São Paulo - Os pesquisadores brasileiros ganham na terça-feira (11), uma arma na perigosa tarefa de estudar vírus e bactérias que podem ser letais. Trata-se do primeiro laboratório com nível de biossegurança 3 (NB3+) do Brasil. Ambientes mais seguros só existem nos Estados Unidos.
Na verdade, o novo laboratório é um "bunker". Construído no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), da Universidade de São Paulo (USP), ele tem área de 50 metros quadrados, praticamente inexpugnável, à prova de "fuga" de microrganismos infecciosos.
A nova sala de pesquisa, que custou cerca de R$ 1 milhão, é uma espécie de caixa, com paredes de até meio metro de espessura, localizada no segundo andar do prédio do ICB. Ela vai diminuir muito os riscos de contaminação tanto dos pesquisadores quanto da população. Batizado com o nome do virologista alemão naturalizado brasileiro Klaus Eberhard Stewien, hoje com 65 anos, que ajudou a conter a paralisia infantil no Brasil, o laboratório faz parte de um projeto maior, a Rede de Diversidade Genética de Vírus (VGDN, na sigla em inglês de Viral Genetic Diversity Network), criada no fim de 2000 com financiamento de cerca R$ 12 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Além desse, serão construídos mais três, um na USP de Ribeirão Preto, outro na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de São José do Rio Preto e outro em local ainda a ser definido. Segundo um dos coordenadores da VGDN, Paolo Zanotto, o objetivo dessa rede é estudar vírus já identificados no Brasil, como os arbovírus (dengue, febre amarela), aqueles que ainda podem chegar ao País (da Sars, da febre do Oeste do Nilo) e outros desconhecidos, que podem aparecer. "Esse laboratório vai dar uma autonomia ao Brasil nas pesquisas básicas dessas e de outras doenças infecciosas", diz. "Mas também uma grande responsabilidade, pois lidar com esses vírus é uma operação complexa e perigosa."
Daí os cuidados. Dentro do laboratório, cujas paredes são isoladas das demais do prédio, estão equipamentos como freezers, estufas, centrífugas e outros sofisticados para a manipulação de vírus e bactérias. Apenas dois pesquisadores e quatro técnicos treinados poderão entrar no novo laboratório, com o uso de um cartão eletrônico especial. Tanto na entrada quanto na saída portas duplas, que se abrem uma por vez - uma só se abre quando a outra está travada. Tudo o que entra ou sai, com exceção do material que se quer estudar, é esterilizado antes.
PROTEÇÃO
Entre as duas portas da entrada há um espaço de 1 por 2 metros, onde os pesquisadores trocam suas roupas por outras especiais, feitas de um tecido que permite a saída do calor do corpo, mas é impermeável de fora para dentro.
Nenhuma parte do corpo fica exposta. Na eclusa de saída, há outro espaço para a troca de roupa, além de um chuveiro, para o banho de quem sai.
De acordo com Zanotto, um dos dois pesquisadores com acesso ao laboratório, nenhum material biológico -vírus, bactéria - que possa causar infecção sai do "bunker". "A pressão do ar dentro do laboratório é menor do que fora", explica. "Assim, mesmo que se faça um buraco, o ar contaminado não sairá. Um vírus que escape ficará dentro e será empurrado para os filtros de ar, que o renovam constantemente."
O material usado durante as sessões de pesquisa, que tem de ser descartado, também passa por tratamento especial, para que nenhum vírus ou bactéria escape para o ambiente externo. Ele é jogado em autoclaves, uma espécie de fornos, onde a temperatura pode chegar a 120° C. "Nenhum material biológico sobrevive a essa temperatura", garante Zanotto.
Notícia
O Imparcial (Presidente Prudente, SP)