Anfíbio, com apenas 6,95 mm, ocorre em áreas de floresta entre os litorais de São Paulo e Rio de Janeiro, revelando adaptações únicas e demonstrando o potencial de toda uma biodiversidade ainda a ser descoberta
Um grupo liderado por pesquisadores do , do da descreveu o segundo menor vertebrado do mundo , um sapo em miniatura encontrado na região entre as cidades de Ubatuba (SP) e Paraty (RJ). Um dos exemplares adultos mede apenas 6,95 milímetros . Anteriormente, uma espécie endêmica do mesmo gênero foi encontrada numa , a , no município de Camacan, no sul da Bahia. Trata-se do sapinho da espécie Brachycephalus pulex , descrita em janeiro, com indivíduos medindo 6,45 milímetros, menor que um grão de feijão. Posteriormente, exemplares dessa mesma espécie foram encontrados no , em Arataca (BA), indicando que a espécie seria exclusiva do sul do estado . Antes do B. pulex , o menor anfíbio conhecido pela ciência era uma rãzinha encontrada na Papua-Nova Guiné da espécie Paedophryne amauensis , medindo cerca de 7,7 milímetros.
A nova espécie foi nomeada Brachycephalus dacnis em homenagem ao , uma organização não governamental sem fins lucrativos de conservação, pesquisa e educação, que mantém áreas privadas de Mata Atlântica no estado de São Paulo desde 2010, incluindo a que o animal foi encontrado, em Ubatuba, no litoral norte. A Mata Atlântica e uma floresta tropical sul-americana que se estende ao longo da costa atlântica do Brasil, hoje muito diminuta em relação à sua área original e bastante ameaçada.
Segundo o autor correspondente do estudo e professor de biologia da , Luís Felipe Toledo, há pequenos sapos com todas as características de grandes sapos, exceto seu tamanho, no entanto, este gênero é diferente. Durante sua evolução, sofreu o que os biólogos chamam de miniaturização, que envolve perda, redução e/ou fusão de ossos, bem como menos dígitos e ausência de outras partes de sua anatomia. Esta é a sétima espécie de sapo-pulga descrita no gênero Brachycephalus
O trabalho integra o projeto , apoiado pela no âmbito do . Vivendo entre a serrapilheira, a atenção dos pesquisadores foi atraída para o animal por suas vocalizações, que são distintas para a espécie. Ao olhar para o chão da mata fica quase impossível de perceber, mas ali existe uma grande diversidade de seres vivos diminutos. Um deles é um sapo-pulga que acaba de ser descrito no publicado na revista pela equipe de pesquisadores formada por brasileiros e estrangeiros.
A descoberta da espécie teve início com os monitoramentos auditivos e visuais realizados na área da reserva em Ubatuba (SP). Ao observarem as espécies que ocorrem na região, os pesquisadores notaram uma diferença nas vocalizações (sons emitidos pelos machos) de uma espécie que habita a região do litoral norte de SP: Brachycephalus hermogenesi . A partir daí, parcerias entre pesquisadores de diversas instituições se formaram sob a liderança do Prof. Luís Felipe Toledo ( ) e do pesquisador Edelcio Muscat ( ) para trabalhar dados genéticos, morfológicos (anatomia externa e interna) e acústicos, usando ferramentas modernas como tomografias, para estudar de forma multidisciplinar o que estava acontecendo com os animais daquela região. Um dos pesquisadores dessa equipe foi o Prof. Ivan Nunes do , localizado na cidade de São Vicente (SP). O Prof. Ivan é um especialista no estudo da sistemática biológica (área que estuda a identificação e relacionamento entre os seres vivos), em especial do grupo dos anfíbios. Ele participou ativamente da análise dos dados e da discussão sobre a informação usada na diagnose da espécie (característica que diferencia ela das outras espécies).
