Depois de participar de um evento na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e de outro na Universidade de São Paulo (USP), MacMillan iniciava sua última apresentação no país, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na avenida Paulista, em São Paulo. Sempre acompanhados pelo neurocientista Adam Smith, diretor científico da Nobel Prize Outreach, o serviço de divulgação da Fundação Nobel, os três ganhadores do Prêmio Nobel participaram de uma rodada de eventos enfeixados pelo título “Creating our future together with Science” (Criando o nosso futuro juntos com a ciência). O ciclo, promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Fundação Nobel, com apoio da FAPESP, não visou explorar em profundidade os temas que levaram esses três pesquisadores a receber a mais prestigiosa premiação do mundo.
Leia matéria de José Tadeu Arantes para Agência FAPESP, publicada em 19/4:
“Tem sido energizante e também exaustivo”: assim o escocês David MacMillan, Prêmio Nobel de Química em 2021, resumiu suas impressões sobre a visita ao Brasil. Depois de participar de um evento na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e de outro na Universidade de São Paulo (USP), MacMillan iniciava sua última apresentação no país, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na avenida Paulista, em São Paulo. Junto com ele, estavam o francês (nascido no Marrocos) Serge Haroche, Prêmio Nobel de Física de 2012, e a norueguesa May-Britt Moser, Prêmio Nobel de Medicina de 2014.
Sempre acompanhados pelo neurocientista Adam Smith, diretor científico da Nobel Prize Outreach, o serviço de divulgação da Fundação Nobel, os três ganhadores do Prêmio Nobel participaram de uma rodada de eventos enfeixados pelo título “Creating our future together with Science” (Criando o nosso futuro juntos com a ciência).
O ciclo, promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Fundação Nobel, com apoio da FAPESP, não visou explorar em profundidade os temas que levaram esses três pesquisadores a receber a mais prestigiosa premiação do mundo. Mas trazê-los para um contato informal com a comunidade universitária, no caso da Uerj e da USP, e com tomadores de decisões, no caso da Fiesp. O fio condutor foi a valorização da ciência, em um contexto de negacionismo, que se espalhou pelo mundo como uma pandemia.
Na contramão dessa tendência, Haroche citou algumas grandes realizações da ciência nos anos recentes, como a comprovação experimental da existência das ondas gravitacionais e a torrencial descoberta de exoplanetas. O problema, segundo o veterano pesquisador, já com 79 anos, é que ocorre atualmente uma forte predominância de projetos ambiciosos, de cima para baixo, enquanto deveria ser criado um ambiente que favorecesse uma ciência de baixo para cima. “Os resultados, às vezes, vêm de áreas inesperadas. A história nos dá muitos exemplos de pesquisas básicas que, tempos depois, propiciaram grandes aplicações tecnológicas. O princípio físico do laser foi visualizado por Einstein em 1916. Hoje, o laser é um componente fundamental do sistema mundial de comunicações. Precisamos estimular a ciência básica em todas as direções possíveis e esperar que as aplicações venham. E, antes da ciência, necessitamos de educação básica. Para isso, é imprescindível garantir bons salários para os professores”, disse.
Nessa trilha de valorização dos resultados recentes da ciência, MacMillan lembrou as pesquisas destinadas a retardar o processo de envelhecimento, que avançaram muito nas últimas décadas. E, diante de uma plateia formada majoritariamente por pessoas ligadas ao segmento empresarial, enfatizou a necessidade de interação e colaboração entre a academia e a indústria, afirmando que seu grupo de pesquisa, na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, mantém atualmente pelo menos 15 acordos de colaboração com empresas farmacêuticas. “Obtivemos da indústria um aporte de US$ 100 milhões para a pesquisa”, contou.
Além de uma conversa até certo ponto informal entre os três cientistas, animada pelo diretor científico Smith, May-Britt Moser participou também de um painel sobre “Como aumentar a diversidade na ciência”. Com a presença de interlocutores brasileiros, o painel destacou as limitações que ainda existem para a participação de mulheres, negros e grupos minoritários no processo científico. “Existe, infelizmente, uma situação pendular no mundo. Na Noruega, as universidades eram muito abertas para o mundo todo. Agora, estão mais fechadas, voltando-se, principalmente, para estudantes europeus”, falou.
Mas, perguntada sobre o que diria para uma menina que, como ela mesma na infância, manifestasse muita curiosidade científica, Moser foi enfática: “Por que eu deveria dizer para uma menina algo diferente do que eu diria para um menino? Precisamos quebrar essas caixas, esses rótulos. Embora eu ame ser avó, não quero ser definida como avó. Vivam uma vida sem rótulos. Sejam anjos de luz!”, clamou. E fez questão de repetir a fórmula: “Vivam uma vida sem rótulos. Sejam anjos de luz!”.
Entre vários convidados, participaram do encontro na Fiesp Erika Lanner, CEO e diretora do Nobel Prize Museum em Estocolmo (Suécia); Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências; Marco Antonio Zago, presidente do Conselho Superior da FAPESP; Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP, e Pedro Wongtschowski, membro do Conselho Superior da FAPESP e do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Fiesp. Zago ressaltou a importância da “liberdade de pesquisa e a responsabilidade das agências de fomento para uma ciência realmente criativa”.
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