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Jornal da Unicamp

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Publicado em 01 de maio de 1998

Grupo de pesquisadores coordenado pela professora Sandra Brisolla, do Instituto de Geociências da Unicamp, levanta a produção científica paulista nos anos 90.0 objetivo da pesquisa, financiada pela Fapesp, é fornecer subsídios para o planejamento de políticas futuras. FAPESP - IG APONTA INDICADORES CIENTÍFICOS Publicação fornece subsídios ao planejamento e à execução da política científica e tecnológica no país A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) comemora seus 35 anos de existência oferecendo um presente ao governo, à comunidade científica e à população do Estado de São Paulo. Com o lançamento do primeiro número de "Ciência e Tecnologia em São Paulo nos anos 90", a Fapesp inicia um complexo trabalho de levantamento de indicadores científicos e tecnológicos que tem como principal objetivo fornecer subsídios ao planejamento e execução da política científica no Brasil. Neste primeiro trabalho - elaborado pelo Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp e pelo Núcleo de Política e. Gestão Tecnológica da USP - não houve a pretensão de analisar os indicadores e os pesquisadores trataram apenas de construir um conjunto mínimo de dados que permitisse compor um panorama geral da ciência e tecnologia no Estado de São Paulo. "Sabemos que os indicadores não substituem a análise. No entanto, sem indicadores, a análise se empobrece", afirma a professora Sandra Negraes Brisolla, coordenadora do grupo de pesquisadores da Unicamp, ao justificar a necessidade e a importância do levantamento dos indicadores. A pesquisa evidenciou alguns pontos que antes eram apenas supostos pela comunidade científica como, por exemplo, o significativo investimento do Estado de São Paulo em ciência e tecnologia. No estudo, ficou comprovado que o Estado gasta cerca de US$ 2,08 bilhões por ano nessa área, uma quantia correspondente a 35% de todo o investimento nacional. Outro item do estudo aponta que cerca de 50% da produção científica brasileira em 1995 foi gerada no Estado de São Paulo. Ao examinar as fontes de financiamento em pesquisa, uma outra surpresa agradável para a comunidade paulista. Enquanto o governo federal investe US$ 626,64 milhões ao ano em São Paulo, o governo estadual gasta US$ 715,81 milhões para financiar pesquisas em universidades e institutos (ver quadro) localizados no Estado, configurando uma parceria entre as instâncias federal e estadual. Metodologia - Responsável pelo levantamento dos indicadores científicos e tecnológicos nas empresas, o Núcleo de Política e Gestão Tecnológica da USP extraiu um perfil do Estado de São Paulo por meio de consultas a uma base de dados nacional preexistente. Já o levantamento dos indicadores de ciência e tecnologia nos órgãos públicos foi feito pelo Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp - por meio de seu Laboratório de Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação. Para efetuar a pesquisa, o grupo tomou como base a publicação norte-americana Science & Engineering Indicators, criada em 1970 com o objetivo de reunir num só documento os principais indicadores relativos à ciência e tecnologia nos Estados Unidos. A escolha do Estado de São Paulo como objeto de estudo obedeceu a critérios estratégicos. Ao regionalizar o levantamento de dados, países europeus e o Canadá conseguiram facilitar o trabalho de coleta de informações e favorecer a elaboração de políticas setoriais levando-se em conta a realidade de cada região. No estudo recém-lançado pela Fapesp, os pesquisadores da Unicamp e da USP fizeram um levantamento detalhado sobre as principais fontes de financiamento à pesquisa no Estado de São Paulo, o investimento em pesquisa e desenvolvimento associado a incentivos fiscais, o número de bolsas concedidas em 1995, a disponibilidade de recursos humanos para pesquisa no Estado e, finalmente, as solicitações e concessões de patentes. "Além do papel importante desempenhado pelo Estado de São Paulo, a pesquisa deixou clara também a importância da Fapesp no apoio à pesquisa e, principalmente, na recriação de uma infra-estrutura capaz de evitar o sucateamento da pesquisa no Estado", lembra a professora Sandra Brisolla. (M.T.S.) É PRECISO ESTREITAR AS RELAÇÕES ENTRE A UNIVERSIDADE E A EMPRESA O estudo encomendado pela Fapesp trouxe novamente à tona um problema que acompanha há anos a trajetória da pesquisa no Brasil: o distanciamento entre produção científica e produção tecnológica, Com exceção das áreas médica e agrícola - em que se observa