Agência FAPESP
Desde sua criação em 1999, o programa Biota-FAPESP estudou a fauna, a flora e os microrganismos nos biomas do Estado de São Paulo, prospectou diversos compostos de importância econômica, originou mapas que orientam políticas públicas para a conservação da biodiversidade paulista e permitiu a descrição de mais de 500 espécies de plantas e animais.
Além de avançar o conhecimento e gerar aplicações, o programa também tem exercido papel importante para a educação de milhares de jovens, ao produzir material para o ensino formal e informal.
O programa, que comemora dez anos em 2009, irá comemorar a data com o workshop Biota+10: definindo metas para 2020, nos dias 3 e 4 de junho. O evento fará um balanço das realizações do programa e discutirá seu planejamento para a próxima década.
Também conhecido como o Instituto Virtual da Biodiversidade, o programa já gerou mais de 700 artigos em revistas científicas, formou 169 mestres e 108 doutores e criou bases de dados com informações sobre mais de 12 mil espécies e com o conteúdo de 35 coleções biológicas.
Entre os 84 projetos realizados pelo Biota-FAPESP, envolvendo mais de 1,2 mil profissionais, vários foram dedicados à educação ambiental, capacitando pessoal especializado e divulgando os resultados das pesquisas do programa à comunidade.
Um exemplo é o projeto “Trilha subaquática - Educação ambiental nos ecossistemas marinhos” (http://www.ib.usp.br/ecosteiros/trilhasub/), coordenado por Flavio Berchez, professor do Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo (USP), iniciado em 2002. O objetivo é o treinamento de monitores em técnicas de educação ambiental associadas ao ambiente marinho, como mergulho e canoagem.
Realizado na Ilha Anchieta, no litoral norte de São Paulo, o projeto desenvolveu estratégias para transferir os dados gerados pelo Biota-FAPESP ao público em geral, ao mesmo tempo em que formava monitores ambientais.
“Partimos de uma concepção de educação ambiental como transformação do indivíduo. Os monitores capacitados pelo projeto são treinados para usar o conhecimento científico de forma a despertar no turista um envolvimento com a beleza da natureza, estimulando a preservação”, disse Berchez à Agência FAPESP.
Entre 2002 e 2004, o projeto desenvolveu oito modelos de educação ambiental com base em atividades realizadas na ilha Anchieta, que recebe cerca de 2 mil visitas diariamente. Depois disso, o projeto deu origem a cursos interdisciplinares de bacharelado e licenciatura para alunos da USP voltados para a formação de monitores ambientais, além de cursos de extensão.
“Um dos modelos desenvolvidos consiste em uma trilha subaquática de mergulho livre ao longo de um costão de 350 metros, com paradas nos pontos de treinamento para interpretação ambiental. O trajeto é acompanhado por balsa de apoio e a atividade é realizada em grupos de quatro pessoas acompanhadas por dois monitores”, explicou Berchez.
Outros modelos de educação ambiental desenvolvidos compreendem uma trilha de mergulho autônomo, a visita monitorada a uma piscina natural, uma trilha em caiaques para observação do ambiente marinho e uma trilha subaquática virtual - um túnel ao longo do qual o visitante conhece os vários aspectos de uma visita submarina.
Reportagens e exposição
Um projeto coordenado pelo biólogo Antonio Carlos Amorim, professor da Faculdade de Educação (FE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), finalizado em fevereiro, explorou a relação entre a formação de professores e a interação entre ciências e cultura. O trabalho envolveu uma equipe de professores e alunos de graduação e pós-graduação com formação em biologia.
“O projeto foi voltado à articulação entre a pesquisa em educação - voltada para a questão do currículo - e a pesquisa em educação e cultura visual, desenvolvida pelo Laboratório de Estudos Audiovisuais da FE, do qual sou integrante”, disse Amorim à Agência FAPESP.
Na primeira fase, foi feito um levantamento das reportagens sobre biodiversidade publicadas na Agência FAPESP a fim de detectar quais dos objetivos do programa Biota-FAPESP apareciam com mais frequência no noticiário de divulgação científica, a partir de palavras-chave como “Biota”, “biodiversidade” e “sustentabilidade”.
“Paralelamente, fizemos um estudo com um grupo de professores de biologia para levantar quais matérias da Agência FAPESP os inspiravam à realização de atividades em classe, aulas, discussões ou exercícios. A ideia era identificar as escolhas temáticas feitas pelos professores quando utilizam material jornalístico para o ensino de biologia”, disse.
Segundo Amorim, grande parte das escolhas feitas pelos professores se relacionava a levantamentos das espécies de fauna e flora no Estado de São Paulo, caracterizando uma associação entre a biodiversidade e esse acervo natural.
“A maior parte das notícias escolhidas dizia respeito às descobertas de novas espécies. Essa concepção da biodiversidade como quantidade e variedade encontrada pelos professores no material jornalístico espelha o que já é trabalhado nos currículos. O problema é que essa escolha deixa de fora as notícias sobre aplicações para políticas públicas - que é um dos objetivos importantes do Biota-FAPESP - e sustentabilidade, por exemplo, que deveriam ter mais espaço nos currículos”, apontou.
