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Efeito da remoção dos resíduos em plantações florestais (1 notícias)

Publicado em 26 de janeiro de 2021

Por Joice Maria Ferreira

Empresas que atuam na área florestal, como as produtoras de celulose, estão vendo os resíduos florestais (pequenos galhos, cascas de árvores e folhas) como matéria prima na geração de energia. Em alguns casos, a geração destes resíduos é tão grande que sua queima produz energia o bastante para garantir o funcionamento de uma ou mais fábricas de celulose. Entretanto, em sistemas naturais, os restos vegetais produzidos pela floresta permanecem no solo, onde sofrem decomposição pela ação de microrganismos, passando a constituir importantes fontes de nutrientes para as plantas. Sabendo da perda de nutrientes que a retirada dessa camada vegetal do solo causa, as empresas produtoras de florestas geralmente repõem tal carência de nutrientes com o uso de fertilizantes.

Os pesquisadores José Leonardo Gonçalves e José Henrique Rocha, da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, e sua equipe buscaram compreender melhor o quanto a retirada de resíduos florestais do solo afeta a produtividade de espécies vegetais. Diferentemente de outros estudos já realizados na área, eles analisaram a produtividade da floresta ao longo de dois períodos consecutivos de corte de madeira. A pesquisa testou como a presença ou ausência de fertilizantes interagia com a manutenção ou retirada de diferentes camadas de resíduos florestais do solo e seu efeito na produção de madeira.

A pesquisa foi realizada na Estação Experimental de Ciências Florestais da Universidade de São Paulo em Itatinga. Nessa estação, já existiam árvores de eucalipto plantadas, as quais foram derrubadas para o estudo em 2004. O experimento foi construído de modo a comparar a quantidade de nutrientes presentes no solo e o crescimento das árvores sob diferentes condições. Para tanto, a floresta foi dividida em quatro áreas iguais, cada qual recebendo uma técnica de plantio diferente.

Foram avaliados dois períodos de crescimento e corte de eucaliptos. O primeiro consistiu na plantação dos eucaliptos em 2004 e sua coleta em 2012; o segundo entre 2012 e 2017, correspondendo à nova plantação e derrubada de árvores, respectivamente. Os pesquisadores obtiveram dados acerca do volume de madeira produzido pelos eucaliptos, da atividade de microrganismos no solo e da presença de nutrientes em cada uma das situações de cultivo.

A pesquisa constatou que o principal fator que afetou a quantidade de madeira produzida pelas árvores no primeiro período de cultivo foi a aplicação de fertilizantes no solo. Nesse caso, não ocorreram diferenças notáveis de crescimento quando houve remoção parcial ou total da camada vegetal do solo. No segundo período, contudo, foi observado que árvores plantadas em solos sem a cobertura de resíduos florestais produziram cerca de 15% menos madeira, mesmo na presença de fertilizante. Isso indica que a remoção contínua de resíduos florestais do solo afeta o crescimento das árvores, mesmo que a reposição de nutrientes esteja assegurada artificialmente pelos fertilizantes.

Além disso, o estudo observou que a retirada da matéria orgânica do solo afeta a atividade dos microrganismos, especialmente na profundidade de até 20 centímetros. Tal resultado pode ser devido à perda da matéria orgânica disponível e à exposição da superfície do solo ao sol, provocando um aumento de temperatura e seu ressecamento. A atividade dos micróbios é essencial para a disponibilização de nutrientes responsáveis pelo desenvolvimento das plantas. Por isso, embora não tenham sido observados efeitos significativos da remoção dos restos vegetais no primeiro ciclo de plantio de eucaliptos, a repetição desse procedimento no ciclo seguinte teve efeito acumulativo e afetou negativamente o crescimento das árvores.

A utilização dos resíduos florestais para a geração de energia é interessante do ponto de vista econômico (mais um produto da floresta) e ambiental (fonte de energia limpa e renovável), mas os pesquisadores alertam que tal atividade deve ser realizada com cautela, recomendandoque produtores levem apenas parte destes resíduos e que reponham os nutrientes removidos via fertilização. Em áreas mais sensíveis (solos pobres e áreas inclinadas), recomenda-se a manutenção de todos os resíduos sobre o solo. A retirada em excesso dos resíduos florestais pode gerar prejuízos crescentes à produção ao longo do tempo. Vale lembrar que embora a pesquisa tenha verificado redução de 15% na produção de madeira, outros estudos já chegaram a encontrar reduções de até 40% quando não são aplicadas quantidades suficientes de fertilizantes para repor os nutrientes do solo.

Pesquisador(es) Responsável(eis):

José Leonardo de Moraes Gonçalves – José Henrique Tertulino Rocha

Instituição(ões):

Universidade de São Paulo(USP), Piracicaba

Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF), São Paulo

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Companhia Klabin, MS

Companhia Ramires Reflortec

Fonte(s) Financiadora(s):

Programa Cooperativo sobre Silvicultura e Manejo (PTSM-IPEF)

Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES)

Imagem destacada: Pixabay

Fonte: canalciencia.ibict.br

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