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Jornal do Brasil

Enzima presente no cigarro pode dar 'onda' (1 notícias)

Publicado em 22 de fevereiro de 1996

LONDRES - Pesquisadores americanos identificaram, na fumaça do cigarro, os efeitos de uma misteriosa substância que, junto com a nicotina, pode dar onda aos fumantes. Tanto a nicotina quanto a nova enzima, chamada oxidase de monoamina B, ativam a dopamina, neurotransmissor que conduz os sinais entre os neurônios (células nervosas) e afeta o humor. Outros especialistas afirmam que o estudo ajuda a explicar por que os cigarros podem viciar tanto. A pesquisa também pode colocar o tabaco na categoria das substâncias que deixam as pessoas mais suscetíveis ao vício das drogas ou do álcool. O estudo se concentra na oxidase de monoamina (MAO), que digere as moléculas de dopamina. Joanna Fowler, química orgânica do Laboratório Nacional de Brookhaven, em Upton, nos EUA, e sua equipe descobriram que os fumantes têm, em seus cérebros, concentrações de MAO mais baixas do que ex-fumantes ou pessoas que nunca fumaram. Isto pode significar que haja mais dopamina em seus cérebros. Drogas como a cocaína e a heroina têm efeitos similares. "A dopamina é uma substância química que traz sensações de motivação e gratificação", diz Fowler. "Todas as drogas liberam dopamina quando consumidas em excesso. Os cigarros também. Além disso, há alguma outra coisa no tabaco que mantém os níveis dosa substância altos", explica a cientista. Ela não sabe que substância é essa, mas diz que a nicotina não tem efeitos sobre a MAO. A equipe de Fowler examinou o cérebro de voluntários a partir de tomografias. "Os cérebros dos fumantes mostram um decréscimo de 40% nos níveis de MAO em relação aos não fumantes ou ex-fumantes", escreveram os pesquisadores, em artigo da revista Nature. Fowler lembra que, até então, os estudos anteriores procuravam pela enzima em amostras de sangue. "É interessante como se sabe tão pouco sobre os efeitos do agarro no cérebro", diz. Pesquisadores franceses divulgaram, no ano passado, que estavam empregando o antidepressivo moclobemida, que inibe a MAO, para ajudar os fumantes a largarem o vício. Os inibidores de MAO também são usados para tratar o mal de Parkinson, doença associada a baixos níveis de dopamina. Fowler lembra que pessoas com depressão ou esquizofrenia são propensas a fumar. Também há pesquisas mostrando que fumantes têm menos chances de contrair mal de Parkinson. "Especula-se que os que sofrem de depressão e fumam estariam se automedicando."