Menos de dois anos após a Xylella fastidiosa ser seqüenciada no primeiro genoma de um fitopatógeno da história da ciência mundial, pesquisadores do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) conseguem criar mutantes dessa bactéria. O objetivo é anular a função patogênica do microorganismo, que causa a doença Clorose Variegada dos Citros (CVC), conhecida popularmente por amarelinho. Ou seja, verificar se a mutação impede a agregação das células e o entupimento de vasos por onde corre a seiva na planta.
As bactérias mutantes foram obtidas pelo francês Patrice Gaurivaud, bolsista do Fundecitrus, que usou a técnica de inserção de DNA na célula da Xylella, desenvolvida em junho de 2000 pela bióloga da instituição Patrícia Brant Monteiro.
No início do estudo, foram selecionados 27 genes relacionados à patogenicidade da bactéria. Depois, fragmentos de DNA montados com material genético da bactéria Escherichia coli e da própria Xylella foram introduzidos na célula por meio de eletrosporação (técnica que consiste na aplicação de choques elétricos que criam poros nas membranas da célula da bactéria, Abrindo caminho para a entrada do pedaço alienígena de DNA). Dos 27 genes, doze resultaram favoráveis, levando ao desenvolvimento de bactérias mutantes.
"Elas serão inoculada em plantas de fumo, vinca, uva e citros, e serão colocadas numa sala que reproduz as condições climáticas do norte de São Paulo", informa Patrícia. Essa operação começa em 2003 e poderá mostrar se os genes modificados têm influência na patogenicidade da bactéria, apresentando, ou não, sintomas.
Os genes modificados estão ligados a diferentes aspectos do funcionamento da Xylella, como o metabolismo do ferro, objeto de controvérsia entre os pesquisadores que trabalham no projeto Genoma Funcional, que tem como finalidade estudar diferentes aspectos biológicos da bactéria. "Ficamos tentados em pesquisar esse fato porque há um conjunto de genes da Xylella envolvidos no metabolismo de ferro", conta a bióloga. As dúvidas dos especialistas são se a quantidade de ferro seqüestrada causa danos à planta, como se dá esse processo e quais as conseqüências disso na laranjeira.
Além disso, também foram escolhidos genes vinculados à produção da goma que funciona como uma capa protetora do agregado de bactérias formado por células ligadas umas às outras por espécies de pontes denominadas de pilus. Essa goma bloqueia a passagem de água e nutrientes pela planta, entupindo o xilema (sistema de vasos que transporta água e sais minerais por toda planta). Com essa obstrução a CVC aparece.
Patrícia diz não saber quando os benefícios chegarão aos citricultores. "Agora, não temos resposta. É um investimento a longo prazo. Apenas temos conhecimento de como a bactéria provoca a doença", explica.
O amarelinho - doença transmitida por um inseto, a cigarrinha, - traz um prejuízo para a citricultura paulista estimado em US$ 100 milhões. A bactéria incide sobre mais de um terço dos 200 milhões de pés de laranja do estado.
O estudo é financiado pelo Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e vai até 2003, porém poderá ser estendido por mais alguns anos. O custo é de aproximadamente R$ 158 mil. A técnica de inserção de DNA na célula da Xylella foi desenvolvida em junho de 2000 por Patrícia, mas a pesquisa se iniciou em 1998, quando ela estudava na França.
Notícia
O Imparcial (Presidente Prudente, SP)