Com 881 novas mortes por covid-19 notificadas ao Ministério da Saúde nas últimas 24 horas, Brasil soma 12.400 óbitos e 177.589 casos de coronavírus —72.597 são considerados pacientes recuperados. As confirmações desta terça-feira foram um recorde desde o início da crise sanitária, mas isso não quer dizer que as 881 mortes ocorreram em um único dia, já que há um atraso no sistema de informação dessas mortes e ainda demanda reprimida de testes que confirmam a infecção nesses pacientes. O Governo informa que 206 desses óbitos ocorreram nos últimos três dias e há 2.050 óbitos em investigação no país. Apesar de não divulgar mais quais Estados estão em emergência no país, a pasta aponta que o Brasil está numa fase de “bastante alerta” pela curva de casos ascendente da doença. Entre 10 de abril, quando o país ultrapassou mil mortes pela covid-19, e 10 de maio, o número de mortes pelo coronavírus cresceu nove vezes no país.
Há mortes confirmadas pela covid-19 em 17% das cidades brasileiras, a maioria delas concentrada em capitais e regiões metropolitanas. A capilaridade da epidemia no país preocupa pela desigualdade de estrutura médica do SUS pelo país. Num sinal de que, dois meses após a crise, o Brasil ainda não resolveu seus gargalos no combate à doença, o Ministério da Saúde admitiu nesta terça ainda há um fila para o processamento de testes. O Brasil realizou um total de 337.595 exames para detectar o coronavírus nos laboratórios públicos. No momento, segundo a pasta, 95.144 exames estão em análise.
‘Lockdown’ para São Paulo
Com mais de 47.000 casos e quase 4.000 mortes, São Paulo segue sendo o epicentro da pandemia no Brasil. Apesar de ter a melhor rede hospitalar pública e privada, o temor é que a pressão pela velocidade dos contágios também ultrapassem a capacidade de resposta do Estado mais rico e populoso do país. Projeções feitas com um modelo matemático desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) indicam que a adoção de lockdown obrigatório em São Paulo será inevitável caso o nível de isolamento social não suba significativamente nas próximas semanas, a começar pela terça-feira.
De acordo com o estudo, se for mantida a taxa de contágio —que é o número de pessoas para as quais um infectado transmite o vírus— observada nos 30 dias, no final de junho, o Estado de São Paulo contabilizará 53.500 novas infecções por dia, sendo 20.800 casos diários somente na capital. Nesse período, estima-se que o número de novos casos dobre a cada 11,5 dias para o Estado e a cada 12,9 dias para a capital, nas próximas semanas.
O cálculo da Unicamp foi feito considerando os dados oficiais de crescimento do número de casos ao longo do último mês, que indicam uma taxa de contágio de 1,49 para o Estado e de 1,44 para a cidade de São Paulo. Ou seja, no final de abril, cada 100 paulistas infectados transmitiam o novo coronavírus para quase 150 pessoas, em média (ao longo de um período de cerca de 7,5 dias após se contaminar, de acordo com a modelagem utilizada).
O matemático Renato Pedrosa, professor do Instituto de Geociências da Unicamp, explica que essas projeções têm grande chance de estarem subestimadas, já que nível de isolamento vem caindo desde o início de abril e, entre 5 e 9 de maio, não ultrapassou 50%. Esse índice de isolamento, segundo ele, provocará o aumento da taxa de contágio, que se refletirá daqui a 15 ou 20 dias no número de novos casos, depois sobre o número de óbitos. “Mas, mesmo que se mantenha o nível de contágio estimado até 10 de maio, os valores projetados indicam que ainda este mês o sistema público de saúde da região metropolitana de São Paulo atingirá o limite, pois o nível de ocupação de leitos de UTI já está acima de 80%”, diz. "Se o isolamento não for ampliado urgentemente, o Estado terá de adotar medidas mais drásticas de contenção, como ocorreu na Itália, ou a situação se tornará insustentável”, afirma.