O empreendedorismo ganhou outra dimensão com a popularização das startups. Cada vez mais, o modelo de negócio está se tornando mais frequente para quem busca alternativas ao mercado de trabalho tradicional. No Brasil, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), esse sistema tem bastante destaque entre universitários ou recém-formados.
Das 290 startups existentes no país, 12% foram fundadas por esse público com segmentos voltados principalmente para jogos, transporte, educação e comércio on-line. Essas áreas não exigem grandes aportes financeiros para implementar o serviço. Diferente do que acontece com saúde, energia, alimentos e biotecnologia, que são mais custosos e preferencialmente criadas por pessoas mais experientes.
“Os jovens costumam ser mais tolerantes ao risco e isso faz com que possíveis fracassos os motivem a seguir adiante. Somado a isso, o cenário de crise econômica torna o empreendedorismo uma opção atraente e uma promessa de independência financeira”, explica Rafael Ribeiro, diretor da Associação Brasileira de Startups (ABStartups).
Aos 29 anos, o cientista da computação João Machini já ajudou a fundar três empresas durante e depois da sua graduação na USP. A mais recente, criada há quatro anos, é a WorldPackers, uma startup que disponibiliza vagas de trabalho voluntário no mundo todo.
Trata-se de uma plataforma colaborativa de albergues, pousas e ONGs em que os viajantes trocam diárias por serviços temporários. Hoje, conta com mais de um milhão de usuários, que pagam uma taxa anual de US$ 49 para utilizar o serviço.
“O empreendedorismo é muito dinâmico. Para que uma nova ideia seja validada, é preciso estar próximo dos consumidores, e isso as startups fazem melhor do que as grandes firmas, que têm processos internos mais burocráticos”, revela Machini.
A tecnologia já está sendo bastante aceita no mundo dos negócios, pois nos últimos anos grandes companhias vêm demonstrando interesse em conhecer e absorver empresas nascentes. Outra importante medida se dá através do apoio das instituições de ensino.
“Os estudantes encontram nesses ambientes apoio institucional e orientação para aplicar conhecimento na forma de consultorias de tecnologia, administração e formatação comercial”, ressalta Guilherme Ary Plonski, coordenador científico do Núcleo de Política e Gestão Tecnológica da USP.
Dois em um
A gerente da Incubadora de Empresas da Unicamp, Mariana Zanatta Inglez, conta que criar uma startup durante a graduação exige muita responsabilidade e, às vezes, pode até ser uma decisão precoce.
“Há casos de alunos que não conseguem conciliar os estudos com a vida de empreendedor. Isso pode prejudicar a formação do estudante, que ainda não está maduro o suficiente para comandar uma empresa”, diz.
Qualquer que seja a graduação ou a empresa, é necessário saber conciliar ambas rotinas, bem como administrar as responsabilidades. É assim que a vida de Alex Matioli, estudante de administração de empresas da Unicamp, passou a ser com a criação da Rubian, uma startup que fundou em 2015.
A ideia do negócio é desenvolver extrato bioativos para aplicação em cosméticos a partir de pesquisas com urucum e maracujá. O projeto é feito em parceria com a Universidade e conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Aos 27, o estudante ainda trabalha em uma luderia, bar especializado em jogos de tabuleiro. Para ele, o grande desafio foi a falta de recursos para tirar a empresa do papel.
“Não queria contar apenas com a ajuda financeira dos meus pais, por isso comecei a trabalhar em um bar e a juntar dinheiro. Também foi fundamental a ajuda de um mentor empresarial, que se tornou sócio e investidor da Rubian”, afirma Matioli.
Por mais que os índices de falha desse empreendedorismo estudantil ainda sejam ainda grandes, é uma forma de fazer com que os jovens aprendam desde cedo a importância e os encargos de um empreendedor. Sem dúvida, esta é uma maneira bastante eficaz de lá frente comemorar muitas outras conquistas.