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ESPECIAL: O ROTEIRO DO SUCESSO (1 notícias)

Publicado em 01 de janeiro de 2002

O Brasil continua sendo um dos países mais empreendedores do mundo. Em 2002, como vem fazendo nos últimos 10 anos, cerca de 500 mil brasileiros montarão o próprio negócio. Se você faz parte desse time. comece a preparar-se desde já. Para comemorar o aniversário de PEGN, elaboramos um roteiro de 100 lições básicas para construir uma empresa vitoriosa. Garimpados por 36 consultores, os conselhos abrangem desde a fase de planejamento à gestão dos primeiros tempos do empreendimento. 100 PRATICAS DE SUCESSO NOS NEGÓCIOS MÃOS À OBRA - Construir um empreendimento vitorioso exige muito preparo. Para você começara treinar, reunimos uma coleção de lições oferecidas por 36 consultores empresariais Ano-novo, vida nova. Para um enorme contingente de brasileiros, essa resolução não se apagou com os fogos do reveillon. Ela vai mesmo se transformar em realidade. Em 2002, quase 500 mil empreendedores montarão o próprio negócio. É o que estima o Sebrae, com base na média anual de 487.894 registros de novas empresas nas juntas comerciais do país. Se você está alistado nesse batalhão, arregace as mangas. Para ajudar você a construir uma empresa vitoriosa, PEGN reúne nesta edição especial de aniversário uma coleção de 100 lições garimpadas por 36 consultores de diferentes áreas da administração empresarial. Comece a praticá-las, porque abrir um empreendimento exige um pouco mais do que sonho e boas idéias. Requer também preparo, dedicação, sangue-frio e, claro, coragem, especialmente porque o ano começa carregando muitas das turbulências econômicas de 2001, tanto no âmbito interno quanto no cenário global. Chuvas e trovoadas nos campos da economia e da política, porém, aparentemente não assustam os empreendedores brasileiros. E essa extrema capacidade de adaptação a situações adversas é exatamente sua característica mais admirável, pondera a professora Maria Carolina de Azevedo Ferreira de Souza, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com a autoridade de quem também pesquisa as pequenas empresas há 30 anos. "Eles normalmente encontram soluções onde aparentemente não existe saída. Como a realidade lhes cobra uma flexibilidade enorme, conseguiram burilar essa habilidade de ver espaços livres", observa ela. Tanto é assim que. entre 1991 e 2000. apesar de todos os altos e baixos no desempenho da economia brasileira, o número de registros de novas empresas só desceu abaixo da casa dos 460 mil em 1992. Aliás, em maio e junho do ano passado, quando o Brasil já começava a ser afetado pela crise argentina e as noticias sobre o abastecimento de energia elétrica prenunciavam um colapso econômico, o ritmo de abertura de firmas nas juntas comerciais superou os números dos mesmos meses do ano anterior (confira nos gráficos "A década e a "Febre de negócio"). QUINTO LUGAR - É verdade que as estatísticas das juntas comerciais são apenas uma parte do rei rato dos empreendedores brasileiros. A outra parte está no gigantesco universo da informalidade. Também não se tem ainda um panorama nítido da abertura de empresas no país no ano de 2000, pois as ultimas estatísticas oficiais reunidas pelo Departamento Nacional de Registro do Comércio referem-se somente ao primeiro semestre. Segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) Report de 2001, os brasileiros sentiram, sim, o baque da retração econômica do ano passado. O estudo, realizado em parceria pelo Kauffman Center for Entrepreneurial Leadership, London Business School, indica que a taxa de empreendedorismo no país diminuiu de 16% para 14,2% na população de adultos entre 18 e 64 anos. "Quando fizemos as entrevistas, no período entre maio e julho, o país já estava com o pé no freio