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Jornal da Unesp

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Por Dênio Maués
A primeira viagem de pesquisa do navio oceanográfico Soloncy Moura, decorrente da parceria de cooperação técnico-científica feita entre a UNESP e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), ocorreu entre 30 de julho e 3 de agosto últimos. A jornada, etapa preliminar de pesquisa sobre a diversidade de crustáceos e peixes da região sul do Estado de São Paulo a ser realizada em 2004, foi considerada um sucesso pelos pesquisadores do Campus do Litoral Paulista (CLP) da UNESP, em São Vicente. Os cientistas realizaram um cruzeiro-piloto entre o município de Santos e a região da Juréia e trouxeram espécies raras de diversos animais marinhos, como alguns caranguejos e arraias, que serão examinados nas dependências do campus. "O projeto de pesquisa da biodiversidade do litoral sul paulista é importante não apenas para São Paulo, mas para o País, pois algumas espécies já coletadas são raras e ainda pouco estudadas", afirma o coordenador do Campus, Luiz Antônio Vane. Este primeiro cruzeiro teve como objetivo testar equipamentos e alguns instrumentos de captura, além de estabelecer o trajeto do navio e as áreas a serem pesquisadas. "Essa etapa é importante, pois possibilita uma estimativa real de custos de nossa empreitada, que será submetida à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) até o final de setembro", disse o biólogo marinho Marcelo Pinheiro, coordenador do projeto. "Com duração estimada de quatro anos, a pesquisa fará um levantamento da distribuição de crustáceos e peixes, no trecho compreendido entre as cidades de Santos e Cananéia", explica. O cruzeiro com o navio Soloncy Moura, pertencente ao Cepsul (Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste-Sul) / Ibama, abrangeu 145 milhas (cerca de 300 km) da costa paulista. Os arrastos para coleta de material de pesquisa foram feitos em profundidades de 100 m, 300 m e 500 m, e armadilhas foram colocadas a 600 m, 800 m e 1.000 m. Entre as espécies coletadas a 500 metros, está um tipo raro de arraia (Benthobatis kreffti), descoberta em 2001. A 800 m e 1.000 m, a equipe coletou exemplares do caranguejo de profundidade (Chaceon ramosae), que está entre os maiores caranguejos marinhos brasileiros e excede 20 cm de largura quando adulto - enquanto a maioria das espécies comuns medem em torno de 2 cm a 10 cm. "Além dessas espécies, a equipe trouxe para estudos polvos, lulas, medusas, moluscos e até exemplares do tubarão-gato, espécie que chega a medir cerca de 70 cm e não oferece perigo ao homem", comenta Otto Bismarck Gadig, docente do CLP e integrante do grupo de pesquisa. O material coletado será estudado no laboratório do campus de S. Vicente já a partir deste semestre, e alunos com bolsas de iniciação científica poderão acompanhar as pesquisas. Parte desse material pode ser utilizado na elaboração de dissertações de mestrado de excelente nível, como no caso da arraia Benthobatis kreffti", afirmou Gadig. Além de Marcelo Pinheiro e Otto Gadig, participam do estudo os pesquisadores Augusto Flores, Tânia Márcia Costa e Mário Rollo. Integraram a equipe da UNESP na coleta-piloto os segundanistas do curso de Ciências Biológicas Daiane Oliveira e Fernando Perina, ambos de 22 anos, que desenvolvem projetos de iniciação científica sobre crustáceos. "Foi uma oportunidade única", disse Daiane. "Vimos até um exemplar de baleia cachalote, algo que nunca imaginei que fosse presenciar." "A viagem foi uma atividade de campo privilegiada e queremos dividir essa experiência com os demais colegas", completou Perina.