A Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) está envolvendo uma variedade transgênica de eucalipto, que permitirá a redução no custo florestal e de produção do papel. O projeto é co-financiado pela Cia. Suzano Papel e Celulose, que espera reduzir os custos florestais em R$ 3 milhões por ano-cerca de 5% da despesa total com as áreas reflorestadas da empresa.
O professor associado ao departamento de Genética pesquisadora da Esalq Carlos Alberto Labate, 46, informou que o projeto foi iniciado em julho do ano passado, com investimentos R$ 2 milhões. Somente a Suzano investiu R$ 1 milhão até agora. Labate é o coordenador projeto, quê reúne mais 37 pesquisadores.
O objetivo da pesquisa, segundo Labate, é alterar a qualidade da madeira produzindo um eucalipto com menor teor de lignina, substância existente nas células vegetais que dá resistência à madeira. "A lignina funciona como um cimento de polissacarídeo (carboidrato), que precisa ser retirado no processo de produção da celulose. A gnina também dá a cor amarelada ao papel", disse Labate.
O pesquisador informou que para produzir o papel, o eucalipto é picotado transformado em cavacos (pequenos pedaços), que vão para uma caldeira para serem cozidos com vários produtos químicos, como sulfeto, para a retira da celulose. "Para extrair a celulose é preciso solubilizar a lignina. Nós estamos buscando reduzir a quantidade de lignina na fibra e melhorar solubilidade tornando a extração da celulose mais fácil", disse Labate.
O projeto é financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e a Suzano. Ainda tem a parceria do instituto Uniemp (Fórum Permanente das Relações Universidade-Empresa). A perspectiva é ter os primeiros resultados florestais em cinco anos.
PROCESSO
Labate disse que foram clonados vários genes relacionados à produção de lignina, com a finalidade de se alterar a expressão dos mesmos. Os pesquisadores vão tentar criar uma espécie de ruído na leitura desses genes, que resulte em uma produção menor da substância.
Labate informou ainda que diminuir o custo de produção num país que é líder na produção de papel com eucalipto é muito difícil. Por isso, aumentar o rendimento da polpa em 2% ou 3% será um grande ganho.
O pesquisador disse que com a redução da lignina a indústria vai utilizar menos produtos químicos e, conseqüentemente, o impacto ambiental da produção será menor. "O Brasil tem uma das melhores tecnologias florestais do mundo, mas é preciso manter a liderança", disse Labate.
O gerente de recursos naturais da Cia. Suzano de Papel e Celulose, Luís Cornacchiom, disse que a expectativa do projeto é reduzir em R$ 3 milhões, o equivalente a 5%, as despesas anuais de R$ 60 milhões com produção de madeira. A empresa investe US$ 3 milhões por ano em pesquisa florestais próprias ou associadas à universidades ou institutos.
"A vantagem será ter mais celulose por hectare, mas isso tem um limite. Até o teste no campo vão ser seis ou sete anos, daí virão os testes de laboratório. É uma pesquisa longa", disse Cornacchioni.
Notícia
Jornal de Piracicaba