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Agência C&T (MCTI)

Entrevista: James Rojas Waterhouse

Publicado em 01 maio 2008

Por Roberta Salgado G. da Silva

Em entrevista ao Portal Ripa, professor de Engenharia Aeronáutica da USP de São Carlos James Rojas Waterhouse e empresário fabricante de aviões pela Aeroálcool Tecnologia, com sede em Franca (SP), e pesquisa o motor movido a álcool para aviões há sete anos.

Ripa: Quais usos dos aviões agrícolas?

JW: O avião tem diversos usos na agricultura. Para pulverizar defensivo e metarrizo (agente biológico contra a cigarrinha, que ataca a cana). Na germinação do arroz e no semeio da mucuna e outras leguminosas para fixar nitrogênio no solo, Na ferrugem asiática, fungo de grande agressividade, se tardar na pulverização, a safra quebra de 20% a 30% rapidamente.

Ripa: Há outras vantagens em relação ao trator?

JW: O trator esmaga a cultura, compacta o solo e é lento. O operador de tratores carece de instruções para lidar com agentes biológicos ou químicos de grande risco e prejudiciais à natureza. Muitas vezes, no final da operação, lavam o tanque dos tratores com água de rios e contaminam os mananciais. O avião é operado por um piloto, com formação e especialização para realizar o trabalho.

Ripa: Como aumentar o uso dos aviões no agronegócio?

JW: O uso é muito baixo, mas com a tecnologia do uso do álcool poderíamos fazer aviões menores. Com custo de R$ 18 por hectare, o avião é inviável para propriedades abaixo de cinqüenta hectares. Os Estados Unidos combatem mosquitos com o avião. No Brasil não se combate o mosquito da dengue com avião. Não adianta usar o avião uma vez por mês.

Ripa: Quanto a safra de grãos poderia ser ampliada com o uso do avião?

JW: Se tirarmos o avião, podem ocorrer quebras de safra da ordem de 50%. Toda a soja do planalto central é pulverizada com o avião. O mundo precisa de comida e energia (biomassa). Na Flórida, os americanos pulverizam com avião a laranja, que tem vazão (quantidade de produto por hectare) acima de 50 litros por hectare. Para o reflorestamento é uma mina de ouro por meio da fertilização.

Ripa: Qual é a capacidade de vôo de um avião agrícola?

JW: Os aviões brasileiros voam com 600 quilos em média de carga. A distância é sempre curta. As pistas são dentro da própria lavoura. Em caso de fertilização, o avião joga a carga em cerca de 30 segundos. Consome bastante combustível, mas tem que levar a carga.

Ripa: Como ocorreu o primeiro vôo comercial de uma aeronave movida a álcool?

JW: O primeiro avião movido a álcool foi produzido pelo Centro Técnico Aeroespacial. A tecnologia era “crua”. Em 1998, vi a possibilidade de fabricar aviões movidos a álcool. No final de 2001, fizemos o primeiro vôo comercial, na área de cana-de-açúcar, na cidade de Colina (SP). Demos início ao primeiro processo de certificação, antes da Embraer. O processo ficou incompleto por falta de capital.

Ripa: Como está a pesquisa com motor bicombustível para aviões?

JW: A pesquisa anda devagar, com capital próprio. Proporemos um projeto à Fapesp e à Finep. A viabilidade desse projeto passa pela melhoria em software e hardware, que exercem funções vitais dentro de um avião. O motor flex tem que ser inteligente, com software seguro, que ainda não sabemos fazer.

Ripa: Qual é a vantagem do motor bicombustível em aeronaves?

JW: Temos de desenvolver uma tecnologia que consuma gasolina ou álcool. Como em alguns lugares ele é mais barato, as pessoas buscam álcool onde conseguirem. A implantação de uma matriz de distribuição seria uma tarefa do governo, assim como fez com o automóvel. As condições tecnológicas acontecerão quando for rentável vender álcool nos aeroportos.

Ripa: Como é a formação de recursos humanos no setor aeronáutico?

JW: A USP formados 40 engenheiros por ano. Na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, o curso de engenharia mecânica tende para a engenharia aeronáutica. O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), voltado para o meio militar, forma pouca gente. O mercado financeiro drena um número grande de engenheiros formados pelo ITA. Poucos cursos no Brasil têm nível elevado para formar bons técnicos e pilotos. Na década de 1940, se formava piloto em aeroclubes a custo e nível baixos, subsidiado pelo estado. Para os mecânicos, há disponível apenas uma bibliografia básica e mal traduzida no passado. Já a Federal Aviation Administration (FAA) norte-americana tem milhares de páginas na internet e centenas de livros.

Ripa: Como as autoridades vêem isso?

JW: Falta visão na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) A incompetência da matriz aeronáutica reflete na sociedade. Se o avião é caro porque a mecânica é ruim, há risco de cair e as seguradoras aumentam os prêmios. Tudo reflete no preço das passagens.