É alarmante o alerta feito pelo Ministério da Saúde aos estados e municípios sobre o possível aumento de casos de dengue nos primeiros meses deste ano. Isto significa que uma situação já grave poderá piorar se as medidas necessárias não forem tomadas a tempo. Em 2024, face às medidas tépidas das autoridades sanitárias dos três níveis de governo, a doença propagou-se e bateu todos os recordes. Segundo dados oficiais, registaram-se 6.644.336 casos – quase quatro vezes mais que no ano anterior – e 6.041 mortes (outros 875 casos estão em investigação).
As previsões do ministério para a temporada 2024-2025 estimam que os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Paraná poderão ter taxas de infecção superiores às do ano passado. Outra preocupação é que embora os sorotipos predominantes ainda sejam DENV1 (73,4%) e DENV2 (25,9%), o DENV3, para o qual a maioria da população brasileira não tem imunidade, já está se espalhando em estados como Amapá, São Paulo e Minas. Gerais, Paraná, Roraima e Pará.
Nova masmorra: Butantan pede à Anvisa aprovação de vacina de dose única contra dengue
O controle da doença tem se mostrado difícil ao longo dos anos. No final de 2023, o governo federal integrou ao SUS a vacina Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda. Foi um progresso, sem dúvida. Protege contra os quatro sorotipos da dengue e é administrado em duas doses. Foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março de 2023, e sua introdução começou em fevereiro do ano passado. Embora tenha se mostrado eficaz e seguro na proteção contra a dengue, ainda não pode ser utilizado em larga escala devido à capacidade limitada de produção. É distribuído apenas para municípios com maior incidência da doença e atinge principalmente pessoas de 10 a 14 anos. Não é uma estratégia que ainda terá impacto nos números da dengue.
É verdade que o Brasil tem boas perspectivas com outra vacina. A vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, em parceria com o National Institutes of Health dos EUA, apresentou 89% de proteção contra a dengue grave e, segundo os desenvolvedores, estendeu a eficácia e a segurança por até cinco anos. Uma vantagem é que será administrado em dose única, simplificando a logística. Mas ainda está em análise pela Anvisa. Mesmo que seja aprovado rapidamente, como esperado, dificilmente será implementado imediatamente, devido aos procedimentos legais para integração no sistema de requisitos unificados de uso e produção.
A dengue pode levar à morte, como comprovam os números. Com a escassez de vacinas, o controlo de doenças exige cada vez mais a prática de longa data e bem conhecida de eliminação de surtos de mosquitos vectores. Durante décadas, o Brasil falhou nesta tarefa, como mostram os números crescentes. Esse esforço depende das prefeituras, dos estados e do governo federal, bem como dos moradores, já que a grande maioria dos surtos ocorre em residências. O Ministério da Saúde deve aumentar as campanhas educativas que se considerem necessárias para sensibilizar os cidadãos. Municípios e estados deveriam criar “batalhões” de agentes para ir de porta em porta fiscalizar surtos. Até que seja possível vacinar a população em larga escala, este trabalho essencial continua a ser a forma mais eficaz de combater os mosquitos.