Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que o Espírito Santo lidera o aumento da frequência das ondas de calor e de frio no País.
O estudo monitorou a temperatura em cinco regiões costeiras do Brasil, de hora em hora, ao longo de 40 anos. O objetivo era identificar a frequência e a intensidade dos chamados eventos extremos, ou seja, uma temperatura que foge do padrão esperado para aquela região ou estação.
As cidades monitoradas foram São Luís (Maranhão), Natal (Rio Grande do Norte), Iguape (São Paulo), Rio Grande (Rio Grande do Sul) e São Mateus (Espírito Santo). Foram selecionados municípios que tinham dados climáticos disponíveis publicamente ao longo dos 40 anos de monitoramento.
Em território capixaba, a ocorrência de eventos extremos triplicou, saltando de 7 registros no ano de 1980 para 21 ocorrências no ano de 2019. Comparando as duas décadas (de 1980 a 1989 e de 2010 a 2019) o aumento foi de 188%, superior ao registrado em São Paulo (84%) e no Rio Grande do Sul (100%). Já no Maranhão e no Rio Grande do Norte, não foi registrado aumento de frequência de ondas de calor nem de frio.
“Eventos extremos sempre existiram, mas o motivo de preocupação é quando eles ficam cada vez mais intensos ou acontecem mais vezes. Nosso modelo apontou que a frequência tem aumentado ano a ano, e isso é preocupante”, alertou o pesquisador do Instituto do Mar (IMar/Unifesp), Ronaldo Christofoletti.
O pesquisador ainda aponta que, além dos extremos de temperatura, a amplitude térmica diária também tem aumentado. A amplitude é o resultado da temperatura mais quente registrada no dia subtraída da mais fria. “Os dias estão cada vez mais variáveis em temperatura. Isso representa uma instabilidade climática”, disse.
Para o biólogo Daniel Gosser Motta, os eventos extremos afetam diretamente a vida humana e o curso da natureza.
“As alterações climáticas podem influenciar no ciclo da chuva, promovendo grandes eventos de inundações e deslizamentos de encostas. Nos grandes períodos de seca, a agricultura é diretamente afetada”, disse.
Além disso, há maior incidência de problemas respiratórios, perda de biodiversidade e diminuição do volume dos recursos hídricos.
A pesquisa
Foram analisadas as temperaturas, hora a hora, de cinco regiões costeiras do País ao longo de 40 anos.
Objetivo era identificar a ocorrência de eventos extremos.
Dados
No Espírito Santo, a frequência de eventos extremos saltou de sete registros em 1980 para 21 ocorrências em 2019.
A taxa de aumento de eventos extremos no ES foi de, em média, de 4,7% ao ano.
Os resultados
São Mateus (Espírito Santo): aumento de 188%.
Rio Grande (Rio Grande do Sul): aumento de 100%.
Iguape (São Paulo): aumento de 84%.
São Luís (Maranhão): sem aumento.
Natal (Rio Grande do Norte): sem aumento.
A diferença entre a maior e a menor temperatura registrada em um dia também aumentou em todas as regiões analisadas, segundo o estudo.
Impactos
Aumento da mortalidade de idosos.
Aumento dos casos de problemas respiratórios, que sobrecarregam hospitais e demandam mais recursos públicos.
Alterações no ciclo da chuva, causando inundações e deslizamentos.
Nos eventos de seca, perda de habitats de animais devido ao aumento dos focos de incêndio.