devido às medidas de racionamento de energia, às preocupações com a Argentina e à recessão da economia norte-americana que se esboçava nos indicadores", relata Marcos Mueller Schlemm, coordenador das pesquisas locais do GEM. A retração da atividade empreendedora somou-se à ampliação da pesquisa (que incluiu 29 países, contra os 21 do ano anterior) para diminuir a posição do Brasil no ranking do GEM (veja o quadro "Os campeões'). Líder de 2000, ele passou para a quinta posição no ano passado - os lideres de 2001 foram México, com 18,7% e Nova Zelândia, com 15,6%, países estreantes no estudo. Para Schlemm, o cenário econômico adverso influiu decisivamente na queda de desempenho dos empreendedores brasileiros porque 41% deles são movidos pela necessidade de encontrar alternativas de sobrevivência. Para efeito de comparação, nos Estados Unidos, 7% colocado no ranking com uma taxa de 11,7%, a necessidade é a mola propulsora de apenas 11% dos empreendedores. É bom mesmo que os brasileiros estejam mais cautelosos e menos impulsivos na hora de montar um negócio, garantem os consultores e os estudiosos de pequenas empresas. A prudência e o planejamento rigoroso na hora de abrir um negócio não se contrapõem ao traço determinante do empreendedor de correr atrás das oportunidades, riscos e mudanças. Muito ao contrário. Só ajudam a melhorar as suas chances de sobrevivência. "Até meados dos anos 1990, era comum uma pessoa perder o emprego e, sem pensar muito, partir para a montagem de um negócio. Consumia, em pouco tempo, todas as suas reservas e, por falta de planejamento, o negócio não ia para a frente. Hoje, há uma maior compreensão da complexidade que é abrir e administrar um empreendimento", afirma o professor Adelino De Bortoli Neto, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, da Universidade de São Paulo (USP), há 30 anos um estudioso das pequenas empresas. PERFIL CONFUSO - Um dos grandes problemas no mundo das firmas de pequeno porte, segundo os consultores, é que as pessoas costumam confundir empresário com empreendedor. E aí fracassam. "Ser empresário é ser bom para cuidar da gestão de uni negócio já existente. E muitos imaginam que, se são capazes de gerir um departamento de uma grande empresa, cuidar de um negócio menor será bem mais fácil", analisa De Bortoli Neto. A decisão de abrir um negócio motivado apenas pela necessidade de ganhar a vida também prega peça em muita gente. "Não podemos chamar de empreendedora uma pessoa que abre uma empresa quase que por desespero. É uma situação trágica. Se a empreitada iniciada não der certo, ela não terá mais como sustentar a família", afirma Maria Carolina de Souza, do Instituto de Economia da Unicamp. Num estudo recentemente concluído, ela constatou a criação, entre 1989 e 1999, de 8.600 indústrias e 55 mil estabelecimentos comerciais que funcionam sem nenhum funcionário. "Isso é prova da situação de improvisação e precariedade das pequenas empresas no país. É aquele indivíduo que perdeu o emprego, não encontrou mais colocação e decidiu abrir uma portinha para tocar com a ajuda de um filho ou da mulher", diz Maria Carolina. Acreditar que é possível criar um negócio só na base da improvisação é, em sua opinião, o lado negativo da flexibilidade típica do brasileiro. ATÉ DECOLAR - Qual é então, o perfil do verdadeiro empreendedor? "Empreendedor é aquele que enxerga além das oportunidades, que consegue antever problemas de gestão e de falta de capital para se manter até o negócio decolar", conclui De Bortoli Neto, da FIA-USP. Em seu entender, se de um lado o brasileiro tem um potencial criativo que poucos povos possuem, de outro falta-lhe "massa crítica" suficiente para transformar uma idéia num negócio duradouro e lucrativo. Por falta de "massa crítica" o professor entende ausência do apoio oficial