Notícia

Jornal do Brasil

Eletrodoméstico nacional causa interferência (1 notícias)

Publicado em 17 de fevereiro de 1996

Por Fabrício MARQUES
SÃO PAULO - Cientistas de vários lugares do planeta estudam até que ponto a proximidade com campos elétricos, como os produzidos por eletrodomésticos e torres de transmissão de energia, pode causar câncer. O Brasil, que está a anos luz dessa discussão, ainda não conseguiu resolver um problema elementar: a maioria dos eletrodomésticos fabricados no país não é dotada de filtros - que isolem as radiações eletro-magnéticas emanadas por outros aparelhos. O resultado é previsível: são raras as batedeiras nacionais que não causam interferência na televisão ligada, ou em um rádio que possa funcionar enquanto alguém usa o secador de cabelos. "Nos países desenvolvidos, o consumidor é exigente e as indústrias se preocupam em oferecer produtos que não causem interferências. Aqui no Brasil, essa preocupação praticamente não existe", diz o engenheiro Kleiber Soletto, do Laboratório de Compatibilidade Eletromagnética, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP). Não por falta de legislação. Portarias do Ministério das Comunicações exigem que os eletrodomésticos tenham as mesmas condições de segurança dos similares fabricados no exterior. A Telebrás só compra equipamentos que cumpram essa norma. Já as indústrias de eletrodomésticos não respeitam as portarias. Ondas - Evitar interferências é relativamente simples, ainda que encareça um pouco o pra to. Qualquer eletroeletrônico libera algum tipo de radiação eletromagnética para o ambiente enquanto funciona, ainda que em quantidade inofensiva para a saúde. Essas ondas, liberadas no ar, podem ser absorvidas por outros equipamentos ligados. É isso que causa a interferência. Os eletrodomésticos importados são dotados de um dispositivo que consegue isolar as radiações de outros aparelhos. A maioria dos nacionais ainda vem sem o filtro. No exterior, a pressão do consumidor foi fundamental para que as empresas cuidassem desses itens de segurança. Os monitores de computador hoje liberam menos radiação do que há dez anos, "desde que uma empresa japonesa conseguiu diminuir a emanação de ondas de seu produto e usou isso como estratégia de marketing para cativar o consumidor. "Em pouco tempo, as concorrentes trataram de seguir o exemplo", diz o engenheiro Augusto Carlos Pavão, também do Laboratório de Compatibilidade Eletromagnética da USP. Radiação - No Brasil, ainda há pouca gente preocupada com isso. No ano passado, o Laboratório de Compatibilidade eletromagnética da USP foi chamado a fazer algumas dezenas de testes para avaliar o grau de radiação que escapava de torres de transmissão, eletrodomésticos e fornos de microondas. Em praticamente todos os testes, concluiu-se que a radiação era pequena e não representava nenhum mal à saúde. "Fomos chamados para avaliar a radiação recebida por uma casa que ficava a uma certa distância de uma torre de transmissão. Mas a radiação era mínima", afirma Soletto. "Em casos como este, a radiação chega a ser menor do que a emanada por aparelhos eletrônicos ligados dentro da casa, diz. Não quer dizer que o risco não exista. Apenas cinco grupos de técnicos e acadêmicos fazem este tipo de medição no Brasil e as consultas são raras. O engenheiro Kleiber Soletto adverte que há fornos de microondas em funcionamento há mais de uma década, e os proprietários deveriam testá-los, para ver se a radiação não está escapando.