As embalagens utilizadas no tráfego de insumos dentro de uma cadeia produtiva não são, em geral, reutilizadas.
Essa prática impacta custos, já que gera um volume considerável de resíduos a ser descartado, e vai na contramão de iniciativas comprometidas com a sustentabilidade.
Foi exatamente aí, nesse hiato de racionalidade da atividade produtiva, que a empresa Reciclapac enxergou uma oportunidade de negócio.
A empresa foi criada em 2013 com o objetivo de oferecer às indústrias uma alternativa de reuso de embalagens.
Abrigada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (CIETEC), e com apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), a Reciclapac testou a viabilidade técnica da ideia e desenvolveu uma metodologia de reutilização de embalagens de madeira e papelão em alta escala.
O teste de conceito na MWM, fabricante de motores diesel. A empresa importava insumo de fornecedores europeus, descartava as embalagens e utilizava outras, novas, para enviar as peças para o centro de distribuição em Jundiaí e novamente descartava e comprava embalagens novas para envio aos clientes.
A proposta de reutilização de embalagens, implementada na Fase 2 do PIPE, envolvia a abertura cuidadosa das embalagens – o pé de cabra foi substituído pela desparafusadeira – e o convencimento dos trabalhadores envolvidos na mudança de fluxo da reciclagem para um plano de reaproveitamento das caixas de madeira.
Chegamos a patentear uma embalagem de madeira sem pregos, sem parafusos, montada por encaixe, como se fosse um Lego. Em um ano de utilização dessa técnica conhecida como upcycling, a MWM economizou R$ 1 milhão e reduziu os resíduos em 70%.
Embalagens retornáveis.
Além de embalagens potencialmente reutilizáveis, o setor automotivo utiliza também embalagens retornáveis no fluxo de produtos que transitam entre centenas de fornecedores e a montadora.
Uma grande montadora, por exemplo, com centenas de fornecedores, precisa gerir milhares de caixa em trânsito de mão dupla. E o risco de extravio e de interrupção de linha de produção é grande.
Também aí a Reciclapac identificou uma oportunidade de negócio. Esse insight ocorreu durante o período de treinamento em Empreendedorismo de Alta Tecnologia, o PIPE Empreendedor, oferecido pela FAPESP com o objetivo de alinhar os projetos inovadores às demandas do mercado, aumentando as chances de sucesso da empreitada.
Fizemos cerca de 100 entrevistas e constatamos que a principal dor das empresas do setor automotivo consultadas era a gestão de embalagens logísticas retornáveis.
Em 2015, a Reciclapac submeteu proposta ao Edital SENAI de Inovação para o desenvolvimento de projeto para o gerenciamento de embalagens retornáveis.
Pesquisamos tecnologias emergentes para desenvolver embalagens inteligentes. Para tanto, utilizamos dispositivo eletrônico que se comunica por meio de sistema desenvolvido pela Reciclapac que envolve redes e tecnologia de internet das coisas (IoT).
O teste de conceito foi realizado na General Motors do Brasil (GM). Além de localização da embalagem, a plataforma criada pela Reciclapac oferece, por exemplo, informações sobre o tempo de trânsito entre a fábrica e o fornecedor, tempo de permanência na fábrica, entre outras. A embalagem se comunica com a montadora.
Outras empresas aderiram ao teste de conceito: a montadora Nissan, a Case New Holland (CNH), fabricante de veículos pesados, e a Cebrace, produtora de vidros planos, joint venture do grupo francês Saint-Gobain e do japonês NSG.
A Cebrace, por exemplo, entrega vidros planos transportados em cavaletes para mais de 500 clientes. Com o sistema da Reciclapac é possível visualizar onde esses cavaletes estão.
Embalagem inteligente.
Em março deste ano, a Reciclapac teve aprovado mais um projeto PIPE Fase 2, de desenvolvimento de embalagens inteligentes.
O nosso objetivo é utilizar conceitos da indústria 4.0 para fazer com que os racks se comuniquem com os integrantes da cadeia produtiva, dando visibilidade em tempo real da localização e fluxo de embalagens e produtos.
O projeto encerra no início de 2020. Nos primeiros PIPEs, o foco era a logística. Agora, o foco será a manufatura, a embalagem conversando com o robô.