para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias e ferramentas de gestão, falta de incentivos e amparo de governos e instituições acadêmicas e financeiras. "Com toda essa carência, alguém com uma boa idéia acaba ignorando o tamanho da complexidade que envolve a administrarão de um negócio. Esquece que é preciso vender, encontrar novos mercados, estudar a concorrência..." Adicione-se a essa falta de massa crítica o fato de o Brasil apresentar a menor taxa de investidores informais para o financiamento de atividades empreendedoras entre os 29 países pesquisados GEM 2001: 0,9%. Na prática, isso funciona como mais um inibidor da atividade empreendedora no país. "Enquanto ate 6,2% dos adultos da Nova Zelândia investem em alguma atividade de terceiros, essa prática por aqui é quase inexistente", compara Marcos Mueller Schlemm, coordenador do estudo no Brasil. Outro dado importante levantado pelo GEM 2001 que ajuda a dimensionar a escassez crônica de capital para novos negócios no Brasil é que 40% das empresas nascentes são custeadas no início pela própria família. "É um índice muito alto. Ao pôr em risco o patrimônio familiar, o empreendedor está expondo muitas pessoas", avalia Schlemm. No levantamento do GEM, os investimentos informais na abertura de negócios de terceiros nos 29 países pesquisados somam US$ 196 bilhões, correspondentes a 1,1% do PIB combinado dessas nações. A taxa mais alta é a da Coréia do Sul, com 3,3% do PIB. A mais baixa também é do Brasil, com 0,14%. De acordo com o Kauffman Center, somente quando esse índice alcança de 1% a 2% do PIB é que a abertura de negócios começa a ter impacto no desempenho da economia nacional. IMPROVISO MATA - Calcanhar-de-aquiles de muitos novos empreendedores, as dificuldades financeiras e a falta de crédito barato estão justamente entre as principais causas de mortalidade das pequenas empresas no país, que também sofrem com a conjuntura econômica, o improviso no planejamento, o descuido com o gerenciamento do negócio, falta de visão do futuro e conhecimento do cliente. O resultado é um elevado número de portas fechadas no primeiro ano de atividade: 50% a 61%, conforme a região do país. segundo o Sebrae nacional. Em São Paulo, pesquisa feita pelo Sebrae no período de 1995 a 2000 constatou que sete em cada 10 empresas encerram suas atividades antes de completar o quinto ano de atividade. A taxa de mortalidade no estado, de 32% no primeiro ano, passa a 44%, 56%, 63% e 71% nos seguintes. Mais do que a concorrência com as grandes empresas, a conjuntura econômica tem sido a maior inimiga do sucesso nos negócios apontados, segundo a pesquisa do Sebrae-SP. Já a falta de clientes está entre as principais causas da extinção de empresas. Mas os clientes não somem por acaso, lembram os consultores, e sim porque o empreendedor não pesquisou previamente seu mercado-alvo nem planejou adequadamente o negócio antes de abri-lo. SEM AJUDA - Apesar da multiplicação dos pequenos negócios no país na última década, um número reduzido de empreendedores no Brasil procura se capacitar para a abertura e a administrarão de empreendimento. "Eles normalmente só buscam ou orientação ou a ajuda de um curso quando o caos já está instalado na gestão de seu negócio", diz De Bortoli Neto. Outro requisito básico para o empresário, a disposição de trabalhar em grupo, também costuma ser desprezado, o que entrava o amadurecimento do setor das pequenas empresas, acrescenta o professor da FIA / USP. "Eles acham seu negócio tão genial que, se o compartilharem com outros, correm o risco de ser copiados. Esse isolacionismo impede uma evolução mais rápida." As 100 dicas que reunimos nas próximas páginas têm o objetivo de ajudar você a evitar armadilhas como essas e a ficar longe das estatísticas de fracasso. Elas contemplam desde a fase