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Ennio Candotti: 'Que não se confunda mudança de diretoria com mudança de rumos' (1 notícias)

Publicado em 23 de julho de 2003

O novo presidente da SBPC, Ennio Candotti, disse que sua gestão será uma suave mas firme continuidade da gestão anterior, o que significa a preservação da história, compromissos e diretrizes de ações Maria da Graça Mascarenhas escreve para a 'Agência Fapesp': Segundo Candotti, que tomou posse em 16/7, a nova diretoria deve trabalhar no sentido de mobilizar os sócios da SBPC e as regionais a darem às questões locais um peso maior nas preocupações da diretoria. Também a educação, o fortalecimento das fundações de apoio à pesquisa (FAPs) e a mobilização das sociedades científicas deverão estar entre as principais preocupações da nova gestão. 'Queremos mobilizar as sociedades científicas de maneira propositiva, de modo que elas não apenas reajam às demandas do governo', disse Candotti. Uma possibilidade seria a realização de estudos de diretrizes para as suas respectivas áreas, para os próximos dez anos, estabelecendo, de acordo com o físico, o que precisa ser desenvolvido e como isso seria distribuído pelo país. Seria como um mapeamento das opções, necessidades e prioridades regionais, não limitada à natural condição de transitoriedade dos governos. 'A resposta mais simples geralmente dada à questão do desequilíbrio regional é tirar de onde está funcionando para colocar onde não está. E esta é uma política suicida', classificou Candotti. Para ele, é preciso preservar as instituições que funcionam e estabelecer com clareza as prioridades de cada região do país. 'Não é possível ter tudo, em todos os lugares, e, portanto, a negociação é fundamental', disse, prevendo uma negociação das mais difíceis com as próprias sociedades, 'não acostumadas a escolher entre opções que sacrificam uma igualdade imediata de oportunidades'. Na avaliação do novo presidente da SBPC, a situação da ciência brasileira é bem diferente de há dez anos, quando ele assumiu a instituição para um segundo mandato. 'Hoje, há uma comunidade científica suficientemente numerosa para se pensar na sua distribuição', destacou. 'Quando o Instituto de Física da USP abre um concurso para o qual aparecem 30 candidatos para uma vaga, pelo menos 20 deles poderiam se deslocar para outros centros de pesquisa, não individualmente, mas em grupos'. Outra grande diferença é que a infra-estrutura de laboratórios nas instituições de pesquisa no país melhorou bastante, apesar de ainda insuficiente, possibilitando o estabelecimento e fortalecimento de grupos de pesquisa em todas as regiões. APROXIMAÇÃO COM EMPRESAS A maior aproximação da SBPC das áreas empresariais privadas e das empresas públicas é outra importante questão assinalada por Ennio Candotti. Essas áreas, na sua opinião, foram mobilizadas pelos Fundos Setoriais e descobriram o interesse e a importância da inovação, da mesma forma que os governos estaduais e municipais. 'Com isto, a atividade de pesquisa ganhou uma nova dimensão', disse. O modelo que ele sugere é a contribuição dessas grandes empresas para a manutenção e expansão do sistema de pós-graduação e de formação de recursos humanos altamente especializados, com nível de doutorado e pós-doutorado, não apenas nas áreas de seus interesses diretos. 'Conversei aqui na reunião da SBPC com Luiz Pinguelli Rosa (presidente da Eletrobrás) e com diretores de empresas de Sistema Eletrobrás, que tem um faturamento da ordem de R$ 17 bilhões. Contaram sobre seus projetos, que são de grandes hidrelétricas, grandes barragens, pensadas para prazos de 10 a 15 anos', disse Candotti, acrescentando ser importante que essas empresas se conscientizem de que formar recursos humanos em pesquisa básica é fundamental, também, para a sua sobrevivência e competitividade, disponibilizando um percentual de seu faturamento para isto. (Agência Fapesp, 18/7)