Nesta terça-feira (25), o presidente Lula e a ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciaram um acordo para produção em larga escala da primeira vacina nacional contra a dengue e outras parcerias de imunização. A cerimônia foi realizada no Palácio do Planalto em meio a rumores de uma possível troca de comando na gestão da pasta. Em clima de despedida, Trindade foi aplaudida de pé e ovacionada várias vezes durante o encontro. A ministra exaltou os secretários do Ministério e outras autoridades, presentes em peso, e deu explicações ao presidente sobre o cenário da doença. Nos bastidores, especula-se que Lula teria decidido trocar Trindade pelo ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha. Com plateia lotada, o presidente não se pronunciou durante o evento e não respondeu aos questionamentos de jornalistas, feitos de forma extraoficial. Lula e Nísia também não abriram espaço para coletiva de imprensa.
O controle e prevenção da dengue é um dos principais pontos de crítica da gestão de Nísia, visto que em 2024 houve um aumento de mais de 300% na incidência da doença em relação a 2023. Além disso, a atuação da pasta no ano passado foi avaliada como tardia por especialistas, o que impactou nos altos números e no cenário desafiador para esse ano. Visando reverter o quadro, em janeiro, o Ministério instalou o Centro de Operações de Emergência (COE) para dengue e outras arboviroses e fez uma revisão do Plano de Contingência Nacional para Dengue, Chikungunya e Zika. No entanto, de acordo com dados do Painel de Monitoramento de Arboviroses, 2025 já conta com mais de 400 mil casos prováveis, 160 óbitos confirmados e 387 mortes em investigação.
“São três vezes menos casos prováveis do que em 2024. Podemos dizer que tivemos resultados importantes ainda que ela continue a ser um grande desafio não só no Brasil. Essa redução se repete em quase todos os Estados, com exceção do Acre e em São Paulo, onde tem mais da metade dos casos do Brasil. Entre a sétima e a oitava semana verificamos uma redução pela metade dos casos iniciais. Pode ser um bom sinal, mas ainda não podemos dizer que vai cair a progressão da forma que esperamos. A dengue é um desafio que o SUS tem capacidade de responder e que o Ministério vem coordenando”, afirmou a ministra na ocasião.
A partir de 2026, serão ofertadas 60 milhões de doses anuais de vacina contra a dengue, com possibilidade de ampliação do quantitativo conforme a demanda e a capacidade produtiva. O objetivo é atender a população elegível pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) entre 2026 e 2027.
Com investimento de R$1,26 bilhão, o imunizante Butantan-DV será produzido pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa WuXi Biologics e vai contemplar a população de dois a 59 anos e todos os quatro sorotipos. Também estão previstos R$68 milhões em estudos clínicos para ampliar a faixa etária e avaliar a coadministração com a vacina contra chikungunya. Por meio do Complexo Econômico-Industrial da Saúde e da estratégia da Nova Indústria Brasil (NIB), o projeto conta com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a produção se dará pelo Programa de Desenvolvimento e Inovação Local (PDIL) do Ministério da Saúde.
Em dezembro do ano passado o Butantan concluiu o envio de documentos necessários para a submissão do registro à Anvisa. Contudo, conforme a agência, o pedido ainda não foi aprovado. “Dengue deve ser uma prioridade para vacinas e testes, a vacina Butantan-DV ainda é uma candidata que tem que passar pela Anvisa, mas é uma candidata fortíssima”, disse Trindade.
Atualmente o SUS oferece a vacina Qdenga, desenvolvida pela farmacêutica Takeda, para crianças entre 10 e 14 anos. Para 2025, o Ministério da Saúde informou que adquiriu todo o lote disponibilizado pela farmacêutica, um total de 9,5 milhões de doses. Apesar disso, não há previsão para a ampliação da faixa etária, uma vez que a capacidade mundial de produção da vacina é limitada e é necessário assegurar a aplicação da segunda dose. O imunizante também está disponível no setor privado, mas com estoque reduzido.
Novas parcerias para vacinas e fabricação nacional de insulina
Na cerimônia também foram anunciadas novas parcerias para a produção de vacinas contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e Influenza H5N8. No caso do VSR, causador da bronquiolite, uma das principais causas de internações infantis no primeiro ano de vida, foi firmado um acordo entre o Instituto Butantan e a Pfizer que permitirá a produção de até 8 milhões de doses anuais, atendendo à demanda do SUS e possibilitando a ampliação do público-alvo, incluindo a população idosa. O investimento total para o projeto é de R$1,26 bilhão entre 2023 a 2027, e o Ministério da Saúde estima que serão evitadas 28 mil internações anuais. O primeiro fornecimento está previsto para o segundo semestre de 2025.
Para a Influenza H5N8 fica garantida a composição de estoque estratégico, fortalecendo a preparação e a aceleração da capacidade de produção e inovação do país. Dessa forma, se procura permitir ajustes rápidos na formulação da vacina conforme a evolução do patógeno e a capacidade produtiva disponível para a produção e fornecimento de mais de 30 milhões de doses por ano. “O alvo é a gripe aviária, mas é uma vacina para acelerar a capacidade de produção e de preparação para outras gripes”, explicou a ministra.
O Governo Federal também anunciou a fabricação nacional da insulina Glargina como parte do Programa de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) do Ministério da Saúde. O projeto envolve a produção nacional do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) pela Fiocruz (Unidade Bio-Manguinhos) e a ampliação da fabricação do produto final pela empresa de biofármacos Biomm. Ao final do projeto, a produção de insulina poderá atingir 70 milhões de unidades anuais e o primeiro fornecimento está previsto para o segundo semestre de 2025. “É para a população com diabetes que essa parceria é feita, sabemos que é um dos principais problemas de saúde pública quando falamos em doenças crônicas. Será um benefício para a população brasileira”, destacou Trindade. Além disso, se pretende implantar a primeira planta produtiva de IFA de insulina da América Latina no estado do Ceará.