de preparação e planejamento do empreendimento à gestão nos primeiros tempos e foram mineradas pelos seguintes especialistas: Adão de Souza, da Adão & Souza Soluções em Vendas; Adelino De Bortoli Neto, da Fundação Instituto de Administração da USP; Ana Vecchi, da Vecchi&Ancona Consulting; Carlos Homero de Carvalho, especializado na área jurídico-empresarial; Carlos Macedo, gerente da PricewaterhouseCoopers; Dalmo Almeida, da Neo Consultoria em Inovação; Edgar Dutra Zanutto, do Núcleo de Patenteamento e Licenciamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp); Edmour Saiani, da Ponto de Referência; Egnaldo Paulino, da área de informática do Sebrae-SP; Francisco Guglielme, da F. Guglielme Consultoria; Gilca Marchesan Bellaguarda, da Marchesan e Verner Consultoria; Gustavo Huber, da Huber Consultoria, Helton Haddad Silva, consultor da Sher Marketing; João Batista Brandão, professor de administração da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo; Jorge Manoel, sócio da PricewaterhouseCoopers; José Carlos Motta, da Deloitte Consulting; José Eduardo Ferreira Lopes, do Sebrae-SP; José Maria Alcazar, diretor da Seteco Serviços Técnicos Contábeis; Júlio César Durante, da área contábil do Sebrae-SP; Luiz Carlos Merege, coordenador do Centro de Estudos do Terceiro Setor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo; Manfredo Arkchimor Paes, da área de administração geral do Sebrae-SP; Marcelo Cherto, do Instituto Franchising; Mário Persona, especialista em marketing na Internet; Milton dos Santos, da Mcon Consultoria Empresarial; Milton Fumio Bando, da área de administração geral do Sebrae-SP; Paulo Ancona, da Vecchi&Ancona; Paulo Angelim, da Paulo Angelim Consultoria em Marketing; Paulo César Montenegro, da área de produção do Sebrae-SP; Paulo Farias, da Paulo Farias Consultoria Empresarial; Reinaldo Domingos, da Confirp Consultoria Contábil; Reinaldo Messias, da área de produtividade do Sebrae-SP; Roberto Adami Tranjan, da Cempre Conhecimento e Educação Empresarial; Rosa Pinho Bernhoeft, da Alba Bernhoeft Consultores Associados; Roy Martelanc, professor de Administração Financeira da Faculdade de Economia e Administração da USP; Sebastião Bomfim Filho, do Grupo MG Master, e Sebastião de Oliveira Campos Filho, da Oliveira Campos Consultoria Empresarial. Use essa coleção de mandamentos como ponto de partida para realizar seu sonho de montar o próprio negócio e se antecipar aos problemas que certamente aparecerão. Em seguida, aprofunde seus conhecimentos e capacitação. Se você se preparar bem antes e, depois, administrar sua empresa com paixão e profissionalismo, certamente fará parte do time de vencedores que vai montar um negócio lucrativo, forte e saudável em 2002 e por muitos anos. ALTOS E BAIXOS Necessidade e oportunidade: O percentual (14,2%) de brasileiros envolvidos com novos negócios é superior ao dos Estados Unidos (11,7%). Mas, aqui, uma proporção muito maior (41% contra 11%) empreende por questão de necessidade, e não em função de oportunidades vislumbradas. Medo do risco: Apenas 0,9% das pessoas físicas investiram recentemente em algum negócio emergente de terceiros. Trata-se do índice mais baixo registrado em todos os 29 países onde foi feita a pesquisa. Burocracia pesada: A presença do governo tem diminuído nas últimas décadas, mas a intervenção estatal ainda se manifesta na exigência de custosos procedimentos burocráticos. Caro e escasso: As principais restrições à atividade continuam sendo a falta de tradição de capital de risco e de acesso ao crédito de forma geral. De quebra, os programas de financiamento são mal divulgados. Gargalo crítico: O sistema educacional ainda não dá a devida atenção à cultura do empreendedorismo. Os programas existentes estão distantes da realidade e têm pouca integração com as escolas.