O índice de reprovação dos cursos de pós-graduação no teste de avaliação promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação, serve de indicador para aferir a perda da qualidade do ensino no país. Se nos cursos de mestrado e doutorado das melhores universidades a qualidade caiu, pode-se imaginar o que se passa nos escalões inferiores da educação brasileira.
De um total de 1.726 cursos de mestrado e doutorado avaliados, 180 deles, pouco mais de 10%, não chegaram a receber classificação. Sessenta e três foram considerados de nível insuficiente e deverão fazer o que no passado se chamava de segunda época e hoje se chama recuperação da qualidade, com auxílio do MEC. Outros 28 cursos foram simplesmente reprovados por falta de qualidade.
O resultado desse primeiro exame pode ser considerado gravíssimo e reforça a ênfase do ministro Paulo Renato Souza na melhoria da educação em todos os níveis. O ministério começou por reforçar a qualidade do ensino básico ampliando a remuneração dos professores e dando mais autonomia aos municípios na administração das verbas.
Mas a preocupação com o ensino superior e a pós-graduação faz total sentido: até a gestão do ministro Paulo Renato a maior parte das verbas do MEC era aplicada no ensino superior. Compreende-se, igualmente — pelo resultado do exame da Capes na pós-graduação das melhores universidades do país — a reação dos reitores de universidades públicas, dos empresários de escolas e universidades, com apoio da bancada da educação no Congresso, à aplicação do exame de avaliação do ensino nos alunos recém-formados. As universidades é que estão questionadas.
A reforma da educação é a mais emblemática das reformas, diante da sua importância para a construção de um país melhor. Se o Brasil quiser aplicar bem as verbas que destina à educação — e que representam 4% do PIB — deve proceder ao exame da qualidade do ensino ministrado do primeiro grau à universidade. A educação é que qualifica um país. Em termos mundiais o "conceito da boa aplicação das verbas públicas não está na sua relação com o PIB (que põe o Brasil como a 80a nação a destinar recursos orçamentários para a educação), mas na sua eficiência na melhoria da qualificação do aluno, passando, obviamente, pela qualidade dos professores.
De modo geral, como frisou o próprio ministro, o nível dos cursos de mestrado e pós-graduação é bom: foram considerados excelentes 408 cursos de mestrado e 258 de doutorado, enquanto foram considerados bons 378 cursos de mestrado e 195 de doutorado. Entretanto, uma das maiores falhas foi quanto à falta de dedicação integral dos professores. Considerando-se os gastos com os professores nessa área, trata-se de falta imperdoável para o conjunto do ensino brasileiro.
Pesquisa nacional realizado pelo Instituto Vox Populi apontou que 90% dos brasileiros consideram indispensável que as escolas adotem, a partir da quinta série, o ensino profissionalizante, enquanto 87,7% defenderam o reforço da qualidade do ensino na escola pública. Um dos argumentos utilizados para isso foi a menor capacidade de concorrência no mercado de trabalho do universitário formado pelas escolas públicas em relação aos que cursaram escolas particulares.
A facilidade de acesso à educação e a melhoria do ensino em todos os níveis foram as alavancas que fizeram as sociedades progredir nos últimos 30 anos. Para um país que ainda tem 16% de sua população analfabeta, sendo de 33% o índice do Nordeste, o tamanho do desafio da atualização educacional e tecnológica do Brasil no limiar do terceiro milênio pode ser medido pelo exemplo recente do Japão.
O governo japonês acaba de aprovar vigoroso programa para estimular a indústria a investir, nos próximos oito anos, US$ 150 bilhões (um quarto do PIB brasileiro) em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia. O objetivo é apagar a imagem externa de espionagem industrial da segunda indústria do mundo. O país que não preparar sua gente será derrotado, por falta de saber, na corrida da globalização.
Notícia
Jornal do Brasil