O eclipse anular do sol está previsto para este sábado (14) e poderá ser visto do Brasil, incluindo Belo Horizonte e outras cidades de Minas. Na ocasião, a lua vai cobrir a maior parte do disco solar, deixando apenas um anel brilhante na borda. Trata-se de um fenômeno natural e plenamente conhecido do ser humano e explicado pela ciência. Porém, nem sempre foi assim, como explica o MetSul.
Há centenas e milhares de anos a realidade era distinta. Os eclipses eram vistos como mau agouro e um sinal de que os deuses e o céu estavam revoltados em algumas culturas. Em outras, um sinal de tempos melhores.
A palavra eclipse, por exemplo, vem do grego e se traduz como desaparecimento ou abandono. Um eclipse solar seria o momento em que o sol desaparece, abandonando o mundo, como um ser abandonado por um deus.
Os antigos gregos consideravam um eclipse solar um ato de abandono, uma crise terrível e uma ameaça existencial. Significava que o rei cairia, que terríveis infortúnios choveriam sobre o mundo ou que demônios engoliriam o sol.
No entanto, nem todos consideravam o eclipse uma ameaça horrível. Para algumas culturas, o eclipse seria um ato de criação em que o sol e a lua estavam se acoplando e criariam mais estrelas.
Durante grande parte da história humana, contudo, não foi assim que as pessoas reagiram aos eclipses, mesmo depois de serem capazes de prevê-los com precisão (por volta de 206 d.C. para os chineses e 150 a.C. para os gregos).
Em muitas culturas, o escurecimento do sol significava que os deuses estavam irritados com a humanidade e prestes a infligir algum castigo. Muitas vezes, isso significava que, para apaziguá-los, era necessário matar alguém.
Na Transilvânia, as pessoas acreditavam que um eclipse era causado pelo sol virando as costas aos pecados da humanidade. Os Incas, aqui na América do Sul, enxergavam os eclipses como um sinal de que o deus do sol Inti estava zangado e exigia apaziguamento com oferendas. Os sacerdotes astecas previam que se houvesse um eclipse solar acompanhado por um terremoto o mundo acabaria.
A ideia de que um eclipse solar significava que um demônio estava engolindo o sol aparece no folclore do eclipse em todo o mundo. Na China antiga, a palavra mais antiga para eclipse, shih, significava comer, e acreditava-se que os eclipses eram causados por um dragão comendo o sol. No Vietnã, o comedor de sol era um sapo. Para o nativo de algumas regiões da América do Norte, era um urso. Na antiga Iugoslávia, um lobisomem, e na Sibéria um vampiro.
No antigo Egito, Apep, a serpente do caos e da morte, se opôs a Rá, o deus do sol, e estava sempre tentando alcançar o barco celeste de Rá para devorar o disco solar – mas no final, Rá sempre foi capaz de combatê-lo, e o sol voltaria. Como sempre voltava.
Transmissão
O eclipse deste sábado será transmitido pelo Observatório Nacional, órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O evento virtual O Céu em sua Casa: Observação Remota é uma opção para que as pessoas acompanhem o fenômeno com segurança.
A transmissão virtual terá início às 11h30 da manhã (horário de Brasília) quando o eclipse anular estiver começando na costa oeste dos Estados Unidos, e vai acompanhar todo seu percurso até que chegue ao seu final na costa leste do Brasil em torno das 17h30. Para saber onde o eclipse será visível, observatório indica uma página na internet.
“O eclipse anular ocorre quando a Lua, como vista a partir da Terra, parece menor que o Sol [no céu]. Assim, a Lua não cobre o disco solar totalmente, restando um anel luminoso no contorno da lua, daí a razão do nome 'eclipse anular'”, explicou o doutor em Astrofísica Leonardo Almeida, professor da Escola de Ciências e Tecnologia (ECT) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O fenômeno é diferente de um eclipse total, quando a lua cobre completamente o disco solar, deixando apenas a coroa solar visível. O Observatório Nacional aponta que o eclipse anular ocorre quando a lua está em seu apogeu, o ponto mais distante de sua órbita da Terra, e nesse momento a Lua aparece menor, o que permite que este anel seja visível no eclipse.
Almeida aponta que essa diferença se deve ao fato de que a órbita da lua ao redor da Terra não é circular, o que faz com que a distância entre ambas varie ao longo do período de translação da Lua.
Tipos de eclipse
“Quando a Lua está mais próxima da Terra, temos um eclipse total; quando a Lua está mais distante, temos um eclipse anular. Nos dois casos, naturalmente, os discos lunar e solar têm de se sobrepor completamente, sem o que se tem um eclipse parcial”, disse o astrofísico. Há ainda o eclipse híbrido, que ocorre quando o eclipse anular muda para um eclipse total, ou vice-versa, ao longo do caminho do eclipse.
O especialista ressalta que o eclipse no formato anular não poderá ser visto de todo o país. “Apenas em alguns estados das regiões Norte (Amazonas, Pará e Tocantins) e Nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba) do Brasil o eclipse anular poderá ser visto. Nos demais estados do país, o eclipse será parcial. Isso ocorre porque a visibilidade de um eclipse depende da posição do observador em relação à linha do eclipse”, disse o astrofísico.
O professor Tarciro Mendes, também da Escola de Ciências e Tecnologia (ECT) da UFRN e doutor em Física, explica que é necessário que o observador esteja exatamente sobre a linha “riscada” pela umbra, que é a região onde a sombra da Lua sobre a Terra é a mais intensa. “Contornando a umbra temos a penumbra, onde os observadores sob ela podem observar um eclipse parcial. Fora da penumbra e da umbra, não é possível observar eclipse algum”, disse.
O físico explicou que, no Brasil, o eclipse começa a ser visto às 14h05 na cidade de Tefé (Amazonas) e acaba às 17h55 na cidade de João Pessoa (Paraíba), considerando o evento completo, tanto anular quanto parcial. “O Brasil é o país do mundo onde a anularidade - período de tempo em que a Lua permanece totalmente dentro do disco solar - terá a maior duração, 55 minutos e 30 segundos”, ressaltou.
Segundo o Observatório Nacional, a anularidade será visível, além do Brasil, nos Estados Unidos, México, Belize, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Colômbia. Em outras partes das Américas - do Alasca à Argentina - um eclipse parcial será visível.
Mendes lembrou que o próximo eclipse anular ocorrerá em 2 de outubro de 2024, mas não poderá ser visto do Brasil, apenas no Chile e na Argentina. “No Brasil, apenas será observado um eclipse parcial nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e uma pequena parte do Nordeste, mais especificamente no sul da Bahia”, disse. Já o próximo eclipse anular a ser observado no Brasil ocorrerá em 26 de janeiro de 2028 e só poderá ser visto completamente nos estados do Amazonas, do Pará e do Amapá.
O último eclipse anular do Sol ocorreu em junho de 2021, mas não foi visível do Brasil, segundo informações do Observatório Nacional.