Recentemente, pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) criaram um método inovador para a detecção de anticorpos contra o SARS-CoV-2.
Introdução
Durante a pandemia do novo coronavírus, sabe-se que a demanda por testes passou a ser imensa e vários tipos de testes foram desenvolvidos. Nesse sentido, uma pesquisa apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) apresentou uma curiosa forma de encontrar anticorpos para o SARS-CoV-2.
Com a utilização de uma enzima produzida por vagalumes da espécie Amydetes vivianii, é possível detectar anticorpos que combatem o novo coronavírus. Isso ocorre porque, a partir de técnicas de engenharia genética, os pesquisadores combinaram a enzima a uma proteína capaz de se ligar aos anticorpos – a proteína spike, encontrada na superfície viral.
Dessa forma, caso os anticorpos estejam presentes, a proteína se ligará a eles e a enzima – pertencente à classe das luciferases – catalisará reações de conversão de energia química em energia luminosa. Consequentemente, ocorrerá o fenômeno da bioluminescência. Vale destacar que as luciferases de vagalumes dessa espécie geram um dos brilhos mais intensos e estáveis encontrados na natureza e, felizmente, o DNA que codifica essa enzima foi clonado, de modo que não haverá a necessidade de caçar ou criar o inseto em cativeiro.
Patente
O trabalho foi feito no Laboratório de Bioquímica e Tecnologias Bioluminescentes da UFSCar e teve a colaboração de Paulo Lee Ho, do Instituto Butantan. O professor Vadim Viviani, responsável pelo descobrimento da espécie utilizada e pela clonagem do DNA codificador de suas luciferases, já solicitou a patente da invenção. Segundo Vadim, o artigo que descreve a invenção ainda está sendo desenvolvido – considerando o ritmo extremamente rápido de publicação de artigos focados na pandemia durante o último ano.
Testes
De acordo com Viviani, a invenção foi testada para diversos anticorpos e eles foram detectados a partir de técnicas de Imunoblot e Western Blot – que consistem em testes imunoenzimáticos que são utilizados para confirmar testes positivos, em razão da alta especificidade.
Nas técnicas de Imunoblot, amostras de antígenos são imobilizadas em um suporte sólido para detectar anticorpos contra determinadas proteínas. Assim, as amostras são tratadas com o soro sanguíneo do paciente e, caso ele apresente anticorpos, o material irá se ligar ao antígeno utilizado e será formado um complexo antígeno-anticorpo. Em seguida, o complexo é revelado por uma proteína com alta afinidade por anticorpos, ligada à luciferase, gerando bioluminescência.
Já no caso do Western Blot, as proteínas são separadas por meio da eletroforese em gel, uma vez que os íons migram em um campo elétrico. Dessa forma, as proteínas são transferidas do gel para uma membrana, tipicamente de nitrocelulose ou PVDF.
E agora?
O próximo passo dos pesquisadores é descobrir se a bioluminescência pode ser produzida a partir da quantidade de anticorpos verificados na saliva ou no esfregaço nasal. Dessa forma, o biossensor poderá ser usado como um teste rápido e não-invasivo para COVID-19. Outra alternativa é a utilização de nanotecnologia para o desenvolvimento de outros imunoensaios.
Autor: Marcelo Queiroz Alves
Referências
Arantes, José Tadeu. Enzima bioluminescente produzida por vagalume poderá ser usada para detectar o novo coronavírus. AGÊNCIA FAPESP, 16 de julho de 2021. Disponível em:
<https://agencia.fapesp.br/enzima-bioluminescente-produzida-por-vagalume-podera-ser-usada-para-detectar-o-novo-coronavirus/36330/>.