Por definição, a medicina nuclear é uma especialidade médica que usa radiofármacos – ou seja, materiais radioativos – para diagnóstico e tratamento de doenças, especialmente contra o câncer. Em Campinas (SP), uma parceria entre a Unicamp e a Organização das Nações Unidas (ONU) pretende, nos próximos quatro anos, tornar o uso desses compostos rotineiro e em larga escala.
A união entre a universidade e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU resultou na criação do Centro Nacional de Ensino e Treinamento em Radiofarmácia em Medicina Nuclear, com investimento de cerca de R$ 2,7 milhões. Além de acelerar a sintetização de radiofármacos, o projeto pioneiro na América Latina também pretende capacitar profissionais na área.
Por que radiofármacos? Pesquisadora principal do centro, a médica Elba Etchebehere explica que, atualmente, o Brasil enfrenta um problema de desabastecimento dos compostos, distribuídos pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
“O Ipen está ficando desabastecido e tendo um problema realmente de verba, de incentivo para continuar produzindo para o Brasil. Estão surgindo as empresas privadas para produzir, estão tentando suprir o mercado, mas é um mercado que está muito desabastecido”, afirma.
Nesse cenário, a produção de novos radiofármacos, bem como o acesso aos produtos e o ensino sobre a medicina nuclear, ficaram prejudicados, segundo a pesquisadora. “Éramos 'de ponta' no Brasil em medicina nuclear e fomos ficando para trás”, lamenta.
Como é a atuação do projeto? Uma das frentes do Centro Nacional é a produção de radiofármacos que ainda não estão disponíveis no Brasil e são utilizados no tratamento do câncer. Para isso, foi inaugurada, na última semana, a Radiofarmácia do Serviço de Medicina Nuclear no Hospital de Clínicas da Unicamp.
"Vamos marcar essas moléculas que hoje não são marcadas no Brasil. [...] Por exemplo, molécula para receptor de estrógeno em câncer de mama, molécula para Alzheimer, moléculas para uma infinidade de tumores, infecções e inflamações. Várias moléculas principalmente oncológicas", explica.
A partir de 2025, o espaço também vai oferecer um programa de residência para radiofarmacêuticos em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas da universidade, além da criação de novas linhas de pesquisa em parceria com o Centro de Inovação Teranóstica em Câncer (CancerThera), da Fapesp.
Por Gabriella Ramos, g1 Campinas e Região