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Diário do Nordeste online

Em busca de novos princípios ativos (1 notícias)

Publicado em 08 de novembro de 2007

Robert Verpoorte, do Instituto de Biologia de Leiden, na Holanda, estima que cerca de 70 mil plantas medicinais foram estudadas ou são objetos de pesquisas em laboratórios de todo o mundo para a obtenção de novos fármacos.

Devido à complexidade das micro e macromoléculas encontradas nessas plantas, Verpoorte tem trabalhado, nos últimos anos, no mapeamento de compostos de espécies como a Catharanthus roseus - que produz substâncias antitumorais como a vimblastina e a vincristina -, por meio de uma ferramenta da genômica funcional altamente promissora para o isolamento de princípios ativos.

Trata-se da metabolômica, técnica que consiste na identificação e na quantificação dos metabólitos (compósitos naturais) por meio de métodos cromatográficos, da espectrometria de massa e da ressonância magnética nuclear. Uma vantagem da metabolômica é a extração de centenas ou milhares de substância ativas da matriz de uma planta, muitas vezes em menos de 15 minutos.

"Mapeamentos metabolômicos, principalmente com o auxílio de espectroscopia de ressonância magnética nuclear, têm demonstrado a impossibilidade de se precisar quantos compósitos estão presentes em uma mesma espécie", disse Verpoorte na semana passada, durante o 58º Congresso Nacional de Botânica, em São Paulo.

"Isso abre uma enorme possibilidade para a indústria farmacêutica mundial, uma vez que deve haver, no mínimo, a mesma quantidade de compósitos nessas espécies quanto o número de genes nos seres vivos. Ou seja, estamos falando em, pelo menos, 30 mil substâncias ativas em cada espécie", afirmou Verpoorte durante a palestra magistral "Medicinal plants and metabolomics: a perfect holistic match".

Para ele, a identificação de compostos ativos em plantas por meio da metabolômica seria a solução para a realização do "sonho pela busca de novos medicamentos e pela cura de doenças". "A associação das ciências 'ômicas', como a genômica, a transcriptômica e a proteômica, permite que a indústria identifique diferentes substâncias bioativas que podem dar origem a uma única droga para o tratamento de doenças multifatoriais", apontou.

Verpoorte, que é também editor do Journal of Ethnopharmacology, mencionou o ácido acetilsalicícico, medicamento cujo composto ativo é extraído da folha do chorão (Salix babylonica) e que, segundo ele, com mais de cem anos de existência "é a droga mais bem-sucedida já produzida pela indústria farmacêutica".

Só nos Estados Unidos, segundo o cientista, são consumidas cerca de cinco toneladas de aspirina por dia, justamente por ela servir para diferentes usos, desde analgésico e antitérmico até tratamentos antiinflamatórios ou para alívio de dores de cabeça.

"A metabolômica permitirá uma abordagem holística dos produtos bioativos. Ela fará uma espécie de varredura na medicina para a elaboração de drogas únicas cujas fórmulas serão ativas em diferentes alvos, revolucionando a ecologia química e o desenvolvimento de drogas a partir de plantas", destacou.
(Agência FAPESP)