeno marinho e já temos o protótipo. Ele padronizou os procedimentos de extração do colágeno e agora estamos terminando de testar a toxicidade em células da pele. Pretendemos começar os testes pré-clínicos em animais até o fim do ano. Ele já tem uma empresa e a ideia é transformar a membrana em produto”, adianta Renno.

A equipe realizou entrevistas com cirurgiões plásticos e dermatologistas para levantar eventuais problemas apresentados pelos produtos já existentes no mercado. “Além do alto custo das membranas, algumas não têm a capacidade adequada de acelerar o processo de reparo cutâneo. E, muitas vezes, esses curativos não são reabsorvíveis: eles têm de ser trocados em espaços curtos de tempo, o que é ruim para o paciente, causa dor, desconforto e risco de infecção. Nossa membrana, por outro lado, deverá ficar no tecido, na área da queimadura, sendo reabsorvida até que o corpo consiga substituí-la por tecido normal.”

A pesquisadora também salienta que a matéria-prima de origem vertebrada (bois e porcos) tem de ser monitorada passo a passo, porque há a possibilidade de transmissão de doenças caso não seja muito bem processada.

Enxertos ósseos

O trabalho com o material destinado a enxerto para fraturas ósseas está mais adiantado que o feito com a membrana, pois começou antes. Os testes pré-clínicos já estão em andamento.

Para mimetizar o tecido ósseo e obter uma estrutura para enxertos, é usada a parte orgânica (a espongina, que é o colágeno propriamente dito). Os cientistas adicionaram a espongina a materiais já comumente usados para enxertos ósseos, como a hidroxiapatita e o biossilicato. “Nosso objetivo nesses trabalhos foi tentar melhorar as propriedades bioativas, ou seja, a capacidade desses materiais de acelerar o processo de reparo ósseo.

Veja a reportagem completa da repórter Karina Ninni no link:

https://agencia.fapesp.br/cientistas-criam-membrana-cutanea-e-estrutura-para-enxertos-osseos-com-colageno-de-esponjas-marinhas/34093/