Pesquisadores da Nanox Tecnologia, empresa vinculada a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), desenvolveram um tecido de micropartículas de prata na superfície capaz de inativar o coronavírus. Em testes de laboratório, o material eliminou 99,9% da quantidade do vírus após dois minutos de contato.
O desenvolvimento do material teve a colaboração dos pesquisadores Elson Longo, do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) da UFSCar, Juan Andres, da Universitat Jaume I e Lucio Freitas, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), além do apoio da Fapesp.
Segundo o pesquisador Luiz Gustavo Pagotto Simões, a empresa, que tem sede em São Carlos (SP), já tinha um produto antimicrobiano usado para eliminação de bactérias e fungos que era usado desde 2006, mas a pandemia trouxe um novo olhar para as amplas funcionalidades do produto.
"A gente sabia que nosso material tinha um potencial contra vírus, mas a gente não tinha testado ainda. Nós precisávamos mostrar o efeito contra o vírus, e conseguimos fazer isso em 60 dias", disse.
Para a realização dos testes, amostras de tecido com e sem as micropartículas foram analisadas pelo CDMF da UFSCar e Universitat de Jaume I. Logo após, o material foi encaminhado para o ICB-USP, que utilizaram uma solução com quantidades de Sars-CoV-2 desenvolvidos em laboratório para avaliar a atividade antiviral.
"Os testes e avaliaram que nosso produto, em relação a um tecido sem as micropartículas, teve 99% da carga viral eliminada em dois minutos. É uma descoberta importante porque mundialmente ainda não se tem materiais que provaram a eficiência versus o Sars-CoV-2", explicou Simões.
Na prática
De acordo com o pesquisador Luiz Gustavo Pagotto Simões, o produto pode ser aplicado em qualquer tipo de tecido, inclusive para a confecção de jalecos, uniformes e máscaras. Os testes devem continuar, mas agora para analisar a capacidade de inativação do vírus em outros materiais.
Em testes relacionados à propriedades bactericidas, Simões explica que os materiais controlaram fungos e bactérias mesmo após 30 lavagens, diminuindo o que os pesquisadores chamam de contaminação cruzada.
"Você imagina que em uma máscara de tecido que você usa para ir ao supermercado, se você teve contato com o vírus e colocou a mão na máscara, você contaminou a máscara. Em dois ou três minutos, vai reduzir 99% desta carga viral e vai diminuir a contaminação cruzada, que é você mesmo sendo contaminado por algum objeto seu", explicou.
Expectativas
Agora, o próximo passo da Nanox será a aplicação do produto em tecelagens e tinturarias. "Provavelmente no próximo mês vai estar disponível no mercado. Estamos com algumas parcerias com empresas, e isso deve agregar entre 3% e 5% no valor do tecido", disse o pesquisador.
Mas, para Simões, o mais importante é saber que a descoberta poderá ajudar milhares de pessoas, impactando positivamente na sociedade.
"O mais importante é que a gente conseguiu saber que podemos usar um produto que vai diminuir o risco da contaminação cruzada em máscaras, tecidos e até roupas de cama e de hospitais. Temos muito orgulho de ter contribuído com isso", concluiu o CEO da Nanox Tecnologia.