Notícia

Inovação Unicamp

Empresa farmacêutica prepara patente de polímero para englobar fármaco desenvolvido em parceria com Cepid sediado na Unesp

Publicado em 21 dezembro 2009

Um projeto conjunto de pesquisa entre a empresa farmacêutica EMS e o Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC) para desenvolver um polímero a ser utilizado para englobar fármacos resultará em um pedido de patente a ser depositado em 2010, inicialmente no Brasil. O CMDMC é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiado pela Fapesp, e tem como sede o Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (LIEC), do Instituto de Química da Unesp, situado no campus de Araraquara. A inovação dessa pesquisa está na maneira pela qual o fármaco é englobado pelo polímero. Com a técnica, é possível a liberação controlada do medicamento dentro do organismo do paciente, o que reduz a dosagem e as chances de surgirem efeitos colaterais, além de ampliar a eficácia do medicamento.

Segundo o diretor do CMDMC, Elson Longo, coube aos pesquisadores do Centro fazer a pesquisa exploratória. O objetivo era encontrar polímeros que pudessem ser usados para englobar o fármaco e fazer com que ele fosse liberado apenas no intestino dos pacientes. Além de englobar o fármaco, os polímeros candidatos não poderiam ser rejeitados pelo organismo humano. Para manter o sigilo e o ineditismo necessário à patente, a EMS e o CMDMC não detalham os resultados da pesquisa. A patente deverá ser depositada, primeiro, no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), provavelmente no começo de 2010. Quem está cuidando da redação, de acordo com Longo, é a própria EMS. "Caso a empresa decida exportar, ela deverá também fazer pedido de patente internacional", acrescenta.

Longo explica que, em geral, boa parte dos medicamentos vai se dissolvendo ao longo do percurso dentro do organismo e é destruída no estômago. O uso do polímero pode impedir isso, permitindo a liberação do medicamento apenas no intestino. Assim, o remédio poderia conter uma quantidade menor de substâncias, pois não passaria por esse processo de destruição ao longo de sua passagem pelo organismo. Dessa forma, seria possível melhorar sua eficácia e reduzir as chances de efeitos colaterais. "Essa metodologia vai servir para vários medicamentos. A EMS poderá utilizá-la em vários dos seus produtos", explica Longo.

Finep é cofinanciadora da parceria

O pesquisador informa que os testes clínicos já foram realizados e que pediu uma prorrogação de dois anos do projeto junto a Finep, uma das agências financiadoras da pesquisa, pois ela deveria ter sido concluída em 2009. "Queremos expandir os estudos para outros fármacos", conta. Para chegar ao mercado, ainda seria preciso fazer estudos para produzir os fármacos em escala semi-industrial e industrial, algo que caberá à empresa realizar. "Não é muito complexo fazer esses estudos, mas envolve muito recurso financeiro", diz ele.

A parceria foi estabelecida há três anos, quando a Unesp ainda não tinha sua agência de inovação. Longo explica que não há previsão de pagamento de royalties para a universidade ou o CMDMC. Foi a primeira experiência de parceria desse Cepid com uma empresa do setor farmacêutico. Não foi publicado artigo científico a respeito da pesquisa. "É um dos problemas. São poucas publicações nessa área e não podemos dizer qual tipo de fármaco e de polímero usamos na pesquisa. Não podemos divulgar muitas informações para não comprometer a patente", justifica.

O projeto foi iniciado no começo de 2007. Na época, a Fapesp, que financia o Cepid, divulgou que o CMDMC estava pesquisando com a EMS o desenvolvimento de um nanomedicamento com liberação controlada de ativos anti-hipertensivos. Um dos focos do grupo de pesquisa do centro era estudar a interação entre o polímero e cinco anti-hipertensivos. A ideia era produzir anti-hipertensivos que atuassem em uma determinada estrutura de tecido, como, por exemplo, em músculos estriados cardíacos.

Os centros de pesquisa

Doze pesquisadores do CMDMC se envolveram na pesquisa conjunta com a EMS. Foram investidos R$ 4,5 milhões pela empresa e pela Finep, além dos investimentos feitos ao longo do tempo pela Fapesp para a estruturação desse Cepid. O CMCMC é formado por 120 cientistas de várias instituições públicas de pesquisa, como a USP São Carlos, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). O centro investe em pesquisas para desenvolver novos materiais orgânicos e inorgânicos em áreas como catálise, cosméticos, filmes finos, materiais luminescentes, nanotecnologia, pigmentos cerâmicos, química teórica, sensores e outras.

Já o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da EMS fica em Hortolândia, próximo a Campinas, onde está localizada uma das duas plantas produtivas da companhia ? a outra está em São Bernardo do Campo. Em seu site, a empresa informa que investe anualmente cerca de 6% de sua receita líquida (cujo valor não é divulgado pela empresa) em atividades de P&D. Reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico em 2 de dezembro informa que a farmacêutica deverá investir R$ 600 milhões em 2010 para expandir sua participação no mercado brasileiro e consolidar sua liderança em genéricos.

Waldir Eschberger, vice-presidente de mercado do grupo, contou ao jornal que R$ 150 milhões serão destinados a atividades de pesquisa e desenvolvimento em 2010. A EMS faturou R$ 2 bilhões em 2008. De acordo com o Valor, em agosto a EMS obteve um financiamento de R$ 120 milhões do BNDES para desenvolver novos medicamentos genéricos e uma nova plataforma para liberação controlada de princípios ativos dos medicamentos.

No dia 9 de dezembro, a empresa assinou um acordo técnico-científico com o laboratório chinês Shanghai Biomabs para desenvolvimento de produtos biotecnológicos. O acordo prevê a transferência de tecnologia para produção de produtos biotecnológicos de última geração, como os anticorpos monoclonais, proteínas usadas pelo sistema imunológico para identificar e neutralizar bactérias, vírus e também células tumorais. A EMS pretende iniciar a produção em território nacional em até cinco anos. O primeiro produto alvo dessa parceria é o Etanercept, indicado para artrite reumatóide, cujo mercado soma aproximadamente R$ 160 milhões. Estima-se que 850 mil pessoas no Brasil sofram de artrite reumatóide, de acordo com a empresa. (J.S.)