Em uma sociedade cada vez mais conectada, se torna mais difícil moderar o tempo gasto nas redes sociais. A vida digital toma o protagonismo da vida real e tempo gasto fora das redes sociais se torna raro. E começa desde cedo, não é difícil observar crianças desde novas com celulares e tablets nas mãos, entretanto esse tempo excessivo na frente das telas acarreta diversos riscos, mentais e físicos.
O uso exagerado pode causar dores na coluna e puberdade precoce, segundo um estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e publicado na revista científica Healthcare. O foco do estudo foi a chamada dor no meio das costas (thoracic back pain, ou TSP). Ainda de acordo com a pesquisa, entre os fatores de risco estão no uso de telas por mais de três horas por dia, a pouca distância entre o equipamento eletrônico e os olhos, a utilização na posição deitada de prono (de barriga para baixo) e na posição sentada.
O tempo gasto com dispositivos eletrônicos (por exemplo ver televisão, jogar videogames, utilizar o computador e smartphones, incluindo comunicações electrônicas, e-games, e internet) pode ser classificado da seguinte forma:
baixo (menos de 3 horas/dia);
médio (acima de 3 horas/dia até 7 horas/dia);
alto (acima de 7 horas/dia).
A TSP possui tratamento. Esses podem ser realizados por meio de reeducação postural global, o pilates e a fisioterapia baseada em recursos eletrotermofototerapêuticos. No entanto, outros fatores de risco físicos, fisiológicos, psicológicos e comportamentais ou uma combinação deles também podem estar associados à TSP.
Puberdade precoce
A puberdade é um ciclo natural, porém as crianças estão entrando nessa fase cada vez mais cedo. O ganho de peso, consumo excessivo de alimentos ultraprocessados e sedentarismo estão entre as principais causas. Mas, outro fator tem chamado a atenção dos pesquisadores. De acordo com o resultado de uma pesquisa apresentada durante a 60ª Reunião Anual da Sociedade Europeia de Endocrinologia Pediátrica, a alta exposição às telas, como tablets e celulares, pode ser uma das causas.
A exposição também altera a produção de hormônios, como a melatonina. Essencial para o ciclo do sono, a menor produção do hormônio leva o corpo a pensar que já está na hora de entrar na puberdade. Outros fatores também alteram a produção de leptina e a serotonina.
Influência no comportamento
Além desses riscos, o uso desmoderado também pode influenciar nas emoções e nos comportamentos das crianças. Segundo a neuropsicóloga e educadora parental Licia Assbu, embora os jovens tenham mais habilidades tecnológicas, eles não possuem maturidade. “Eles ainda não têm a bagagem, experiência e conhecimentos necessários para filtrarem alguns comportamentos estimulados pelas redes sociais. Exemplo isso são os tristes exemplos dessas atitudes “viralizando” e ganhando o mundo”, diz.
O bullying virtual é outro fator que as crianças ficam expostas. Mensagem difamatórias ou ameaçadoras podem ocorrer no ambiente virtual, pode meio das redes sociais, e-mails, sites, mensagens de celulares entre outros.
A neuropsicóloga ainda lembra riscos da exposição desmoderada:
O cérebro das crianças ainda está em formação. E as redes sociais incentivam preocupação com “likes” e excesso de exposição. Isso cria uma necessidade de validação externa, os tornando pessoas inseguras no futuro;
A facilidade de contato com pessoas desconhecidas de todo tipo, isso pode promover grande perigo as crianças;
Modas e tendências passam. O que hoje pode ser divertido, amanhã poderá ser motivo de vergonha;
Fotos e vídeos podem facilmente “viralizar” na internet. Assim como podem tornar nossos filhos “webcelebridades”, também podem torná-los vítimas de cyberbullying;
Redes sociais são feitas para adultos, por isso estimulam a “adultização” das crianças. Crianças “adultizadas” podem se tornar adultos infantilizados.
Ideias para diminuir o tempo das crianças nas telas
Crianças e adolescentes devem manter uma rotina com hábitos saudáveis. Atividade física, sono adequado e alimentação natural – com consumo reduzido de produtos industrializados – já reduz o tempo livre para uso de telas. A educadora parental Licia Assbu oferece dicas de atividades para os pais realizarem com as crianças. Confira!
Incentive a criatividade
Chame para fazer desenhos, pintar. Pode ser com lápis de cor, canetinhas, giz de cera ou tinta guache. Adapte para o que faz mais sentido na sua casa e para a idade de sua criança. Para aguçar ainda mais a vontade, você pode criar uma exposição de desenhos, montar uma galeria de artes etc.
Jogue com seu filho
Jogos são uma ótima opção de diversão e interatividade entre pais e filhos. Vale jogo de tabuleiro, quebra-cabeça, jogo da velha, “adedonha” ou stop, mímica, o importante é se divertirem.
Chame seu filho para ajudar nas tarefas da casa
Ajudar a colocar a roupa para lavar, arrumar a mesa, cozinhar algo gostoso, organizar o guarda-roupa, são ótimas atividades, que além de manter as crianças ativas, ainda estimulam a responsabilidade delas.
Passeios ao ar livre
Vale uma ida na praça, uma volta no quarteirão, uma brincadeira de bola em uma quadra ou espaço aberto. Atividades ao ar livre, colocar o corpo em movimento, se desconectar das telas, é uma mistura poderosa que reduz a ansiedade e proporciona ótimos momentos em família.
Conexão com seu filho
E o último, mas mais importante, é: se conecte com seu filho! Sem isso nenhuma outra atividade dará certo. Dedique tempo de qualidade, tenha disponibilidade e entrega genuína nas atividades com ele, isso irá criar uma conexão poderosa na relação de vocês e uma diminuição da necessidade das telas.