Em uma segunda fase, o projeto se dedicou à análise de imagens relacionadas à biodiversidade apresentadas em diferentes veículos de divulgação científica. “A análise foi feita na expectativa de perceber se, a partir das imagens, podíamos ter uma abordagem diferenciada do currículo de biologia das escolas”, disse.
O projeto gerou a exposição Dispersos fragmentos - Imagens de biodiversidade do Programa Biota-FAPESP, montada no Centro Estadual de Educação Supletiva Paulo Decourt, sediado no campus da Unicamp, por professores, pesquisadores e alunos de graduação de biologia.
“Houve várias outras ações, todas feitas dentro de escolas, com participação dos professores e, a partir do segundo ano do projeto, também com os alunos do ensino médio”, disse Amorim. O projeto realizou atividades no Colégio Técnico de Campinas e na Escola Estadual Almerinda Rodrigues, em Mogi- Guaçu, no interior paulista.
“Na escola de Mogi-Guaçu, trabalhamos com slides extraídos da exposição de biodiversidade Cores e sombras. A partir deles, fizemos levantamento sobre que conceitos de biodiversidade os alunos construíam a partir daquelas representações da natureza”, contou.
Flores do Cerrado
O Projeto Temático “Estudos morfológicos, anatômicos, histoquímicos e ultraestruturais em plantas de Cerrado do Estado de São Paulo”, coordenado por Silvia Rodrigues Machado, do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP), teve o objetivo de estudar e conhecer a diversidade morfológica de espécies vegetais em fragmentos de Cerrado no Estado de São Paulo, procurando identificar padrões comuns e apontar especializações estruturais.
O projeto, que foi realizado entre 2001 e 2006, estudou a morfologia, a anatomia e o desenvolvimento de sistemas subterrâneos complexos. “Além de divulgar os resultados das pesquisas do Biota-FAPESP à comunidade, desde o início tivemos a preocupação de produzir materiais informativos sobre a riqueza e beleza da flora do Cerrado regional, a fim de mostrar como esse bioma é diverso, importante e cheio de vida”, disse Silvia à Agência FAPESP.
A equipe, que incluiu 24 pesquisadores, 76 estudantes de todos os níveis e 18 técnicos, formou nove bolsistas de capacitação técnica, 30 estudantes de iniciação científica, resultou em 25 dissertações de mestrado, 31 teses de doutorado e dois projetos de doutorado, segundo Silvia. “Mas esse número ainda vai crescer, porque o projeto gerou muitos trabalhos que ainda não foram concluídos”, contou.
O projeto, segundo ela, incluiu palestras, apresentadas em vários eventos promovidos pela Unesp, em colégios da região e na prefeitura municipal a estudantes dos diversos níveis de ensino. “Foram produzidos textos e catálogos ilustrados para servirem como apoio didático e uma série denominada Flores do Cerrado, que inclui cartões-postais, marcadores de livros, cartazes, calendários e um guia de campo ilustrado, acompanhado de CD em que as plantas foram agrupadas pela cor de suas flores”, disse Silvia.
“Paralelamente, estudantes e professores do curso de biologia da Unesp produziram um CD educativo para alunos do ensino médio, o Entendendo o Cerrado, e um site na internet chamado “Coisas de Cerrado: ciência e poesia na rede”, contou.
“Uma conquista importante desse projeto foi unir a ciência à arte botânica, no momento em que um grupo de ilustradoras se dispôs a dedicar seu tempo pintando as flores e frutos do Cerrado. Esse trabalho foi reunido em exposição itinerante e tem sido mostrado em diferentes eventos no Brasil e no exterior”, disse.
A exposição, segundo Silvia, explora a delicadeza e rara beleza das flores do Cerrado. “Esse trabalho, por onde passa, surpreende os visitantes acostumados com a ideia que o Cerrado é um bioma inóspito, feio, sem vida e cheio de árvores secas e tortas”, afirmou.
O projeto originou também cinco livros publicados e outros três atualmente em fase de elaboração. “Foram publicados cerca de 65 artigos em revistas indexadas e a divulgação das pesquisas em congressos e reuniões científicas na área da botânica foi intensa, com participação em 27 congressos e apresentação de 163 trabalhos na forma de resumos simples ou expandidos”, disse.
Segundo Silvia, o Projeto Temático ampliou a visão de muitos pesquisadores e estudantes de diferentes áreas do conhecimento, tendo incentivado a elaboração de novas propostas de estudos e de trabalho em equipe.
“A partir do projeto, foi criada a Escola do Meio Ambiente de Botucatu exatamente onde existe um importante fragmento de Cerrado. Muitos trabalhos de Educação Ambiental têm sido lá desenvolvidos com o apoio de professores e estudantes do curso de ciências biológicas do Instituto de Biociências de Botucatu. Notamos que houve valorização das espécies do Cerrado regional, sendo frequente a consulta por parte de moradores da região para fins de arborização de praças e jardins”, disse.
(Agência FAPESP)