A Folha da Região publicou no dia 7 reportagem com o engenheiro civil Valério Henrique França, aluno de mestrado da Unesp (Universidade Estadual Paulista), sobre o uso de raspas de borracha de pneu na composição do concreto.
Na ocasião, o engenheiro divulgou o estudo como projeto de seu mestrado. Ele procurou o jornal por e-mail, divulgando a pesquisa, que aborda o uso de borracha como composto de concreto e a aderência desse produto a barras de aço.
No início desta semana, França e a Unesp de Ilha Solteira enviaram à Folha da Região pedido de correção de informações da reportagem.
No texto que enviou ao jornal, o engenheiro acrescenta dados que em momento algum foram citados por ele durante entrevista realizada no dia 28 de agosto, no laboratório da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) de Ilha Solteira, onde desenvolvia seus estudos até então.
A carta de França diz que a utilização de resíduos de pneu não é recente como composto de materiais ligados à construção civil, pois existem vários pesquisadores que estudaram sobre o tema. Na Unesp de Ilha Solteira vem sendo realizada pesquisa sobre o tema pela equipe coordenada pelo professor-doutor Jorge Luís Akasaki. "As composições do concreto a qual eu utilizo em minhas pesquisas tiveram origem com a pesquisa que gerou uma dissertação de mestrado intitulada 'Avaliação de compósitos de concreto com resíduo de borracha na produção de blocos', efetuada pelo engenheiro César Fabiano Fioriti. A divulgação que foi realizada leva o leitor a concluir que estou desenvolvendo uma composição de concreto com uso de borracha, sendo esta informação equivocada, pois desenvolvo um estudo da utilização deste concreto em estruturas armadas. Esclareço que não é inédita esta pesquisa e que não é de meu conhecimento nenhuma pesquisa realizada para estudar a aderência do aço no concreto com utilização de borracha de pneu, sendo este o enfoque principal de minha pesquisa", diz.
O engenheiro diz ainda que a empresa que fornece as raspas de borracha não é de Ilha Solteira e sim de Araçatuba, e que a reportagem mencionou de forma equivocada que a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é o órgão que pode regulamentar o uso da borracha na construção civil, quando na verdade a referida associação regulamenta e normatiza ensaios que devem ser realizados com o concreto.
França esclarece também que é aluno de mestrado e não coordenador da pesquisa. Ele afirma que desenvolve estudo a respeito da aderência do aço/concreto com utilização da borracha de pneu, e que tem como orientadora a professora doutora Mônica Pinto Barbosa e como co-orientador o professor-doutor Akasaki, que forneceram o tema para a pesquisa. Ele garante ainda que o estudo tem como objetivo a viabilização da utilização do concreto com borracha para uso em estruturas armadas e não uma composição de concreto.
Com relação às informações dadas à reportagem da Folha da Região pelo engenheiro, no dia 28 de agosto, vale destacar que naquela ocasião, em nenhum momento o engenheiro citou que doutores, coordenadores e alunos da Unesp estudavam o uso da borracha na produção do concreto. Ele não citou outros trabalhos parecidos, apenas que tinha o conhecimento de pesquisas sobre este tema, mas que não haviam apresentado os resultados esperados por seus responsáveis.
França também não falou que a empresa de onde obtém as raspas de borracha é de Araçatuba. Ele afirmou que se tratava de uma recauchutadora de Ilha Solteira. Tanto que no dia da entrevista sugeriu que o repórter fotográfico Valdivo Pereira o acompanhasse até a empresa para que pudesse fotografar o material raspado.
A reportagem publicada também citou que o engenheiro testava o concreto com borracha e a sua aderência a ferragens. A tônica de toda a entrevista, feita no laboratório da Cesp de Ilha Solteira, foi sobre a produção do concreto. O engenheiro fez demonstrações de como se produzia o concreto com borracha, chegou a pesar a quantidade de materiais usados e até fez um testes que avalia a aderência e liga do material. O engenheiro também quebrou, com o auxílio de máquinas, blocos do concreto com borracha para mostrar que o material usado não alterava o produto. Também apresentou à reportagem blocos feitos com diferentes tipos de concreto para que pudesse ser notada a diferença de peso.
Com relação às normas que viabilizam o estudo, a reportagem errou ao publicar que a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) seria responsável pela normatização do uso do material na construção civil. O órgão apenas regulamenta os ensaios feitos com o concreto.
Na quarta-feira, a Folha da Região recebeu carta da Unesp informando que a utilização de pneus no concreto teve origem em março de 2000, sob a coordenação de Akasaki.
A pesquisa resultou em projetos financiados pela Fapesp (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo) no nível de iniciação científica e da dissertação de mestrado defendida pelo engenheiro César Fabiano Fioriti, em 16 de janeiro de 2002.
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Folha da Região (Araçatuba, SP) online