Estudo realizado na Fazenda Rio Negro, no Pantanal da Nhecolândia (MS), mostrou como pode ser difícil a conservação da arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) e da espécie manduvi (Sterculia apetala), ambas ameaçadas de extinção. A pesquisa inédita foi realizada pelo biólogo Mauro Galetti, docente do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências (IB), câmpus Rio Claro, em parceria com os pesquisadores Marco Aurélio Pizo (Unisinos), Camila Donatti e Neiva Maria Guedes (Uniderp).
Elaborado durante quatro anos com apoio da Fapesp e da Conservação Internacional, o estudo que desvendou a ecologia da arara-azul foi publicado na revista inglesa Biological Conservation. Os autores observaram qual animal se alimenta dos frutos do manduvi, uma das poucas árvores que pode abrigar os ninhos dessas aves. "Apesar de diversos pássaros comerem seus frutos, a única que conseguiu abrir e engolir a semente foi o tucano-toco, o maior predador dos ninhos de araras-azuis, porém o principal responsável pela dispersão das sementes", explica. Segundo o autor, essa relação delicada entre o tucano e a arara-azul nunca havia sido apontada.
De acordo com o biólogo, as interações mutualísticas, em que uma ave espalha a semente da planta que a alimenta; ou uma interação direta, quando um animal ataca o ninho de outro, são consideradas comuns. Porém, o estudo desvendou uma situação atípica. "Interações onde a mesma espécie de ave é mutualista e antagonista para com outra espécie, no caso a arara-azul, são raríssimos exemplos na natureza", relata o docente.
Apenas manduvis com mais de 60 anos e que possuem ocos naturais grandes podem abrigar ninhos de arara-azuis, considera a maior espécie de arara do mundo. Diferente de outras aves, como os pica-paus, elas não constroem seus ninhos somente ocupam cavidades naturais.
Ecologia das espécies - Em suas pesquisas no Laboratório de Biologia da Conservação, Galetti busca entender a importância de cada espécie de ave, mamífero ou peixe na dispersão de sementes nos ecossistemas. "Quando começamos o projeto no Pantanal, praticamente nada era conhecido sobre as interações frutos e animais. Nesses quatro anos, encontramos inúmeras surpresas que agora começam a ser reveladas", diz o especialista. "O delicado equilíbrio entre predador-dispersor (tucano) e presa (arara-azul) é a chave para a conservação da arara-azul no Pantanal" comenta.