As sociedades passam por contextos culturais e políticos, incluindo guerras e revoluções mundiais, que influenciam diversos setores, como ciência e tecnologia (C&T). Segundo o livro Prelúdio para uma História: Ciência e Tecnologia no Brasil, do Shozo Motoyama, especialista em História Social e Científica, a sociedade brasileira tem sua C&T influenciada pela mentalidade imediatista arraigada desde tempos coloniais e por crises econômicas dos diferentes regimes políticos que diminuíram e diminuem o investimento no setor.
O mesmo livro menciona que nas décadas de 50 e 60 fundaram-se órgãos de fomento como Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que desde a origem se destacam no desenvolvimento da C&T no país.
Atualmente no Brasil diversas prioridades de investimento em C&T são indicadas. Marcos Pontes, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), defende o investimento na melhoria de serviços, como radiodifusão, internet, telefonia móvel, acesso à banda larga, teleconsultas para atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), além de investimentos em tendências mundiais, como indústria 4.0 (4ª revolução industrial), segurança cibernética e eficiência energética. Entretanto, esses planos se afastam do atual governo federal cada vez que cortes do Ministério da Educação (MEC), da CAPES ou do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) são determinados.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) elenca prioridades, como:
a) construção de um Plano Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) com a recuperação dos níveis orçamentários de investimento do período 2009-2014;
b) melhoria da educação básica com valorização salarial do professor da educação básica, com estímulo a metodologias de ensino baseadas em investigação e com adequação da política de cotas;
c) fortalecimento dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia e do Programa de Infraestrutura da Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep);
d) defesa da soberania nacional com o fortalecimento da PETROBRAS e da exploração do pré-sal, das fontes de energia solar e eólica.
Ressalta-se, ainda, que MCTIC e SBPC defendem pontos comuns, como a premissa de que C&T não é gasto e sim investimento e o projeto Ciência na Escola, que visa fortalecer a interação entre instituições de educação superior e escolas de ensino fundamental e médio.
Outras prioridades em C&T no Brasil que eu elencaria são:
a) ampliação da mobilidade elétrica, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis, conforme a CPFL Energia vem testando veículos elétricos e eletropostos;
b) contenção às mudanças climáticas globais antropogênicas que podem afetar significativamente o bem-estar humano e os ecossistemas terrestres, sendo Caatinga e Amazônia os biomas brasileiros mais sensíveis à variação climática;
c) corrida para patenteamento de vacinas como importante estratégia de projeção científica e econômica, especialmente para doenças preocupantes no país, como febre amarela silvestre;
d) desenvolvimento da genômica que tem contribuído para descobrir mutações genéticas envolvidas com cânceres e, também, para descobrir genes relacionados a adaptações ambientais de animais ameaçados de extinção;
e) mitigação da perda de biodiversidade do Antropoceno com previsões alarmantes até 2100 para diversos ecossistemas, incluindo florestas tropicais, como a tão grande quanto desmatada Amazônia;
f) recuperação dos mares brasileiros poluídos por derrames de petróleo, e dos rios (com suas comunidades ribeirinhas) atingidos pelos dois maiores rompimentos de barragens de minério do mundo;
g) a morte em massa das abelhas, que a longo prazo pode levar a sérias consequências na produção de alimento;
h) corrida na produção de novos antibióticos mais potentes para tratar doenças causadas por superbactérias que vêm aumentando a taxas alarmantes no Brasil e no mundo, entre outras.
Assim, seguimos em frente desafiando as fronteiras da ciência e da tecnologia, setores estes, que com um olhar mais atento, estão presentes em questões que afligem as sociedades e até em nossas vidas cotidianas. A abordagem científica, se valorizada e usada eticamente com objetivos benéficos e amplos, tem papel fundamental para o desenvolvimento dos países. E, por que não, da terra brasilis!
Vinícius Nunes Alves é Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas – IBB/UNESP. Mestre em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais – UFU. Especializando em Jornalismo Científico – Labjor/UNICAMP . Professor Escolar da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.