um relacionamento mais estreito entre centros de pesquisa e empresas - todas as outras áreas empresariais mostram pouco entrosamento com as universidades. "Mas é importante destacar que este fenômeno não é exclusivamente brasileiro. Em vários países do Primeiro Mundo, inclusive nos Estados Unidos, observa-se a mesma situação", explica Sandra Brisolla. Segundo a professora, dos recursos destinados à pesquisa pelos empresários norte-americanos, 98% vão para departamentos de pesquisa montados dentro das próprias empresas. Apenas os 2% restantes vão para as universidades, e isso representa 6% a 7% dos recursos para pesquisa acadêmica naquele país. Seguindo o exemplo de outros países, os empresários brasileiros estão mais acostumados a buscar novas tecnologias em empresas industriais dos países avançados do que em centros acadêmicos nacionais. (M.T.S.) PESQUISADOR TEM EM MÉDIA 45 ANOS; HOMENS REPRESENTAM 65% DA COMUNIDADE O perfil do pesquisador também foi avaliado no trabalho "Ciência e Tecnologia em São Paulo nos anos 90" e, com base em 280 entrevistas, os pesquisadores da Unicamp constataram que o pesquisador paulista tem 45 anos de idade em média e 70% deles têm entre 35 e 55 anos. Menos de 5% têm idade superior a 65 anos. Os homens representam cerca de 65% da comunidade científica paulista. Porém, a exemplo do que ocorre em outras áreas, as mulheres começam a entrar nesse mercado de trabalho. Mais jovens que seus colegas homens, a maioria das pesquisadoras tem entre 25 e 55 anos. Na faixa etária entre 25 e 35 anos, elas já são maioria: 52,5% são mulheres. Outro dado revelado pela pesquisa é a distribuição do tempo de trabalho do pesquisador paulista. Nas universidades públicas estaduais, as tarefas docentes - incluindo orientação de teses e dissertações, treinamento próprio e cursos - consomem metade do tempo do pesquisador. As atividades relacionadas à produção científica ocupam a outra metade. Nos institutos, a relação entre docência e pesquisa altera-se drasticamente. O trabalho relacionado diretamente à pesquisa absorve cerca de 80% do tempo dos cientistas. O estudo completo sobre o perfil do pesquisador paulista será publicado em breve pela Fapesp. (M.T.S.) TRABALHO PERMITE CORRIGIR RUMO DA POLÍTICA DE C&T Para dar novos rumos à pesquisa brasileira, o estudo "Ciência e Tecnologia em São Paulo nos anos 90" deve ter continuidade. É o que defende em entrevista ao Jornal da Unicamp a coordenadora do estudo na Unicamp, professora Sandra Brisolla. Jornal da Unicamp - A senhora acredita que este trabalho da Fapesp ajude a dar novos rumos à pesquisa brasileira? Sandra Brisolla - Tanto para a formulação quanto para o acompanhamento, é fundamental que os planejadores e executores da política científica e tecnológica disponham de informações fidedignas e detalhadas sobre o setor. Só a partir destes indicadores é que eles poderão elaborar e corrigir os rumos. Sendo assim, acredito que este trabalho dará subsídios importantes para a formulação da política científica e tecnológica estadual e até mesmo federal. JU - Qual o interesse da Fapesp em financiar um trabalho como esse? Sandra - A Fapesp sempre teve um papel importantíssimo no financiamento à pesquisa no Estado de São Paulo e tem um interesse particular em contar com essas estatísticas para avaliar e planejar sua ação de fomento sobre bases mais sólidas. Se essa iniciativa de construir um sistema de indicadores de ciência e tecnologia for seguida pelos demais estados, o próprio Ministério da Ciência e Tecnologia certamente poderá construir indicadores mais confiáveis e com maior representatividade. JU - Como este estudo pode ajudar a comunidade científica paulista? Sandra - A comunidade científica é uma das primeiras interessadas em conhecer os mecanismos que integram seu trabalho ao conjunto da sociedade e quais medidas os órgãos governamentais estão tomando para elevar a eficiência dos instrumentos de fomento à pesquisa. Dentro dessa comunidade existe ainda uma área acadêmica voltada para o estudo da política científica e tecnológica. Esse "colégio invisível", que tem como objeto de pesquisa o comportamento do setor produtor de ciência e tecnologia, depende de informações precisas e atualizadas para realizar uma análise bem fundamentada. JU - O estudo vai ter continuidade? Sandra - Esperamos que sim. Os indicadores apresentados neste estudo são uma primeira versão da situação da política no Estado e constituem boa referência geral. Mas será preciso aprofundar e aprimorar esses indicadores se quisermos que eles se transformem em ferramentas úteis para a formulação de políticas e planos setoriais no futuro. (M.T.S.)