No estudo minucioso, análises bioacústicas foram usadas para entender esse aspecto do animal. No caso de Brachycephalus dacnis , uma de suas peculiaridades é suas vocalizações únicas. Se este pequeno sapo com pele marrom-amarela, que se desenvolve sem passar pelo estágio de girino, isto é, ao emergir de seu ovo na forma de uma versão em miniatura já formada, parece indistinguível do Brachycephalus hermogenesi , descoberto em 1998, o som que o distingue desse primo. Foi essa divergência que motivou o sequenciamento de DNA, levando à descoberta desta nova espécie. A vocalização do sapinho é surpreendente. Segundo Toledo, o canto se assemelha ao de um grilo, tanto pela característica do som quanto pelo volume relativamente baixo para um sapo. Ao final, foi descoberta a situação inusitada: havia mais de uma espécie de sapo-pulga na mesma região
O trabalho de dados disponíveis na literatura somado ao monitoramento constante da população de Ubatuba na área do foram fundamentais para conseguir material de indivíduos com origem determinada. Esse cuidado foi necessário para entender a origem de cada informação pesquisada e assim poder estabelecer as características de cada espécie ali envolvida, pois as espécies com esse morfotipo no gênero Brachycephalus são muito parecidas. A área do em Ubatuba-SP é agora a “localidade-tipo” (local onde o indivíduo que representa a espécie foi coletado) do Brachycephalus dacnis
A análise do material coletado para o estudo trouxe desafios: as espécies do gênero Brachycephalus possuem características de um processo de miniaturização (evolução de uma linhagem no sentido de modificação para um corpo extremamente pequeno). Essas características essas ligadas à evolução de corpos extremamente pequenos, o que é conhecido como miniaturização, uma adaptação comum em animais de pequeno porte . Essa e outras descobertas de vertebrados minúsculos levantam questões acerca do menor tamanho possível de órgãos como coração, pulmão e outras estruturas complexas presentes nos vertebrados . O artigo expõe como esses animais apresentam características únicas relacionadas aos seus tamanhos extremos, incluindo a perda, redução e até fusão de ossos. Espécies do gênero Brachycephalus além dos esqueletos com ossos fundidos e ausência de alguns ossos cranianos, não possuem dentes comuns em outros sapos. Elas também não têm alguns ossos do ouvido e o tímpano externo. Nesse sentido, a parceria com os pesquisadores estrangeiros do , responsáveis pela tomografia de espécimes, foi fundamental.
Outra curiosidade é que anfíbios desse grupo colocam ovos relativamente maiores e o desenvolvimento dos filhotes ocorre diretamente, sem a fase de girino. Ainda, elementos como a genética e a acústica ajudaram a completar o quebra-cabeças. Os cantos dos anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas) são um tipo de identidade de cada espécie por causa do reconhecimento das fêmeas . A união dessa informação com a posição de seus parentescos trazidos pela genética ajudou a chegar no veredito.
Muitas espécies do gênero Brachycephalus têm sido descritas nos últimos anos e algumas delas com ocorrência em áreas já bem conhecidas, como o litoral norte de SP e Serra da Mantiqueira, incluindo grandes centros urbanos, como a cidade de São Paulo, o que demonstra o potencial de toda uma biodiversidade ainda a ser descoberta.
O uso de ferramentas e métodos de estudo cada vez mais avançados é o que vem possibilitando descrever vertebrados tão pequenos, já que apenas analisando morfologicamente seria impossível fazer distinções precisas. Com animais tão pequenos, encontrar diferenças entre uma espécie e outra fica cada vez mais difícil, porque eles têm cada vez menos estruturas que estão variando, a ponto de os pesquisadores não conseguirem perceber as diferenças entre espécies.
Nesse ritmo, o volume de descobertas de sapos-pulga tende a aumentar. Isso porque os pesquisadores do já estão trabalhando na descrição de outro exemplar na cidade de Bananal (SP), próxima à divisa com o Rio de Janeiro . Nas análises preliminares da equipe, a espécie Brachycephalus dacnis não corre risco aparente de extinção, mas o resultado só pode ser estipulado após avaliação pelo . O que se sabe é que ela depende da floresta em pé para existir, e não ocorre em áreas desmatadas. A diversidade desses sapos em miniatura pode ser muito maior do que se imagina, daí a importância de descrever o maior número possível de características, para agilizar o processo de descrição e começar a trabalhar na conservação o mais rápido possível, lembrando que novas descobertas só serão possíveis com a preservação da Mata Atlântica.
A coleta dos exemplares foi feita com autorização do , seguindo todas as diretrizes de cuidado animal. Os indivíduos coletados foram depositados em coleções científicas da e da