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Eletrodo desenvolvido no Brasil reduz custo de exame da retina (1 notícias)

Publicado em 27 de agosto de 2012

Por Karina Toledo, da Agência FAPESP

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) desenvolveram a versão nacional de um eletrodo usado na eletrorretinografia (ERG), exame que permite avaliar respostas elétricas da retina a estímulos luminosos e ajuda no diagnóstico de doenças oculares.

Os resultados do trabalho foram apresentados durante a 27ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), realizada em Águas de Lindoia entre os dias 22 e 25 de agosto.

"O Brasil atualmente importa esses eletrodos, que são descartáveis e custam entre US$ 30 e US$ 40 cada. Desenvolvemos um produto similar, mas com preço quatro vezes menor", contou Adriana Berezovsky, coordenadora da pesquisa financiada pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa - Regular.

O eletrodo tem cerca de 3 centímetros e, como a versão importada, é feito de fibra de tecido com um filamento de prata. Durante a realização do exame, é introduzido no saco conjuntival da pálpebra inferior e permite captar os sinais elétricos emitidos pelas células da retina em resposta aos estímulos luminosos disparados pelo aparelho de ERG.

"Não há necessidade de anestesia. O paciente sente apenas um leve incômodo durante a colocação", afirmou Berezovsky.

A retina humana possui dois tipos de fotorreceptores, que são células responsáveis por captar a luz e retransmitir o impulso elétrico para outras células e para o nervo óptico.

"Os bastonetes são responsáveis pela visão noturna e os cones, pela diurna. Mas algumas doenças causam a morte dessas células. Isso pode levar, por exemplo, à cegueira noturna ou à perda de visão periférica", explicou a pesquisadora.

O ERG permite avaliar o funcionamento dos cones e dos bastonetes e, segundo Berezovsky, pode ajudar o oftalmologista a identificar problemas que, muitas vezes, precedem alterações perceptíveis no exame de fundo de olho, no qual o médico visualiza as estruturas que formam a retina.

Validação

Os pesquisadores testaram o eletrodo nacional em um grupo de 50 voluntários saudáveis e compararam os resultados com o de exames feitos com o equivalente importado. O desempenho de ambos foi similar. Os dados foram publicados nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, em 2008.

No ano seguinte, com auxílio da FAPESP por meio do Programa de Apoio à Propriedade Intelectual (PAPI/Nuplitec), a equipe entrou com pedido para patentear o eletrodo, que ainda está pendente.

Desde então, os pesquisadores têm comparado o desempenho da versão nacional e da importada em voluntários com doenças na retina. "Já testamos em cerca de 50 pacientes e tivemos bons resultados, mas ainda precisamos ampliar a amostra", disse Berezovsky.

Os estudos têm sido feitos com doenças hereditárias como retinose pigmentária, distrofia de cones e doença de Stargardt. Os resultados preliminares foram apresentados no congresso da Association for Research in Vision and Ophthalmology (ARVO), o mais importante da área.

O eletrodo também tem sido testado para uso veterinário. O funcionamento da versão nacional foi comparado com o da versão importada em dez cães saudáveis da raça yorkshire terrier, com resultados parecidos.

"Os dados já foram submetidos para publicação em revista internacional. Agora pretendemos testar o eletrodo em cães com doenças na retina", disse Berezovsky.

A equipe pretende também aperfeiçoar o modelo desenvolvido no Brasil. "Estamos estudando o tamanho e o material, para melhor adequar o eletrodo às necessidades do país", disse.

Fonte: Agência FAPESP