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Embraer: Fim da parceria com Boeing não muda planos de investimento

Publicado em 18 setembro 2020

Por Ana Paula Machado, Valor — São Paulo

Depois de ver a joint venture com a Boeing ser cancelada em abril deste ano, a Embraer corrige a rota e mantém sua aposta nos investimentos em inovação nos centros de pesquisa e desenvolvimento espalhados pelo mundo. A empresa, que figura entre as maiores da indústria aeronáutica do mundo, exibe um retrospecto de grandes projetos que se tornaram referência no setor aeroespacial do mundo.

Os projetos da companhia continuam sendo executados dentro do calendário mesmo com o fim da parceria com a Boeing. A Embraer informa que está aberta a discutir parcerias específicas para desenvolvimento de produtos ou serviços de engenharia. “Para o futuro, continuaremos a focar no setor aeronáutico e de defesa, nosso principal negócio, mas também estamos abertos a oportunidades de diversificação em segmentos de alta tecnologia relacionados a nossos negócios, como segurança cibernética, controle de tráfego aéreo e satélites, além de expandir a prestação de serviços a outros fabricantes, que chamamos de serviços agnósticos”, diz em nota a empresa, que não designou um executivo para dar entrevista para esta edição.

A empresa ressalta que trabalha com inovação aberta e desenvolvimento tecnológico pré-competitivo em todas as suas áreas de atuação. “Não se limita ao desenvolvimento de aeronaves, mas também na inclusão de sistemas complexos para a indústria aeroespacial, mobilidade e avanços tecnológicos”, informa. Atualmente, a Embraer mantém três centros de pesquisa próprios no Brasil, localizados em São José dos Campos, Belo Horizonte e Santa Catarina.

A companhia diz ainda que tem também parcerias colaborativas de desenvolvimento tecnológico com 27 universidades e seus respectivos centros de pesquisa. Dentro desse cenário, informa que o número de funcionários envolvidos em inovação e parcerias com universidades, institutos de pesquisas e incubadoras soma mais de quatro mil, sendo que a Embraer está em contato com aproximadamente 45 universidades e centros de pesquisa no Brasil e no exterior. Além disso, tem 59 patentes registradas no Brasil e no mundo, de acordo com a companhia.

“Essa cadeia de relacionamento que envolve empresas, startups e universidades dos ecossistemas de inovação assegura a conexão com a evolução tecnológica em ritmo acelerado, aumentando a competitividade presente e futura de nossas operações, produtos e serviços. A maioria das empresas parceiras já gera receita e ganhos tanto para o seu crescimento como para a Embraer. Com este alinhamento, o retorno sobre o investimento ocorre como desdobramento das escolhas estratégicas.”

Segundo a companhia, alguns projetos se destacam no quesito inovação. Dentre eles, estão o desenvolvimento da família de jatos comerciais E-Jets E2, do avião de transporte multimissão de nova geração C-390 Millennium, dos jatos executivos de médio porte Praetor 500 e 600, os mais avançados em tecnologia, conforto e desempenho da categoria, assim como o lançamento do Phenom 300MED, solução de transporte aeromédico baseada no jato leve Phenom 300, além do desenvolvimento de soluções de transporte de carga para aeronaves comerciais da Embraer, na área de serviços e suporte.

“Na aviação comercial, desenvolvemos a família E-Jets E2, que são os jatos comerciais de corredor único mais eficientes do mercado. Em defesa e segurança, entregamos para a Força Aérea Brasileira (FAB) as três primeiras unidades do avião de transporte multimissão de nova geração C-390 Millennium, projeto que é de grande importância para manter e aprimorar as capacidades de engenharia e tecnologia da Embraer, representando um ganho operacional para a FAB e estabelecendo um novo padrão de desempenho e capacidade para este segmento. A aeronave tem sido usada pela FAB em missões humanitárias no Brasil e no exterior”, esclarece a companhia.

Na aviação executiva, segundo a Embraer, os jatos de médio porte Praetor 500 e 600 “são os mais avançados da categoria em tecnologia, conforto e desempenho”. Mais recentemente, completou a empresa, ocorreu o anúncio do lançamento do Phenom 300MED, que é uma solução de transporte aeromédico (MEDEVAC) exclusiva para aeronaves dessa série. “E está disponível também para modificações de jatos em operação, por meio de uma parceria com as empresas umlaut e Aerolite.”

Outro projeto que foi destacado pela companhia e relacionado à saúde refere-se à cooperação com a Enebras e a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein para desinfecção de ambientes durante a pandemia. A empresa esclarece que a parceria desenvolveu um sistema de controle biológico conhecido por ATMUS, com base em filtros HEPA, usado na “detenção de partículas de alta eficiência” e luz ultravioleta (UVC).

Essas tecnologias são amplamente utilizadas em cabine de aviões. Segundo a companhia, essa solução auxilia a prevenir a propagação do vírus da covid-19 no ambiente hospitalar e reduz a possibilidade de contágio dos profissionais de saúde que mantêm contato com pacientes nesses ambientes. “A Embraer cooperou com o detalhamento técnico e a estratégia de industrialização para o rápido aumento de produção dos aparelhos. Em junho, a Embraer doou 50 sistemas ATMUS para leitos regulares de hospitais públicos do interior de São Paulo.”

Todos os desenvolvimentos, segundo a Embraer, consumiram, no primeiro semestre, R$ 94,8 milhões em pesquisa e R$ 260,8 milhões em desenvolvimento. Por ano, de acordo com a empresa, os investimentos em inovação somam em torno de 6% do faturamento. A companhia, no entanto, ressaltou que não poderia informar o montante que foi reservado para a área neste ano. “Devido à incerteza relacionada à pandemia da covid-19, as estimativas financeiras e de entregas da empresa para 2020 permanecem suspensas neste momento. A Embraer continua priorizando os investimentos em P&D e inovação, pois entendemos que são a base para a nossa competitividade presente e futura e para continuarmos entregando valor de forma diferenciada aos nossos clientes. Naturalmente os investimentos são revistos e atualizados todos os anos com base nas projeções de resultado da companhia.”

Segundo a Embraer, uma das estratégias que adota para reduzir as flutuações ao longo do tempo e manter o compromisso com as pesquisas em andamento é apostar cada vez mais na expansão das parcerias. “Buscando formas inovadoras de cooperar com nossos fornecedores e clientes, com empresas de outros setores, como no caso do setor elétrico, universidades e centros de pesquisa no Brasil e no exterior, startups. Além de contar com o fundamental apoio de parceiros como a Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Fundação de Amparo a Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação), entre outros. Acreditamos que no cenário da pandemia e pós-pandemia esta tendência de expandir parcerias deve se acelerar ainda mais.”

Dois projetos que foram elencados pela companhia como os mais inovadores são o cargueiro militar KC-390 e os E-Jets-E2. Segundo a Embraer, foram programas com maiores montantes de investimentos nos últimos anos. “O desenvolvimento do KC-390 Millennium, em parceria com a FAB, teve um investimento inicial aproximado de R$ 4,5 bilhões quando o programa foi lançado em 2009. Com investimento de US$ 1,7 bilhão, o programa E2 foi lançado em junho de 2013.”

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