Idéia é acompanhar com eficiência não só a produção bovina, mas todas as criações animais no País
As restrições da União Européia em relação a carne bovina brasileira colocaram em evidência a importância da rastreabilidade animal. A maioria dos pecuaristas brasileiros atende às exigências sanitárias dos europeus, mas o sistema que rastreia todo o histórico do animal, desde o seu nascimento até o frigorífico, é considerado falho.
Por isso, apenas 200 produtores nacionais foram listados e considerados aptos a exportar para a União Européia. Para sanar esse problema, pesquisadores de seis unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) se reuniram em São Carlos na semana passada para elaborar um projeto para desenvolver e unificar o padrão de rastreabilidade de animais de corte e leite no Brasil.
Os cientistas elaboraram um pré-projeto que será apresentado à própria Embrapa e para avaliação de outros órgãos de fomento à pesquisa. "Queremos ter financiamento federal e de órgão estaduais, como a Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo), para desenvolver um sistema de rastreabilidade que seja eficiente e adequado para a realidade do País", afirmou o pesquisador Sérgio Novita Esteves, um dos organizadores do encontro e integrante da Embrapa Agropecuária Sudeste, com sede em São Carlos.
Além da unidade de São Carlos, participaram integrantes das unidades Embrapa de Brasília, Gado de Corte (Campo Grande, MS), Gado de Leite (Juiz-de-Fora, MG), Pecuária Sul (Bagé, RS) e Caprinos (Sobral, CE). Todas desenvolverão as pesquisas em conjunto, mas cada uma dará contribuições específicas em suas especialidades, seja no caso de bovinos, suínos, caprinos ou ovinos.
A demanda do governo brasileiro é por desenvolvimento de sistemas de rastreamento para todas as criações animais. A preocupação com a origem da carne e leite não é apenas dos países desenvolvidos. Os consumidores nacionais também estão cada vez mais exigentes na hora de comprar alimentos de todas as origens.
"Apesar da maior preocupação atual ser em relação ao gado bovino de corte, queremos desenvolver um sistema que possa ser usado em todos os tipos de criação animal, seja para corte ou leite", disse Esteves. O encontro em São Carlos durou dois dias e serviu de início para os trabalhos, com a definição dos pontos principais de pesquisa.
Uma das unanimidades é que o uso de rastreadores eletrônicos é o mais adequado para acompanhar os animais, por ser o método mais prático, rápido e confiável. Atualmente, no Brasil, muitos criadores ainda utilizam o método tradicional de marcar os animais com ferro em brasa. O uso de brincos eletrônicos e o identificador subcutâneo são os mais conhecidos e práticos, mas os pesquisadores deverão avaliar custos e a praticidade dele nas diferentes regiões. "As unidades da Embrapa levarão em conta as características dos criadores de suas regiões na hora de apresentar propostas para a pesquisa", disse Esteves.
O pesquisador acredita que o projeto deve ser aprovado em breve e os trabalhos começarão no segundo semestre. Após a apresentação do pré-projeto elaborado em São Carlos, uma comissão consultora da Embrapa avalia a proposta e apresenta sugestões. Depois disso o projeto é definido e os financiamentos serão solicitados.
Além dos órgãos de financimento de pesquisa federais e estaduais, os pesquisadores querem parceiros da iniciativa privada. Além dos próprios criadores, há cooperativas, abatedouros, frigoríficos e empresas de exportação interessadas em melhorar o sistema para atender às exigências do mercado de países de primeiro mundo.
Guerra comercial
O Brasil aceitou há oito anos cumprir as rígidas exigências da União Européia para exportar carne bovina. Uma delas é a rastreabilidade confiável, com informações detalhadas sobre o animal que originou a carne comprada. O bloco exige dados sobre onde a rês nasceu, em quais propriedades circulou, se passou por áreas onde houve indícios de aftosa ou outras doenças, quais vacinas tomou e onde foi abatido.
O Ministério da Agricultura diz que as regras são muito rígidas e, por trás das questões de saúde, há pressões de ordem econômicas e políticas. Os produtores de carne europeus tiveram que atender a uma série de exigências depois dos casos do mal da vaca louca. Com isso, temem perder mercado para produtores de outros países. O maior temor é o gado brasileiro, que é mais barato que o europeu.