Em novo relatório, pesquisadores alertam para os impactos negativos causados pela introdução de espécies exóticas invasoras no ecossistema brasileiro
O Brasil conta com 476 espécies exóticas invasoras em todo seu território. Desse total, estima-se que apenas 16 já causaram um prejuízo de quase US$ 105 bilhões à economia brasileira, entre 1984 e 2019. Os dados foram revelados pelo Relatório Temático sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, lançado nesta sexta-feira (1º), em coletiva de imprensa.
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Produzido pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e assinado por mais de 70 autores de diferentes instituições acadêmicas, o relatório conta com uma série de dados que traçam um panorama sobre as espécies invasoras no Brasil.
A partir da análise de relatórios técnicos de instituições privadas e estatais, foi constatado que existem 268 animais, dos quais 126 são peixes, e 208 plantas que foram introduzidos, de maneira intencional ou não, ao ecossistema nacional.
As espécies invasoras são aquelas incorporadas, pela ação humana, em locais fora de sua área de distribuição natural. Na maioria dos casos, como o do mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), essa introdução tem fins comerciais e a invasão acaba acontecendo por conta do manejo descuidado.
Mexilhões-dourados tem impactado empreendimentos hidrelétricos, estações de tratamento de água e tanques de fazendas — Foto: Beloni Marterer
Mexilhões-dourados tem impactado empreendimentos hidrelétricos, estações de tratamento de água e tanques de fazendas — Foto: Beloni Marterer
No estudo apresentado pela BPBES, foram encontradas 1.004 evidências dos impactos negativos das espécies invasoras, tanto no campo econômico quanto em âmbitos sociais, como na saúde pública.
"As espécies exóticas invasoras são uma das maiores causas da perda de biodiversidade global", afirmou Michele Dechoum, professora adjunta do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das coordenadoras do relatório, durante a coletiva. "A expansão de suas populações, processo complexo e extenso, gera uma série de malefícios como prejuízos para a agropecuária, aumento da proliferação de doenças e extinção de espécies nativas."
Os pesquisadores destacaram que um ponto-chave para a mitigação desses impactos é o entendimento da gravidade do tema pelos tomadores de decisão e pela população. A tilápia (Tilapia), peixe típico da dieta brasileira, por exemplo, é uma invasora que foi introduzida e extinguiu espécies nativas por competição de território.
Algumas plantas ornamentais, como o Ipê-de-jardim, também podem ser citadas como invasoras exóticas, embora sejam menos reconhecidas como tal.
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"O engajamento da sociedade civil pode se dar através de uma melhor compreensão do tema. É dever dos órgãos públicos e das autoridades competentes aumentarem a percepção das pessoas sobre esse problema", explica Silvia Ziller, do Instituto Hórus, que assina o relatório. A pesquisadora ainda destaca a necessidade de um cuidado responsável dos animais domésticos, que podem invadir biologicamente Unidades de Conservação (UCs).
A tendência é que as invasões biológicas aumentem de 20% a 30% até o final deste século. A agilidade na implementação de ações de manejo dessas espécies aumenta a chance de controle delas. Os pesquisadores afirmam que esse é um processo de baixa previsibilidade e alto risco, que requer uma atuação imediata.
"Em meio a esse cenário, nós conseguimos afirmar que a prevenção é o melhor caminho. É preciso adotar medidas de detecção precoce e resposta rápida, que apresentam uma maior efetividade", observa Mário Luis Orsi, professor do departamento de Biologia Animal e Vegetal da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, e coordenador do relatório.