Em editorial publicado nesta terça-feira, 3, a Folha de S.Paulo diz que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) depõe contra si mesma "ao suspender financiamento de estudo sobre redução de danos com ecstasy, após ataques pela imprensa". O texto ainda diz que "ou bem a agência errou ao patrocinar um projeto que era ruim desde o início, ou erra agora ao cortar de modo abrupto as verbas com base em opiniões de leigos emitidas de fora da Fapesp." O editorial também ressalta que a redução de danos é uma estratégia que tem o aval da Organização Mundial da Saúde, do Ministério da Saúde, e "é utilizada em países como Holanda, Reino Unido e Canadá e já se provou útil, por aqui, para reduzir a incidência de infecções pelo vírus da Aids." Leia na íntegra.
Danos à Fapesp
É contra si mesma que a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) depõe ao suspender financiamento de estudo sobre redução de danos com ecstasy, após ataques pela imprensa. Alguns criticaram o fato de as pesquisadoras não terem condenado o uso da droga ilícita - limitaram-se a sugerir aos usuários certas cautelas na sua ingestão.
Ou bem a agência errou ao patrocinar um projeto que era ruim desde o início, ou erra agora ao cortar de modo abrupto as verbas com base em opiniões de leigos emitidas de fora da Fapesp. Não é assim que a ciência deve funcionar. Se dependesse do que pensavam seus pares, Copérnico não teria postulado o modelo heliocêntrico. Se dependesse da "vox populi", dinheiro público dificilmente seria destinado a áreas como a física de partículas, que demandam recursos vultosos e cuja "utilidade" é difícil explicar até para iniciados.
Para evitar essas dificuldades se criaram agências como a Fapesp, cuja missão é proceder a uma avaliação autônoma e técnica de cada projeto apresentado e decidir se vai ou não financiá-lo. Estudos equivocados devem ser suspensos, mas é preciso que o erro seja atestado pelo próprio sistema de avaliação "inter pares" da agência, seguindo os melhores protocolos internacionais, e não pelo clamor público.
O conceito de redução de danos é difícil de assimilar. Para alguns, sempre soará como chancela oficial às drogas. Do ponto de vista da saúde pública, no entanto, trata-se de reconhecer a complexidade da dependência - e a relativa intratabilidade em certas fases - e tentar evitar os impactos mais deletérios.
É uma estratégia que tem o aval da OMS, do Ministério da Saúde, é utilizada em países como Holanda, Reino Unido e Canadá e já se provou útil, por aqui, para reduzir a incidência de infecções pelo vírus da Aids.
Folha de S.Paulo