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Esperança para a terra: USP cultiva arroz em lama da Samarco

Publicado em 20 junho 2018

Por Thuany Motta

A tentativa de plantar na terra atingida pela lama da mineradora Samarco, em Mariana, na região Central de Minas Gerais, teve sucesso. Cientistas conseguiram cultivar arroz durante seis meses em uma amostra do solo devastado. Os resultados do estudo, publicado na revista “Chemosphere”, mostram que o alimento contém baixo valor nutritivo, mas também que, desde que seja feita a correção do solo, é possível o uso da terra para a agricultura e o reflorestamento.

O experimento, que foi realizado por pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP e da Universidade Federal do ABC (UFABC), teve amostras de solos – não atingidos pelos resíduos – e de lama vinda da barragem colhidas 23 dias após o desastre, no subdistrito de Bento Rodrigues.

Segundo o pesquisador Bruno Lemos Batista, a quantidade de nutrientes encontrados nos grãos é insuficiente para o consumo humano adequado. “Pudemos constatar a pouca presença de matéria orgânica (conjunto de compostos químicos formado por moléculas orgânicas presentes em ambientes naturais), sódio, fosfato e nitrogênio, fundamentais para o nosso organismo”, afirma Batista.

Ele diz que a equipe escolheu o arroz por ser um alimento de consumo básico e por sua alta capacidade de absorver substâncias, incluindo as tóxicas.

Além disso, Batista explica que o excesso de lama durante o cultivo reduziu o crescimento das raízes e o rendimento dos grãos. “Também ficaram menores, nos cultivos de lama, as quantidades de clorofila e de carotenoides – importantes na fotossíntese”, alerta o pesquisador.

Impacto. Batista conta que as alterações da planta estão relacionadas à deficiência de nutrientes e às propriedades físicas da lama. “Para compensá-las, adubamos o solo com matéria orgânica e utilizamos solo sedimentar, o que proporcionou melhores condições para o desenvolvimento das plantas”, esclarece o pesquisador.

A expectativa dos pesquisadores é que, se intervenções forem feitas o quanto antes, os primeiros resultados podem aparecer no médio e longo prazo. “Precisamos lembrar que cada planta tem necessidades diferentes. Por isso, quanto antes, melhor”, afirma Batista.

Presença de tóxicos também é inferior

Os cientistas também descobriram que a quantidade de substâncias tóxicas na lama coletada em Mariana é considerada baixa. “O arroz é capaz de acumular arsênio, chumbo, cádmio e mercúrio. As análises mostram que os grãos cultivados na lama residual da Samarco produziram baixos teores desses elementos”, pontua o pesquisador Bruno Lemos Batista.

O especialista diz qual foi o principal objetivo. “Sabendo que o desastre espalhou cerca de 50 milhões de metros cúbicos de resíduos de mineração de ferro no ambiente, incluindo rios e áreas agrícolas, essa foi uma forma de verificar se a lama poderia contaminar os grãos”, diz.

Batista conta que uma terceira coleta foi feita no ano passado e que os dados ainda estão em fase de avaliação. “Esperamos divulgar novas informações até o fim deste ano”, afirma o pesquisador.

Flash

Posição. A Fundação Renova – responsável pela recuperação das áreas atingidas pela tragédia – diz que tem promovido medidas para a renaturalização de toda a região. Uma delas é o uso do hidrogel, um tipo de polímero que transforma a água em gel, aumentando a capacidade de armazenamento do solo.