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Jornal da Cidade (Bauru, SP) online

Ensino de física para cegos é desafio (1 notícias)

Publicado em 15 de outubro de 2013

No lugar de gráficos desenhados na lousa, maquetes em três dimensões que podem ser tocadas pelos alunos. Feitas em materiais acessíveis como barbante, arame, massa de modelar, plástico, isopor e pregos, elas podem ser facilmente adotadas pelas escolas para facilitar o aprendizado de estudantes com deficiência visual.

 

Embora simples, a ideia extremamente original é produto de um longo estudo elaborado pelo professor de educação para a ciência Eder Pires de Camargo, formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru, campus onde ainda ministra aulas.

 

A pesquisa, iniciada em 2005 durante o curso de pós-doutorado, resultou na publicação do livro “Saberes docentes para a inclusão do aluno com deficiência visual em aulas de física”, lançado em 2013.

 

Ainda que tenha como foco a educação inclusiva de temas como óptica, eletromagnetismo, mecânica, termodinâmica e física moderna, a pesquisa possui um sentido mais abrangente, na medida em que busca caminhos para driblar as estratégias tradicionais de ensino, onde o professor usa, majoritariamente, a fala e a informação visual para se comunicar com os alunos.

 

E, ao transferir o conteúdo da lousa para modelos táteis, a pesquisa demonstrou que estas ferramentas não apenas incluem os alunos cegos nas aulas, mas também facilitam o processo de aprendizado dos demais estudantes, além de incentivar a interação entre os colegas de sala.

 

“Foi algo que constatamos junto a um grupo de 35 alunos do ensino médio de Bauru, sendo dois deles cegos, que fizeram parte do estudo”, pontua Camargo, que também é deficiente visual.

 

 

Novas estratégias

 

Nascido em Lençóis Paulista, Camargo começou a perder a visão aos 9 anos de idade e foram as dificuldades enfrentadas por ele que o motivaram a estudar novas formas de ensinar os alunos.

 

“Por sorte, encontrei pelo caminho muitos professores dispostos a me ajudar. Mas não havia método específico, as adaptações curriculares eram feitas de maneira mais instintiva do que planejada”, salienta.

 

O pesquisador destaca que, pelo método tradicional de ensino, mais de 90% da comunicação entre professores e alunos ocorre por meio da fala, audição e visão. Por este motivo, o estudante cego acaba recebendo apenas parte do conteúdo e, assim, fica impedido de aprender adequadamente e até mesmo formular perguntas sobre aquilo que está sendo ensinado.

 

Mas Camargo ressalta que as soluções apresentadas pelo estudo, embora representem um avanço, não são definitivas e precisam ser acompanhadas de novas formas de pensar, planejar e aplicar as aulas.

 

Estudo

 

Para encontrar mecanismos que possibilitassem a educação inclusiva de alunos deficientes visuais, o professor Eder Pires de Camargo passou um ano coletando dados com a ajuda de 20 estudantes de licenciatura em física da Unesp de Bauru e uma sala de 35 alunos do ensino médio de uma escola da cidade.

 

Na primeira etapa, os futuros professores de física foram desafiados a planejar materiais e atividades de ensino que permitissem a participação de alunos com e sem deficiência visual.

 

“Depois, esses futuros professores deram aulas de física para estes alunos. Para tanto, se dividiram em cinco grupos, de acordo com os temas: óptica, eletromagnetismo, mecânica, termodinâmica e física moderna”, detalha.

 

Segundo Camargo, os resultados foram surpreendentes. “A pesquisa mostrou que, em muitos momentos, o professor precisa, sim, utilizar estratégias específicas para os cegos, como o braile e as provas adaptadas. Mas ele também pode desenvolver técnicas multissensoriais que são adequadas para ensinar os dois tipos de alunos”, frisa.

 

Livro gratuito

 

Lançado em 2013 pela Editora Unesp, o livro “Saberes docentes para a inclusão do aluno com deficiência visual em aulas de física” pode ser baixado gratuitamente no site www.editoraunesp.com.br.

 

A pesquisa que resultou na obra foi objeto do pós-doutorado do professor Eder Pires de Camargo, sob a supervisão do professor Roberto Nardi e com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

 

Este é o terceiro livro escrito pelo autor sobre educação inclusiva para deficientes visuais e a versão impressa também pode ser comprada no site da editora pelo preço de R$ 30,42. Segundo Camargo, já há planos para a publicação de sua quarta obra, que deve propor modelos teóricos para melhorar a formação dos professores nesta área.