O Estado de S. Paulo
Nestes tempos irracionais, a agência de fomento à pesquisa, que faz 60 anos, é ainda mais relevante
Não há como falar em desenvolvimento sem ciência, tecnologia e inovação. A transformação digital, os avanços da medicina, a produção agropecuária e as novas fontes de energia são alguns dos muitos exemplos na longa lista de áreas que se beneficiam diretamente do trabalho de cientistas e pesquisadores.
Fazer ciência, porém, requer investimento, gente qualificada e muito esforço. Definitivamente não é algo que se alcance da noite para o dia nem que floresça na base do improviso. Por isso mesmo, continuidade é palavra-chave, ao passo que cortes de financiamento ou interrupções, de qualquer natureza, costumam representar um entrave ao êxito de projetos científicos e tecnológicos.
Em São Paulo, a aposta em inovação, tecnologia e ciência deu origem a um bem-sucedido arranjo que já viabilizou o trabalho de centenas de milhares de pesquisadores, resultando em ganhos para toda a sociedade. Com padrão de qualidade internacional, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) acaba de completar 60 anos. E anunciou mais investimentos em diversas áreas.
A contribuição da Fapesp tem sido grandiosa, assim como seus números: atualmente são cerca de 20 mil projetos apoiados por ano. Em 60 anos, foram concedidas 180 mil bolsas, além de 130 mil auxílios à pesquisa (fomento a projetos específicos sob responsabilidade de um pesquisador). O investimento total supera R$ 50 bilhões e deu origem, entre outros resultados, a 1.580 pedidos de patentes no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).
Logo no início da pandemia de covid-19, a Fapesp contribuiu para o sequenciamento genético do novo coronavírus, destinando recursos para mais de 100 projetos de pesquisa, o que incluiu a realização de testes clínicos de vacinas e o desenvolvimento de testes rápidos da doença, bem como de ventiladores pulmonares de custo mais baixo. Em outras frentes, sua atuação já beneficiou a produção de cítricos e de etanol, além de milhares de projetos de sustentabilidade na Amazônia.
A lista de realizações da Fapesp, por óbvio, não cabe no espaço deste texto. Faz-se necessário, porém, destacar um dos segredos de seu sucesso: o modelo de financiamento que lhe garante 1% da arrecadação tributária do Estado. A regra, fonte indispensável de estabilidade, consta na Constituição de São Paulo.
A Fapesp foi criada por lei em 1960, mas só começou a funcionar após decreto de 23 de maio de 1962, no governo de Carvalho Pinto (1959-1963). Daí a comemoração dos seus 60 anos agora. Em vídeo exibido em recente solenidade de comemoração, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso resumiu a trajetória da agência: “A Fapesp cumpriu o seu papel”, disse ele, que participou da empreitada na década de 1960. Com autonomia de gestão, transparência e rigor na aplicação dos recursos, a Fapesp tem contribuído para alavancar o desenvolvimento científico brasileiro, algo especialmente relevante nestes tempos em que a irracionalidade desafia a ciência e o bom senso.