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Em busca das ondas gravitacionais (1 notícias)

Publicado em 08 de dezembro de 2004

Por Eduardo Geraque escreve para a 'Agência Fapesp':
O MiniGrail é o primeiro detector de ondas gravitacionais com antena esférica a entrar em funcionamento no mundo. Além do ineditismo, o aparelho de 1.150 quilos, instalado no Instituto de Física da Universidade de Leiden, na Holanda, tem uma curiosidade: a origem brasileira. 'A idéia do detector surgiu no Brasil. O professor Giorgio Frossati, chefe do grupo holandês do MiniGrail, iniciou o projeto em 1993, a partir de uma conversa que teve comigo, em janeiro daquele ano, na sala do professor Carlos Escobar, no prédio Oscar Sala do Instituto de Física da Universidade de SP', conta Odylio Aguiar, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), à 'Agência Fapesp'. Frossati, agora na universidade holandesa, viveu no Brasil entre 1947 e 1970, tendo se graduado em física pela Universidade de SP. A conversa ocorrida há quase 12 anos, quando Frossati esteve de passagem pela capital paulista, não gerou apenas o projeto que agora acaba de ser concluído na Holanda. O Brasil também está preparando um detector de ondas gravitacionais com antena esférica, que deverá entrar em funcionamento em 2005. O equipamento leva o nome de Mário Schenberg (1914-1990), um dos mais importantes físicos brasileiros. Além desses dois equipamentos, um terceiro aparelho deverá ser montado em Roma, na Itália. 'Acabamos perdendo essa corrida por estarmos aguardando a chegada de algumas peças importadas. Quanto mais cedo isso ocorrer, mais rápida será a conclusão do projeto', disse Aguiar. 'O grupo holandês conseguiu ser muito mais ágil para as importações, compras e montagens experimentais. Além disso, eles já dominam há tempos uma tecnologia de refrigeração por diluição', conta o chefe do projeto brasileiro. As temperaturas muito baixas são essenciais para o funcionamento de um detector de ondas gravitacionais, uma vez que o calor pode ser responsável por falsas vibrações. Partes do interior do MiniGrail, por exemplo, estão funcionando a 4 graus Kelvin - cerca de 269 graus Celsius negativos. 'No momento, o detector holandês está operando com três sensores, mas, assim como o nosso, ele irá funcionar com seis ou mais sensores, que permitirão, caso se detecte uma onda gravitacional, dizer de onde ela veio e qual a sua polarização (maneira como ela deforma espacialmente o espaço-tempo)', explica Aguiar. O dia em que essa detecção ocorrer representará o início de uma nova fase na física. Todos os cientistas envolvidos com esses detectores - existem outros mais antigos que funcionam de forma diferente e que são bem mais caros - sabem dessa revolução e também que não será uma tarefa fácil conseguir as detecções. As ondas gravitacionais, previstas em 1916 pelas equações da relatividade geral de Albert Einstein (1879-1955), são muito mais fracas, em torno de 36 ordens de magnitude, do que a radiação eletromagnética, que viaja a 300 mil quilômetros por segundo. A comparação foi feita pelo próprio Frossati, em entrevista à revista Pesquisa Fapesp, publicada em janeiro de 2001: 'As ondas eletromagnéticas podem ser vistas como bolas de bilhar, que se deslocam na superfície plana da mesa, representando as dimensões que conhecemos, enquanto as ondas gravitacionais teriam a liberdade de perfurar o plano da mesa, para cima e para baixo.' A corrida pela detecção acaba de ficar bem mais empolgante. Quem vencer, não apenas entrará para a história da ciência, mas também dará ainda mais razão para um time formado por Einstein e por Oliver Heaviside (1850-1925), Hendrik Lorentz (1853-1928) e Henri Poincaré (1854-1912), que também sugeriram a existência das ondas gravitacionais na virada do século 20. (Agência Fapesp, 3/12)